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sábado, 15 de novembro de 2014

SOBRE OS “19 PINTORES”

A exposição dos “19 Pintores” foi realizado na Galeria Prestes Maia, em abril de 1947, sob o patrocínio da União Cultural Brasil – Estados Unidos. Sua organização ficou a cargo de Rosa Rosenthal Zuccolotto, colaboradora do programa cultural da União, dirigido pelo prof. Joseph Privitera. A idéia inicial era realizar apenas a exposição “Os novos de São Paulo”, já exibida no Rio, com trabalhos de Marcelo Grassmann, Sacilotto, Andreatini e Otávio Araújo. Mas, a idéia se ampliou, estimulada por Sergio Milliet, Maria Eugênia Franco e Bonadei, este indicando vários jovens para a mostra em São Paulo. Daí nasceu a exposição dos “19”, ao invés dos “4” iniciais, já bem sucedidos no Rio. 

Integraram a mostra: Aldemir Martins, Antônio Augusto Marx, Cláudio Abramo, Enrico Camerini, Eva Liublich, Flávio Ciro Tanaka, Huguete Israel, Jorge Mori, Lothar Charoux, Luiz Andreatini, Marcelo Grassmann, Maria Helena Milliet Fonseca Rodrigues, Mario Gruber Correia, Maria Leontina Franco, Odetto Guersoni, Otávio Araújo, Raul Miller Pereira da Costa e Wanda Godoy Moreira. 

Um total de Cr$ 15.000,00 (quinze mil cruzeiros) foi concedido por Geremia Lunardelli para prêmios aos melhores trabalhos apresentados. Fizeram parte da Comissão Julgadora, a convite da UCBEU, os pintores Lasar Segall, Anita Malfati e Di Cavalcanti, que assim atribuíram os prêmios: 1º prêmio (Cr$ 5.000,00): Mario Gruber; 2º premio (Cr$ 3.000,00): Maria Leontina; 3º premio (Cr$ 2.500,00): Aldemir Martins. 4º prêmio (Cr$ 2.000,00): Flávio Ciro Tanaka. Prêmio único de desenho (Cr$ 2.500,00): Cláudio Abramo. Do catálogo constaram reproduções de auto-retratos (desenho) dos artistas expositores e uma apresentação do crítico Geraldo Ferraz. O desenho da capa – “19 Pintores”, teria sido de Camerini. Fizeram conferências no local da exposição os críticos Sérgio Milliet, Lourival Gomes Machado, Luiz Martins e Osório César. Lasar Segall e Di Cavalcanti foram os que mais calorosamente participaram dos debates. 

O “Diário da Noite” promoveu um inquérito, de Quirino da Silva, sobre a iniciativa entre artistas de renome no cenário das artes plásticas se São Paulo. Depuseram Flávio de Carvalho, Aldo Bonadei e Clóvis Graciano, todos enaltecendo o sentido cultural da mostra dos “novos”. Odetto Gersoini redigiu 8 páginas, à mão, sobre a exposição, “Notas de meu diário”, que serve de roteiro geral sobre a mostra dos “19 Pintores”. 
De 12 de novembro a 6 de dezembro de 1968, foi realizada uma retrospectiva didática dos “19”, na Tema Galeria de Arte, promovida por Fernando Silva e sob os auspícios do Instituto de Idiomas Yázigi. O Catálogo reproduziu a apresentação de Geraldo Ferraz e inseriu textos de Reinaldo Beirão, de elogios à geração dos anos 40, aos artistas e à iniciativa. 

A terceira exposição dos “19” foi realizada de agosto a setembro de 1978, no Museu de Arte Moderna, comemorando os 30 anos da 1ª exposição. Coordenou a mostra, um dos “19”, Maria Helena Milliet Fonseca Rodrigues, com supervisão e montagem de Diná Lopes Coelho. O catálogo reproduz as palavras de apresentação de Geraldo Ferraz e os auto-retratos do catálogo original de 47, publica um estudo crítico de Jacob Klintowstz, reproduzindo ainda a cores trabalhos atuais – até 1978 – dos integrantes dos “19”. Folha de S. Paulo 18 de maio de 1980. 

 ANOTAÇÕES PARA UM ESTUDO CRÍTICO 

Nem tanto ao mar, nem tanto a terra. O grupo, movimento, ou, simples exposição dos “19 Pintores”, realizada 3 vezes em 1947, 1968 e 1978, simplesmente deixou de ser estudado e pesquisado profundamente. 

Daí, não ter sido medida, até hoje, sua importância artística, sócio-cultural, ou, até, histórica dentro dos eventos que se destacaram e causaram repercussões em nossa arte desde os anos 40. Faltou até agora aos “19 Pintores”, por motivos que não cabe aqui esmiuçar, o talento pesquisador e crítico de uma Aracy Amaral, que estudou até a exaustão, por exemplo, a Semana de Arte Moderna de 22, ou de uma Daisy Picininni, citada por seu exemplar trabalho sobre o Grupo Seibi, ou, ainda, de uma Lisbeth Gonçalves, com sua criteriosa e bem elaborada tese sobre o Grupo Santa Helena. 

É preciso olhar a exposição dos então “jovens cheios de esperanças e expectativas” como os chamou Geraldo Ferraz em 1947, dentro da realidade social, política e cultural da época. O Brasil tinha ganho, ao lado dos aliados, a segunda grande guerra, havia uma grande euforia e otimismo nacional, a geração de 45 despontava na literatura e na poesia, e, nas artes... Nada acontecia com a mesma repercussão. A exposição dos jovens “da lira dos 20 anos” foi, assim, resposta e integração dos 19 artistas ao meio cultural e às idéias que surgiam com impacto, servindo como “viva ativação artística e nossa integração com a nossa geração”, segundo Marcelo Grassmann. No mesmo sentido pronunciou-se Antônio Augusto Marx, que ainda assinalou terem os “19”, além da preocupação com a participação no movimento cultural da época, se preocupado com a participação no movimento cultural da época, se preocupado “em refazer o caminho trilhado pela arte moderna desde 22, sem cerebralismo, talvez intuitivamente, refazendo o rumo desse movimento”, permitindo “uma grande abertura de nossas fronteiras e a visão total de nossas artes”. 

Otávio Araújo nos disse que os “19” tiveram a preocupação de fazer uma arte nacional, ligando-se, por exemplo, a Mario de Andrade, que alguns, muitas vezes, visitavam em sua casa na Barra Funda. Sem dúvida, a maioria se apegava ao expressionismo alemão, pelas leituras que faziam na Biblioteca Municipal, onde Sergio Milliet e Maria Eugênia Franco, dois dos incentivadores da exposição “os recebiam de braços abertos”. Andreatini, mais velho, também era adepto do expressionismo, levando muitos jovens a conhecer obras dobre Max Beckman, Schimidt, Rotluff, Kirschner e outros. E, se, dúvida, a admiração por Segall era, à época, muito grande entre os jovens expositores. 

Mas, outras influências recebiam muitos dos 19. Uns, eram autodidatas, como Aldemir Martins, recém-chegado do Ceará e vivendo em casa de Paulo Emílio Salles Gomes. Outros, como Charoux, alunos do Liceu de Artes e Ofícios. Flávio Tanaka era do grupo que estudava na Escola Profissional do Brás. Maria Leontiona era aluna de Waldemar da Costa, e Camerini, de Bonadei. Bonadei também indicou Gruber, que morava em Santos. Cláudio Abramo chegava do ambiente intelectual e Otávio Araújo, como outros, fazia “roda” na Biblioteca Municipal. Odetto Guersoni acha que os “19 Pintores” têm importância histórica em nossa arte, afirmação reafirmada por Luiz Saccilotto. 

Os jovens artistas não tinham onde expor, pois não havia galerias de arte à época, criadas, contudo, a partir da exposição dos "19”, que cresceu em valores individuais e junto a outros grupos – por exemplo, com os artistas do Santa Helena, que todos respeitavam – resultou seguidamente em fatos como a criação do “Clubinho”, do Salão Paulista de Arte Moderna, na fundação do Museu de Arte Moderna, ao final dos anos 40. 
Folha de São Paulo. 18 de maio de 1980.

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