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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Aquelas freirinhas risonhas que batem na porta da gente

ENSINAM OS MANDAMENTOS COM A FOTO DO FLAMENGO
A característica das irmãs Paulinas é uma só: espírito tradicional, hábito modernos - Irmã Eugênia arregaça as mangas do hábito e troca o pneu furado de seu carro - Missão (cumprida): difundir a boa imprensa, o bom cinema e o bom rádio - “Votos perpétuos” desafiaram “Votos simples” para jogar bola - Vivem de vender revistas e editar bons livros. São Paulo (Sucursal, por LUIZ ERNESTO). 

O furgãozinho que irmã Eugênia guiava furou o pneu. Ela não fez caso. Desceu, arregaçou as mangas do hábito, tirou o macaco e pôs-se a trocar o pneu. O guarda civil não fez caso do lugar impróprio (a maioria dos guardas de São Paulo gosta de irmã Eugênia). Quando ela terminou, subiu ao volante, engatou uma primeira brava e saiu. Dali a minutos ela chegava à Penha, depois de passar pela Lapa, Brás e Mooca. E voltou cansada, mas alegre para a casa da Rua Domingos de Morais. Agora, não tinha mais que levar bons livros e jornais para grupos escolares e parques infantis. Ela tinha apenas de ensinas às noviças a filosofia de Santo Tomás e Maritain. 

MISSÃO 
Irmã Eugênia É irmã Paulina. Não é uma só. São muitas, quase oitenta no solarão (linhas romanas) no Paraíso. A característica das irmãs Paulinas é uma só: espírito tradicional, meios modernos. Ligeiras, sorridentes, leais, vestindo hábitos simples, têm uma missão: difundir a boa imprensa, o bom cinema, o bom rádio. O apostolado das irmãs Paulinas é esse só. E já basta. Por isso, irmã Eugênia guia carro. E ensina Santo Tomás. 

TRABALHO 
Todas elas trabalham, estudam e rezam. Irmã Regina toma conta da redação. Irmã Fátima, da parte técnica. E a irmã Maria Pia é encarregada da difusão. Na casa da Rua Domingos de Morais funciona um verdadeiro jornal, com seções e tudo. O trabalho é feito de manhã até a hora do almoço. Na oficina trabalham quase quarenta irmãs e aspirantes. Quatro sabem compor nas linotipos (duas) modernas. Outras paginam. Algumas tiram prova e fazem revisão. A irmã Lúcia é chefe de oficinas há 14 anos. Sabe distinguir, de longe, um tipo Kapel, dum Bravour ou dum grotesco. 

EDIÇÕES 
As Paulinas são conhecidas, em São Paulo. São aquelas irmãs risonhas que batem na porta da casa da gente. Geralmente para vender “O Jornalzinho”, ou “O Domingo”, ou “A Imprensa”. Mas às vezes também pedem um copo d’água. Andam muito. A ordem, no Brasil, foi fundada em 1932. Desde então tiraram (sozinhas) mais de 30 edições de livros. Média de 5 mil exemplares, cada. Jornais infantis, já perderam a conta. 

SUSTENTO 
Elas se sustentam assim: vendendo revistinhas, editando bons livros. Não têm de recorrer a coletas, nem a subscrições públicas, quermesses ou subvenções. Ganham na mão de obra, que é o trabalho de cada uma. E fazem coisas originais. Como a Bíblia editada em português (encadernação simples Cr$ 130,00). Ninguém editou uma Bíblia no Brasil. Só elas. Alguns livros saem mais: “O Amor e os cristãos”, de Pe. Desmarais; a “âncora sobre o abismo”, de Fulton Sheen; o “Poema à Virgem”, do Pe. José de Anchieta; os livros da coleção “Pensando em casar”; e as encíclicas de Pio X e Pio XII. Um livro de Delly foi vendido com sucesso. E alguns álbuns infantis cívicos ou religiosos.

NATURALIDADE
O repórter em visita a sua casa ficou surpreso. Não teve clausura pela frente. Pode ver tudo. Três irmãs redatoras lavando pratos na cozinha. A “motorista” lutando contra Marx. A irmã Maria da Glória, lendo filosofia, depois de compor duas horas em grifo. A irmã Janice, corada, na expedição. A irmã Beatriz, dirigindo a encadernação. A irmã Josefina, rezando e trabalhando junto ao altarzinho com rosas. E depois, todas jogando bola, com alegria e decididamente saudáveis (as de voto perpétuo ganhavam das de votos simples). A irmã Maria Imelda conta com ternura sua visita aos detentos na prisão de Piracicaba. Foi levar livros e a Bíblia, para os presos. Um deles tinha 19 mortes. Mas, “tanto conteúdo humano!” Ficou seu amigo.
 
SUCESSO 
As irmãs acham que “A Família Cristã” é o maior sucesso editorial da casa. A revista já anda pelo 22º ano e custa Cr$ 3. Tem uma tiragem garantida de 90 mil exemplares. O último número traz um autógrafo do Pe. Tiago Alberione. O Pe. Tiago foi quem fundou a Pia Sociedade Filhas de São Paulo (irmãs paulinas), em 1915,em Turim. Ainda vive e se corresponde com as casas espalhadas pelo mundo: Roma, Alba, Lion, Barcelona, Nova York, Manizales, Valparaiso, México, Buenos Aires, Lipa City Batangas e Tóquio. Agora, desde março, as Paulinas de São Paulo passaram a editar um mensário pedagógico-catequético: “Via Veritas et Vita”. Custa Cr$ 10 e vale a pena. A divulgação religiosa, nele, é bastante sutil. Basta dizer que a explicação do primeiro mandamento é ilustrado por bela estampa de um jogo do... Flamengo. As Paulinas são assim. 

TRIBUNA DA IMPRENSA Rio de Janeiro, 5-6 de Maio de 1956

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