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sábado, 13 de agosto de 2016

O DINAMISMO DA REGIÃO CENTRAL

Nenhum outro lugar de São Paulo espelha com maior exatidão e fidelidade o dinamismo de nossa Capital do que o trecho compreendido entre as Praças do Correio e Antonio Prado. Ali naquela ladeira – desembocadouro das ruas mais movimentadas da cidade – depreende-se pode-se dizer, toda essa inata quão admirável energia paulistana. 

Principalmente à tardinha, uma sôfrega multidão superlota as calçadas, com as pessoas comprimindo-se entre si num afã quase pânico de andar mais depressa, de passarem umas à frente das outras; a agitação nessa hora é um misto de observar (às vezes, evitar) os sinais de trânsito ou de apanhar logo os bondes para os bairros. Por isso, toda aquela sofreguidão de andar mais depressa, de correr, de voar até, se isso possível fosse. Cada um tem um inadiável destino a cumprir. Até os mais calmos, sentindo-se envolvidos naquele turbilhão de pressa, também, se agigantam nos seus passos e então, adquiridos já dessa estranha “neurose dinâmica”, são outros mais a empurrar e correr. 

Os vendedores de bilhetes de loteria postando-se nos lugares-chaves da ladeira somente azucrinam a paciência dos pedestres com os febris “Hoje dá o macaco!” – “É o macaco para hoje” – “Olha o 18” – “É o último, o último”. Os pregões dos jornaleiros, por sua vez, se cruzam com os silvos estridentes das buzinas de carros neurastênicos e com os intermináveis apitos dos guardas de trânsito. 

Nos letreiros, os anúncios e reclames os mais variados cintilam em verdadeiras apoteoses de luzes e cores, desde este do “Homem que está passando 12 dias e 12noites se comer nem beber”, até aqueles dos fotógrafos que se propõe tirar e revelar “Fotografias em 5 minutos”. E as salsicharias, os bares e os cafés? Neles se pode observar, num mourejar contínuo, toda uma laboriosa e solícita hierarquia de empregado, dos esquálidos servidores dos cafés aos rotundos gerentes dos estabelecimentos. Sobretudo, há um restaurante tão mecanizado e rápido no seu sistema de servir que, nele, ao simples colocar de seus correspondentes valores, os pratos mais variados aparecem como por encanto. Em tudo há movimento, há agitação.

Em meio a tudo isso, as pessoas fazem-se notar por sua diversidade de tipos: junto às assanhadas mas humildes caixeirinhas ou às pálidas servidoras dos balcões, vão, todos circunspectos das suas regalias os “tubarões”, ou os senhores das sinecuras mais rendosas.Junto de um preocupado operário está um advogado aristocrata, perto do “oficce-boy”, o corretor. Naquele pedacinho de avenida, no entanto, às 18 horas, todas as castas, tradições e riquezas se nivelam, perante aquele ciclone da pressa e da preocupação. 

A ladeira São João é a Capital erguendo-se em seu dinamismo espetacular e formidável; e hoje ela bem representa, sem dúvida, essa insuperável fibra dos impolutos bandeirante de ontem. 

 A IMPRENSA – AGOSTO DE 1949

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