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domingo, 22 de novembro de 2020

Conversa aérea com Pelé

O “Boeing” da VASP procedente de Manaus faz uma linda evolução sobre o Recife e desce mansamente na cidade de Manuel Bandeira. Pelé, populares à volta, sempre, aguarda o avião, com a delegação derrotada do Santos F. Clube. Sentamos juntos. Até São Paulo, pudemos observar a personalidade dúctil, táctil, nem introvertida nem extrovertida, desse negro simpático de voz grave e rouquenha, o mais famoso brasileiro de todos os tempos. Educado, três vezes pediu licença à aeromoça para tirar duas balas a mais para seu filho. Firme, recusou sempre gim e uísque, mesmo fracos, ficando só no guaraná. Maneiroso, desculpou-se com o juiz Arnaldo Cesar Coelho de “broncas” que lhe deu em campo. Líder, brincou com a garotada do Santos, e “gozou” sempre o “velho” Ramos Delgado. Responsável, chamou a atenção para Antoninho de defesas e falhas técnicas que viu no time. Paciente, cedeu autógrafos e conversou com passageiros à sua roda,mesmo quando se via que Pelé estava zonzo. Na conversa a preocupação contínua com o futebol e com o seu time, e com a nova casa que constrói na Ponta da Praia. E, por último, o empresário Edson Arantes do Nascimento, querendo realizar as obras e incentivar o turismo de maneira notável em Santos. Dinheiro, Pelé tem. Aí entram algumas idéias nossas: Museu Pelé, tobogã aquático, lanchas turísticas, “bondinhos” ou monocabos aéreos entre a Ilha Porchat, o continente, a Ilha das Palmas e Monte Serrat. Mas, a essa altura, o avião chegava a São Paulo. E Pelé, ídolo ainda aos 30 anos, com 1.063 gols marcados, caía, de novo, nos braços e nos autógrafos de mil mocinhas que estavam em Congonhas. 

Receita do rei 
Por telefone, consultado, o famoso homeopata brasileiro Artur de Rezende Filho, receita para Pelé - o qual, após os jogos, fica rouco e sem voz, como estava no avião da crônica. - Pelé tem o que os americanos chamam de “clergyman’s throat”, a voz cansada dos pregadores protestantes. É fácil curar se ele tomar, todas as noites, alguns comprimidos de “Arun Trithyllum”. Em qualquer farmácia homeopática tem.

Obrigado do rei Quando Pelé viu nossas telas compradas no Ceará, do Chico da Silva, espichou um olho-gordo de fazer dó. Gostou das telas primitivas e escolheu uma - três peixes, bem coloridos, flamantes, exóticos. O bilhete de Pelé, de próprio punho, lembrança autêntica desse bom e casual amigo, revela o lado sensível da “fera”: “A bordo do “Boeing” da VASP. Caro amigo, Luiz Ernesto, o meu muito obrigado pelo belo quadro do famoso pintor primitivo Chico da Silva. Edson. Pelé, 6-12-70”. 

TRIBUNA DE SANTOS 
Santos, 13 de dezembro de 1970.

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