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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

UM HOMEM QUE O BRASIL ESTÁ CONHECENDO - IV


a carreira de Garcez: de professor a governador
a aspiração de Garcez: voltar a ser professor 

O SECRETÁRIO DE VIAÇÃO ESCOLHIDO POR SEUS MÉRITOS PARA GOVERNADOR SOBE AOS CAMPOS ELÍSIOS PARA HARMONIZAR E REALIZAR - ENSINO, ÁGUA, ESTRADAS E ESGOTOS - A COLIGAÇÃO INTERPARTIDÁRIA, UMA LIÇÃO DE BOM SENSO POLÍTICO 

As circunstâncias políticas levaram o Sr. Ademar de Barros, presidente do P.S.P. a voltar suas vistas para o Secretário de Viação do eu governo, o professor Lucas Nogueira Garcez, elemento apartidário e que vinha se conduzindo muito bem à frente de sua pasta, quando o PSP teve de escolher o candidato ao governo paulista. 

O único 
Lembra-se a propósito que Garcez era um secretário de Estado que não sofria ataques na Assembléia Legislativa durante sua gestão. A ação do futuro governador de S. Paulo à frente da pasta da Viação fez-se sentir logo de início com duas medidas importantes: primeira, a de fazer voltar todos os diretores anteriormente removidos para seus postos. Segunda, por em dia o pagamento dos funcionários da Secretaria. 

Campanha 
Lançada sua candidatura, Garcez realizou uma série de mais de uma centena de discursos na capital e nas cidades do interior, tendo sido eleito por sensível maioria de votos. Obteve 672.863 votos, contra Prestes Maia e Hugo Borghi. 

Duas Medidas 
Tomando posse no dia 31 de janeiro de1951, declarou que do secretariado que iria constituir fariam parte todos os partidos políticos. Visava assim a “pacificação da família paulista”. Quando se instalou a Assembléia Legislativa, pronunciou um discurso apelando para que todos os partidos colaborassem com seu governo. E foi assim que após inúmeros entendimentos formou a chamada Coligação Interpartidária, da qual participam todos os partidos políticos, à exceção da UDN e do PDC. De início dizia-se que a Coligação fracassaria, mas tal não aconteceu. Vieram as eleições municipais e a Coligação resistiu ao embate eleitoral. A propósito, lembra-se ter sido em virtude da Coligação Interpartidária que ao PSD, diante de conversações e amplos entendimentos com o governador Garcez, por intermédio do seu presidente Amaral Peixoto, coube a Secretaria de Agricultura ao Sr. João Pacheco e Chaves. Essa frente de partidos tem resistido até hoje e ainda há pouco, no caso da Prefeitura, deu nova demonstração de não se fragmentar, ao utilizar o esquema já empregado, lançando, por idéia de Garcez, a candidatura de Francisco Antonio Cardoso a prefeito de s. Paulo. 

Plano Quadrienal 
Querendo planificar sua ação, o ex-professor de hidráulica da Escola Politécnica, através dos departamentos técnicos das Secretarias de Estado, elaborou o que se chama de “Plano Quadrienal”. Consta que 40% do plano está em andamento após dois anos de governo, apesar das dificuldades encontradas. O Plano Quadrienal que apresenta sua maior importância pelo aspecto com que são encarados os problemas da viação e obras públicas, agricultura, saúde e educação, etc., tem também um caráter extra-estadual e é por causa disso que vêm sendo realizadas conferências sucessivas dos governadores de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas, Goiás e Mato Grosso. O Plano Quadrienal visa ainda a dar maior ajuda possível ao interior do Estado. No dizer do Sr. Garcez, desse fator resulta em boa parte o clima de paz e harmonia que atravessa o Estado, ou, segundo suas palavras, “crise de crescimento”. É certo que, pelas suas possibilidades econômicas, o Estado de São Paulo progrediria com um bom ou mau governo. Mas não se nega que, pondo em ordem as finanças dessa unidade da federação, o atual governo concorreu para essa atmosfera de prosperidade. 

Ensino 
Em discurso sobre o ensino - um dos pontos vitais de seu programa de governo - Garcez demonstrou a ampliação operada em 1951 e 1952. Em 1951, haviam no Estado 1.051 grupos escolares. Hoje são 1.281. No primeiro ano de governo existiam 5.885 escolas infantis. Hoje esse número subiu para 7.517. Em 1951, a população escolar dos grupos era de 478.797. Hoje é de 810.397 alunos. Em 1951, havia 20.309 professores primários e, hoje, 23.099. Para a instalação de escola de ensino profissional (escolas industriais, técnicas, agrícolas, etc.) foram empregados até o momento 25 milhões de cruzeiros. 

Água, estradas, esgotos 
No setor da viação, o Sr. Lucas Nogueira Garcez está procurando solucionar o problema de energia elétrica, onde há um déficit de um milhão de cavalos força. Neste sentido, estão sendo construídas diversas usinas no interior do Estado. Cuida-se ainda do prolongamento das estradas de ferro não só dentro do Estado, como fora, e exemplo disso são a Araraquarense e a Sorocabana, cujos trilhos irão até Mato Grosso e Goiás. Estende-se ainda a rede de rodovias e estradas de rodagem e em 1953 o Departamento de Estradas de Rodagem começou o ano com 1.500 quilômetros de estradas em construção, além de mais 700 quilômetros em pavimentação, segundo revelações do secretário da Viação, Sr. Nilo Amaral. 

Nada se pode prever 
Sobre as relações de Getulio e Garcez, acredita-se que sejam as mais perfeitas possíveis. Getulio tem visitado constantemente São Paulo e colaborado bastante com o governo do Estado. O atual presidente, ao que consta, já entregou 2 bilhões de cruzeiros para as obras do governo. Quanto à unidade de ação política entre Garcez e Ademar, tudo faz crer que não será quebrada. 

Entendimento 
Pensa o governador Garcez que o futuro presidente deve ser apresentado pelos partidos políticos através de um entendimento entre todos para que nenhum deles se fixe de modo irredutível sobre um determinado candidato. 

Revelação 
Tido como a maior revelação da política nacional destes últimos tempos, Garcez vem se conduzindo no governo de S. Paulo com grande autoridade. Destaca-se também pelo seu espírito de independência, que tem ficado cabalmente demonstrado. Sua aspiração é voltar à cátedra na Escola Politécnica. Como governador, Garcez (que completou 39 anos em dezembro último), engordou 12 quilos. Em julho de 1951, gozou um período deferias e emagreceu os mesmos 12 quilos. Continua morando na casa da Aclimação, levanta às 5 horas da manhã, como ainda no tempo em que não era governador, lê os jornais, estuda, toma café e às 8 já está chegando ao Palácio. Está sempre de bom humor, atende diariamente aos jornalistas às 10 horas da manhã, quando responde a todas as perguntas que lhe são formuladas, e tem um reloginho de pulso que de 10 em 10 minutos dá um sinal. Nunca se apertou quando aparecem personagens estranhos no Palácio: fala (além do português...) alemão, inglês, italiano, francês e espanhol. Gosta de “pizza” napolitana e não é exigente em matéria de cozinha. 

Não admite filhotismo
Um seu irmão está fazendo estágio no CPOR em Santos e por isso comenta-se que ele não admite filhotismo. Diz-se ainda que quando alguém afirma não gostar de Garcez, logo há um que responde pronto: “É um errado, não é garcezista”. TRIBUNA DA IMPRENSA - 9 DE JANEIRO DE 1953.

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