O suntuoso edifício do Colégio Estadual é possivelmente o maior da América Latina |
O surto do progresso moral, material e cultural vivido pelo Estado do Paraná, atualmente, é vertiginoso. O vulto tomado pelo afluxo migratório que povoa as terras ubérrimas do oeste da serra de Apucarana e as glebas negras das antigas Missões tornam, sem dúvida, a “terra dos pinheirais” a nossa Canaã brasileira. Enquanto os pés de café de nosso Estado produzem geralmente durante 25 anos, no norte do Estado do Paraná, nas zonas das chamadas terras rochas, com essa idade, os cafezais têm, ainda, vitalidade robusta. Além disso, devemos considerar as produções sempre crescentes da madeira e do mate, duas colunas mestras, naturais da economia do Estado irmão. O Dr. J. E. Erichsen Pereira, diretor de “O Dia”, de Curitiba, em palestra aos jornalistas de São Paulo, alunos da Escola de Jornalismo da Fundação “Casper Líbero”, que foram ao Paraná a convite do governo daquele Estado, teve mesmo oportunidade de declarar que “o Paraná, dentro dos próximos 10 anos será o segundo Estado da União e concorrerá, depois, com São Paulo, no seu ritmo de produção e progresso.
O Ensino
No programa de realizações do atual governo, muitos são os educandários construídos. Já foram instaladas 480 classes de ensino rural, das 1.200 constantes do plano da Secretaria da Educação. Estão funcionando os cursos de aperfeiçoamento de professores e as 18 escolas normais regionais. A partir de 1950 nortear-se-ão as escolas primárias por novo programa de ensino, em virtude de ter sido considerado antiquado e ortodoxo o atual. O Instituto de Educação criou, no corrente ano, vários cursos de aperfeiçoamento, todos já com resultados práticos realizados. Foram abertos também 20 novos ginásios no interior do Estado. Além disso, o governo decretou recentemente a gratuidade do ensino no Paraná, num ato que repercutiu além fronteiras. O ensino público estadual tornou-se, portanto, inteiramente gratuito, em todas assuas modalidades, não podendo incidir sobre o mesmo selos, taxas, impostos ou emolumentos de qualquer natureza. Todas as escolas têm suas cooperativas, dirigidas por professores e alunos, onde os diversos materiais escolares podem ser adquiridos pelo preço de custo. Está assim o ensino no Estado do Paraná colocado em situação invejável perante os demais Estados da União.
O Colégio Estadual do Paraná
O Colégio Estadual do Paraná, a ser inaugurado em março deste ano, foi iniciado no governo Manoel Ribas e continuado pelo atual, tendo sido gastos até agora em sua construção 40 milhões de cruzeiros, além dos 3 milhões que já representam seu patrimônio em móveis. Sua localização é excelente, estando situado perto do Passeio Público, centro de Curitiba. O terreno mede 42.000 metros quadrados ocupando o prédio principal 19.200 metros quadrados. O ginásio anexo especial para educação física ocupa uma área de 1.800 metros quadrados. Esse colégio é considerado o maior em ia moderno da América do Sul. Nem mesmo o Instituto Normal da Bahia, construído no governo Juracy Magalhães, pode igualá-lo em tamanho e capacidade.
O prédio principal consta de quatro amplos pavimentos, uma casa de máquinas e um subterrâneo - a guerra obrigou tal construção - onde estão localizadas a cantina e as aulas de trabalhos manuais. O pavimento tem 48 salas de aulas para 35 alunos em cada sala; um teatro com 1050 lugares, três anfiteatros para 80 pessoas, dois laboratórios para 40 alunos cada, uma sala de ciências completa e outras salas menores. Além disso, a administração ocupa 40 salas e o serviço médico-sanitário tem instalações para quatro gabinetes.
A biblioteca, já formada, ocupa uma sala com 400 metros quadrados, com 10.000 livros. Na sua formação obedeceu-se o critério de serem adquiridos livros de cultura universal. Lá se encontram os “Anais do 1º Congresso de Língua Nacional Cantada”, organizados pelo saudoso Mário de Andrade e ofertados pela Prefeitura Municipal de S. Paulo. A discoteca, por seu turno, já tem uma coleção de 2.000 discos. Na mapoteca, inovação didática utilíssima, achando-se diferentes e instrutivos mapas de várias regiões do globo.
A sala de química é completa, com todos os requisitos modernos necessários ao estudo dessa matéria. Bicos de gás, de ar comprimido, de vácuo, água quente e fria, quarenta e poucos microscópios, etc. No salão nobre, tão majestoso quanto o de nossa Faculdade de Medicina e com capacidade para 450 pessoas, está o quadro famoso da fundação da cidade de Curitiba, feito por Teodoro Bona. Esse quadro portentoso, em exposição recentemente efetuada, ganhou medalha de ouro.
Fala-nos o Diretor
O diretor do Colégio, prof. Adriano Gustavo Robini, acompanhado do prof. E médico Dr. José Alexandre de Moura Negrini e do mestre de obras Humberto Machado, foi quem recebeu muito amavelmente os jornalistas membros do Centro Acadêmico “Casper Líbero”, mostrando-lhes em seus detalhes as obras do Colégio Estadual, já quase em seu término.
- “O Colégio Estadual do Paraná a ser inaugurado logo no ano próximo - disse-nos o prof. Rubini - terá capacidade para 6.000 alunos, e poderão ser ministradas aulas nos três turnos do dia. O atual colégio estadual, localizado em outra parte da cidade, comporta apenas 1.600 alunos. Aqui funcionarão os cursos primário, secundário e normal, sendo de notar-se que o ensino será inteiramente gratuito. O aluno não pagará nada. Mesmo os cadernos, lápis e outros objetos escolares ele poderá adquirir em cooperativa própria - que já possuímos. O colégio terá cerca de 80 professores.
- “E quanto à educação física?
- “Consideramos a educação física importante para os alunos. O ginásio coberto anexo tem todas as instalações necessárias para a prática de esportes, com sanitários e chuveiros de água quente e fria. A piscina, já em adiantada fase de construção será de 22x50 metros e as máquinas têm uma capacidade de tratamento de água de 3.600 litros. Além disso, no terreno que ainda nos sobre estão sendo feitos vários campos de bola ao cesto, vôlei e futebol. Aliás, não descuramos de nada. Como devem ter visto, os relógios elétricos nos corredores e dependências somam a 86, e o serviço de iluminação das salas é perfeito. Até os quadros negros, são verde-escuros... Nós pensamos, segundo os técnicos em educação, que toda a assistência deve ser prestada aos estudantes. O Colégio Estadual do Paraná não é exagerado nem luxuoso. Boa educação representa maior cultura e só desta poderão advir maiores empreendimentos e administradores capazes. Assim pensava o governador Manoel Ribas e assim age também o governador Moisés Lupion”.
Os alunos da Escola de Jornalismo “Casper Líbero” tiveram, da visita às obras do Colégio Estadual do Paraná magnífica impressão. Inegavelmente, o majestoso edifício descrito será um dos melhores do Brasil, dotado, como será, de modernas instalações escolares, amplo anfiteatro e laboratórios organizados com os requisitos da técnica moderna.
A GAZETA
7 de janeiro de 1.950