A inflação é alta, porém a conquista vai bem. Nosso rotundo ministro da Fazenda é um otimista histórico. Delfim Neto anuncia a inflação deste ano, quase igual a do ano passado: 24%. É alta, mas não é pessimista, nem encerra uma visão negativa da nossa economia. A inflação poderia ter caído, este ano, para 20% ou menos. Houve a crise profunda da doença do presidente Costa e Silva, com uma emissão de 300 milhões de cruzeiros novos. A crise está superada: Médici toma posse, Médici condecora Pelé, Médici visita Costa, Médici age satisfatoriamente no plano político e institucional. Delfim Neto: o Brasil dá mostras de uma pronta e completa recuperação econômica. Mas nem tudo são rosas, segundo as manchetes: desemprego preocupa a SUDENE no Nordeste, lavoura canavieira em crise em São Paulo, o trigo vai apodrecer no Sul, empresários temem recessão em Minas Gerais, comércio carioca asfixiado pelos impostos. Simonal tem uma nega chamada Tereza. A nêga-tereza brasileira é a inflação. Tem um xodó por ela. Vai ser nossa namorada muitos anos.
O diamante do Rei
Palácio dos Bandeirantes. Sodré festeja Pelé. Pelé apóia a campanha de Natal de Maria do Carmo Sodré. Entre 200 pessoas, o outro negro genial se aproxima de Pelé. Leônidas da Silva abraça afetuosamente Pelé. “Parabéns, Pelé. Parabéns”.
- Obrigado, Leônidas, obrigado, obrigado.
As metas do Rei
As três grandes metas de Pelé em 1970 são: vencer a Copa do México, ter mais um filho e ganhar metade do terreno da fabulosa mansão do presidente Athié, em Santos. “Kelly Cristina não pode morar em apartamento”.
Nem o próprio empresário Raimondini sabe desta última.
O subconsciente do Rei
Pelé depõe sobre o minuto seguinte do mil-gol:
- Beijei a bola que, no momento, eram as crianças do Brasil. Ia falar em minha mãe, ela fazia aniversário naquele dia. Mas saiu o apelo pelas crianças pobres do meu país. Foi espontâneo.
A política do Rei
Guardo uma mágoa de você, Pelé, o terceiro gol de sua carreira foi feito contra o Bagé, time da minha terra.
- Ora, presidente, se soubesse disso não teria marcado...
Pelé parou o trânsito em Brasília. Em todos os sentidos.
A piada do Rei
Pelé morreu e vai indo para o céu. Vai pensado: que bom parar com o futebol. Já estou farto dos mil gols, etc., etc. Pelé chega à porta do céu. Nisto vê S. Pedro, que chega correndo, esbaforido, vestido com a camisa de treinador:
- Pelé, entra depressa. Veste logo a camisa 10. Estamos perdendo dos diabos por três a zero.
TRIBUNA DE SANTOS - 30 de novembro de 1.968.
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