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sábado, 6 de dezembro de 2014

TOZZI: DO POP AO CONCEITUAL


Cláudio Tozzi é paulista de 1944. Arquiteto formado pela FAU-USP, nunca exerceu a arquitetura. Na verdade a FAU foi para Tozzi um trampolim para se projetar no mundo das artes, aliás, uma verdadeira escola de arte, onde a linguagem visual foi o seu grande interesse. 
Nos seus 30 anos, Cláudio Tozzi é um tímido. Porém, objetivo no que pretende. Arrojado na sua arte. Avançado no seu tempo. Fala pouco mas trabalha muito,ininterruptamente,produzindo considerável volume de obras, geradas por uma criatividade singular, fértil e ampla. 
Visivelmente influenciado pelo “pop” norte-americano, Tozzi evoluiu para o conceitual. Faz arte séria sem concessões, sabendo de antemão que seu trabalho é de aceitação difícil pela superação do tempo, de venda problemática pelo “diferente”. O que produz foge dos cânones convencionados de arte. Estabelecidos e arraigados durante séculos. 
Tozzi é um trator que abre uma transamazônica na selva dos tabus e preconceitos, procurando mostrar que, à sombra das grandes árvores, dos velhos troncos que derruba, há uma terra fértil e inexplorada, escondida pelas copas que apenas são vistas, escondendo tudo o mais por baixo. 
Claudio Tozzi - disse Cesar Giobbi - foi até agora o mais pop dos artistas brasileiros, mostrando uma surpreendente evolução em sua obra - “seus trabalhos passaram a ser conceituais, embora muitos deles ainda conservem algumas características de pop-art”. 
Perguntamos a Cláudio Tozzi qual foi a importância da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo em sua obra. A resposta foi clara e objetiva: “A pintura sempre foi para mim a manifestação mais extemporânea da linguagem. Fiz o curso de arquitetura com interesse específico pela comunicação visual, que, dentro da faculdade, proporcionou um desenvolvimento mais amplo da linguagem visual e mais especificamente da pintura. Considero também o espaço um fato comum à arquitetura e à pintura, pois exige uma ligação bastante estreita entre ambas, se pensarmos que se preocupam com o tratamento do espaço. Uma cuidando do espaço físico onde vive o homem, e, outra cuidando do espaço visual onde o homem se projeta”. 
- Então a tela é o limite da arte? 
“É claro - completa Tozzi - não devemos restringir a pintura à dimensão física da tela, pois a pintura pode usar como suporte, a cidade, a edificação, o objeto, o corpo, a mente ou mesmo a película de cinema”.
- E qual, então, a grande preocupação da sua arte? 
“No meu trabalho sempre existiu uma preocupação com a comunicação da imagem, ligada às contradições do cotidiano da cidade, das classes sociais, das pessoas, dos mitos, dos heróis, enfim, de todo o repertório de comunicação de massas. E nada mais espontâneo do que utilizar um tratamento visual análogo aos usados nos meios de comunicação para desmistificar ou inverter a mensagem neles contidas”.
“Então a arte não deve se limitar às quatro paredes do atelier precisa ir para a rua, não esperar que o público venha a ela, mas ela ir a ele?” Tozzi concorda que tal linguagem não deveria estar restrita ao papel ou tela do ateliê, mas, aos grandes painéis em praças ou espaços da cidade, que seriam preenchidos por tratamentos visuais adequados, tornando a cidade mais agradável, pelo menos aos olhos. 
“Assim, fala Tozzi, na minha pintura surgem temas populares, onde o processo de trabalho é bastante semelhante ao de um jornalista que pesquisa dados e codifica a mensagem final”. 
- Cronologicamente, como se desenvolveu a sua pintura? “Em 1965 e 66 realizei uma série de trabalhos tendo como tema a guerra do Vietnã. Nesses trabalhos eram usados como técnica, colagem de figuras apropriadas de revistas e jornais, fixadas no suporte com poliuretano, massas sintéticas, com palavras gravadas em relevo, objetos colados e tintas acrílicas sobre madeira. 
“Em 1967 fiz a série “bandido da luz vermelha”, seqüenciada de trabalhos com a mesma linguagem da história em quadrinhos (Tifany Yones) onde a narração do personagem era definida pelo texto. A mudança de escala do micro-quadro da história em quadrinho para a ampliação da pintura no suporte causava um impacto, reforçando a objetividade da comunicação. Parte dessa série tinha uma lâmpada com luz vermelha presa ao suporte, que acendia e apagava intermitentemente. 
“A fase de 1968 caracterizou-se pela preocupação com sentimentos, aspirações e vibrações coletivas”. 
Tozzi se refere à série “multidões”, painéis de grandes dimensões medindo de 2 a 6 metros, apenas em branco e preto. “Pintura - esclarece o artista - que reduzia a figura à sua forma mais simples à semelhança do alto-contraste em fotografia e aproximando o mais possível da escala natural do homem, de tal forma, que o aspecto se funde com a imagem da tela”. Os tremas desta série de Cláudio Tozzi foram os festivais de música popular, as passeatas estudantis, as torcidas de futebol, as multidões em geral. 
Em 1969 Tozzi adotou o astronauta como tema e explorou o assunto de todos os ângulos. “O tratamento gráfico dos quadros reflete a lentidão e leveza com que o homem andava na Lua. A técnica usada foi o epóxi, duco e esmaltes sintéticos aplicados com compressor e pincel sobre madeira. Fiz uma coleção de quase tudo publicado em jornais is revistas e no ateliê trabalhei as imagens, elaborando a série formada de astronautas em viagem, se alimentando, detalhes da Lua, foguetes”. 
“O ano de 1970 foi bastante variado”. Claudio Tozzi resume sua obra neste período: “trabalhos da série futebol, série de bichos (zebras, leões, cachorros e vacas) e a série de homens fugindo de si mesmos”. 
A fase dos parafusos talvez tenha sido a fase mais marcante do artista, pelo tempo que demorou - dois anos, de 1971 a 1972 - e pela leveza e graça intrínsecas, escondidas para os menos avisados, pela frieza da peça enfocada. O parafuso por si só pouco diz à primeira vista. Mas sua rosca, suas voltas são passos de dança. Esta série de Tozzi é uma verdadeira coreografia ante os olhos do espectador. Um aspecto que entra em choque com o que o próprio artista propôs: “o parafuso representa a torção, a pressão que o homem sofre na sociedade contemporânea”. De outro lado Tozzi concorda ao dizer que quando trabalha com efeitos de luz, sombra, retículas e cores, um objeto de uso técnico, como o parafuso, pode se transformar num elemento de grande força visual. 
Cláudio Tozzi em 1973, fez uma exposição onde apresentou suas telas mostrando multidões e caixas de acrílico onde colocou terra, grama seca, algodão com manchas de cor, que exprimem o conceito da obra. Giobbi na época disse que o artista redimiu a Bienal, mostra internacional que acontecia ao mesmo tempo em que a exposição de Tozzi, “Para os que estiveram decepcionados com o que viram na Bienal no pavilhão do Brasil, é importante ir à Galeria Ralph Camargo e ver a excelente exposição de Cláudio Tozzi - disse Giobbi: “Ele faz a gente acreditar na força e qualidade da arte brasileira”. “Meus trabalhos atuais, em fase de pesquisa, alguns expostos no Salão Paulista de Arte Contemporânea deste ano, são a série “dissociação de cores”. Parte de um conceito - a cor pura e sua dissociação. A cor é registrada em forma geométrica e sua dissociação, até se tornar pigmento, em pequenos pontos que se misturam e se superpõem. A estrutura do quadro - finaliza Tozzi - é em geral geométrica, situando numa área a cor pura, sequência de quadrados coloridos e noutra a sua dissociação. Pontos e tramas que lembram a retícula aberta do out-door, Conclui. 
 Folha de São Paulo - Artes Visuais 5 de janeiro de 1975. 

COR/PIGMENTO/LUZ 
Após ganhar o prêmio Cidade de Jundiaí, no IV Encontro Jundiaiense de Arte, Claudio Tozzi inaugurou individual rotulada de cor/pigmento/luz, com 25 pinturas em tinta acrílica e óleo sobre tela, datadas de 1974 e 1975. 
“Os trabalhos expostos nesta mostra - disse Tozzi - são o conceito de cor pura e sua dissociação. A cor apresenta-se na natureza em forma de luz (energia) e de pigmento (matéria), sendo a cor natural um sistema de energia e/ou matéria. E todo sistema possui sua linguagem - afirma Tozzi - que, para atingir a comunicação, se transforma em perceptivo visual Esse processo transforma o conceito em mensagem visual e cromático: cor/pigmento/luz. 
“Na pintura a mensagem é colocada de uma forma bastante didática: as cores em seu estado natural são apresentadas em sequência de quadrados, onde cada quadrado é uma cor. Noutra área do quadro, após a transformação das cores, que em geral é figurada por um triângulo colorido, a cor surge através de superposição de pequenos pontos que resultam em novas cores por transferência e variação de tons da mesma cor. A cor novamente se transforma em matéria e algumas áreas do quadro são pigmentos puros, a cor/matéria saindo diretamente do tubo e colocada em relevo sobre a tela”. 
Como classificar a fase atual de Cláudio Tozzi? Não seria apenas abstrato, concreto, geométrico. Apresentando sempre trabalhos de vanguarda a cada nova mostra o impressionismo, o cubismo e o concretismo estão ali. Inclusive o figurativo velado que sugere planos de construção, plantas e cortes de uma obra quase irreal.

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