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sábado, 15 de novembro de 2014

WESLEY, o mito premiado


Paulistano, 45 anos, um parentesco vago com o general Lee, o da Guerra da Secessão dos Estados Unidos, estudante de desenho livre no MASP, em 1950, partícipe do 1º Salão de Arte Moderna de São Paulo, 1952, estudos, nesse ano, de Artes Gráficas, em Nova York, poeta estreante em 1955, com o livro de poemas “Sopro d’Alma”, trabalhos e influências de Platner, desenhista de publicidade, diretor de arte, cineasta semi-profissional, professor da FAU do Mackenzie, expositor em individuais e coletivas, aqui, na França, no Japão e Estados Unidos - países onde morou algum tempo - um dos proprietários da Rex, dono de galeria de molduras, artista de vanguarda e de muitos prosélitos, membro da Comissão de Artes Plásticas da Secretaria de Cultura, surpreendente, imaginoso, lúcido e irônico - eis Wesley Duke Lee 76, depois de 6 anos, agora expositor na galeria de sua mulher, Luisa Strina. Ali está na galeria onde se sobe por estreita escada, e que lembra, com seus compartimentos e colorido,um restaurante chinês, a sua exposição “As sombra/ações”, do realista mágico Wesley - dito Arkadin d’y Saint Amèr - que consta de 13 pinturas, 3 colagens e 3 livros de poesias e chistes. 

O catálogo da mostra já é uma peça rica e ilustrativa do artista poliédrico, com suas ilustrações à la Juca e Chico (“Max und Moritz” alemão), as faturas poéticas de Mestre Arkadin, com seu Aviso ao Leitor, Perfil em Sépia, Gazuas e Chavões, Cataplasma, As formas sempre se repetem a Essência não e outras maquinações wesleianas, inclusive a semeadura problemática e arguta das Investigações na Memória e Três Diários de Bordo, O Cavalo, A Borboleta, Beladona, Eros e Psique, Raio X, O Beijo, Meu Amigo Fritz Perls, Nike atando sua sandália, A abelha e outros (todos nomes de seus quadros). Quadros, aliás, todos vendidos, e bem vendidos, inclusive com uma tela reservada para a Pinacoteca do Estado. 

Com seu colete e seu charuto, seu ar de semeador e de fantasma, sua hérnia maldita, Wesley pára por um momento, esse artista de vanguarda que gosta de conferir, e ser pensante que gosta de dialogar e contestar. Pois, nele, o artista e o homem se fundem, num mito premiado, num ser vivente que carrega uma problemática de opostos, da emoção e da criação, dos instintos de Eros e Tanatos, vida, amor e morte. 

Uma visão global de Jung 

LEK - Porque volta a expor depois de seis anos? E seu protesto contra as galerias? 
WDL - Essa pergunta me está sendo feita tantas vezes que estou um tanto perplexo. O desenvolvimento de um artista não é marcado por exposições anuais. Cada um tem o seu ritmo de desenvolvimento que se dá de tempos em tempos (não se têm idéias novas todos os dias). O meu ritmo particular se manifesta a cada quatro/cinco anos. Este negócio de expor toda hora é coisa de mercado, não confundir com arte. Quanto às Galerias, desde que elas se “responsabilizem” com o artista corretamente, eu não tenho nada contra. O protesto que fiz foi a um acontecimento específico, que já se corrigiu.

LEK - Como o público e a crítica receberam sua atual mostra? E mais, como você viu seu antigo público? 
WDL - Deram-me uma recepção maravilhosa sobre todos os pontos de vista, culminando com o prêmio da A.P.C.A. de melhor pintor do ano. Não estou podendo desejar mais nada, a não ser voltar para o trabalho.

LEK - A sua pintura tem relações com o realismo tão em moda? O que pretende dizer com os barbantes?
WDL - Não acredito que tenha relações com os realismos atuais, o meu que já vai ficando antigo, é o Mágico, que tem como origem um movimento que se deu na Itália por volta de 1914, que, em seguida produziu a Pintura Metafísica. Daí pra frente, vivendo num outro contexto, ou seja, São Paulo, Brasil, venho desenvolvendo um, em particular, o Realismo Mágico. O público em geral precisa começar a “acreditar” que o artista não fica em seu ateliê inventando arapucas ou gozações. Até onde eu sei, as idéias das pinturas são sempre coisas simples, o que está vendo mesmo. Uma vez visto, começa o processo associativo do “observador” que leva aquelas relações para onde quiser e puder. O que ele não pode esquecer é que a responsabilidade é dele, observador, que ficará cada vez mais rica na medida em que ele exercitar a “Arte de Ver”. Então num quadro o “barbante” é um fio de prumo, num outro é amarra, quando está pendurado com pontas esfiapadas é libertação. Simples, não é? A pintura é também uma linguagem e a apreciação é uma leitura. 

LEK - Poderíamos chamar seus trabalhos de um neo Art Nouveau? Por que utiliza senhoras da Sociedade como modelos? 
WDL - Esta pergunta pode chegar até a irritar, porque ela é safada. Reflete primeiro, total desconhecimento da minha obra. Ela não pode ser chamada de “neo art nouveau” porque isto não existe. Segundo, tenho pintado quadros que também são retratos de pessoas que fazem parte do meu círculo de amigos, que é grande e muito variado. As que acidentalmente são de sociedade parecem que hipnotizam a atenção. Agora é o artista que faz uma pergunta. Por que é que isto preocupa mais que o resto da obra? Par o mundo da expressão representam simplesmente indivíduos. 

LEK - Como você vê a arte brasileira atual? 
WDL - Em gestação. LEK - Esta exposição tem algo ligado a Jung? WDL - Ufa! Finalmente uma pergunta que dá prazer de responder. Agora estamos a falar do que interessa. Tem e muito. O espírito Jung vem se apossando de minha vida e naturalmente se reflete nas minhas ações. Sinto que seu pensamento reflete uma unidade meio perdida contemporaneamente que seria o re-casamento do pensamento científico com o “mágico”. A grande disponibilidade lhe permitiu investigar todas as manifestações humanas, sem preconceito, aspirando a “Visão Global”

Folha de São Paulo, 26 de dezembro de 1976



Wesley Duke Lee nasceu em São Paulo em 1931. Foi pioneiro na incorporação da linguagem pop às artes visuais. Artista de múltiplas atividades, foi desenhista, gravador, artista gráfico, publicitário e professor. Morreu em São Paulo em 2010.

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