– Os pintores “naifs” não abrem nem encerram um ciclo novo, são a própria permanência do homem diante do seu mundo e da natureza, na recordação do Éden transposta para a cor e a forma;;; Os nossos primitivos verdadeiros, quer se perceba ou não, são personalidades sensitivas excepcionais, que expressam nas telas seu mundo interior não poluído, ferido, onírico, alucinante, suas recordações da infância, povoadas de magias poéticas e de purezas inocentes... Falo, claro, dos ingênuos autênticos, com sua vocação natural pura, que fazem essa arte maravilhosa que inauguramos no Museu do Sol, chia de luz, calor, cores e, acima de tudo, de amor.
Iracema Arditi esta realizando seu antigo sonho. Reuniu mais de 100 telas de primitivos e ingênuos de sua coleção particular, no Museu do Sol, alugado para tal, e reformando, uma velha fábrica de bonecas junto à sua casa, na Vila Clementino. A coleção, inclusive as telas de primitivos estrangeiros, não tem preço. As obras furam custeadas pela arte da própria Iracema, “naif” brasileira com alta cotação na Europa, principalmente na França. Ela esta agradecendo a ajuda que teve, destacando – como colocou no catálogo colorido – os nomes de Michel Weber, Pedro Luiz Toledo Piza, Centro de Artes Novo Mundo e Zilda Vergueiro Empreiteira de Obras.
– O nome Museu do Sol já diz tudo – sol, terra, luz, calor, primavera, cor, mas tem também um sentido simbólico: o de tirar os artistas primitivos da penumbra em que se encontram, quase desconhecidos do grande público... A arte primitiva é pouco conhecida e divulgada na Brasil, são raras as galerias que fazem exposições desses artistas populares... A própria Bienal cancelou há algum tempo a sala dos primitivos, enquanto os salões oficiais poucas vezes convidam os primitivos para mostrar suas obras... Aqui os primitivos que não fazem arte “decoração”, os que não imitam, os que não são meros borradores de tintas, terão a sua vez, sempre... E os novos também, vamos abrir uma Sala das Descobertas, para incentivar e ajudar os novos valores.
Vai informando que em maio o Museu do Sol apresentará sua primeira exposição individual, do artista pernambucano radicado em São Paulo, Ivonaldo. O museu pode-se transformar em instituto oficial se o governo estadual decidir encampá-lo. Iracema acha mesmo que o acervo ali colocado, o segundo do mundo, o primeiro da América Latina, pertence à arte e à cultura brasileira.
“Nosso Museu do Sol só perde em número de obras, para o Museu de Laval, na França, terra de Henri Rousseau, criador e mestre da arte primitivista”. Nesse Museu estão cerca de 30 telas de primitivos brasileiros, doadas por ela, numa “sala especial que se equipara à dos próprios primitivos franceses e europeus”.
– A idéia do museu não é nova. Surgiu quando vi que não podia pintar mais, tantas pessoas me procuravam em casa, para ver a coleção de primitivos, iniciada há16 anos... Senti também que deveria reunir os bons primitivos, para evitar sua migração para o exterior... O gênero primitivo, repito, vem sendo pouco compreendido em nosso país, até campanhas contrárias aparecem, de pessoas que dizem que o primitivo é um exótico, um marginal, um louco... A vida particular doa artista, pouco importa, o que vale é o seu trabalho... Igualmente a sua condição financeira, o seu “status” cultural, a sua posição na sociedade... A arte primitiva, quando boa, séria, autêntica, bem executada, é reconhecida em todo o mundo... Por que não haveria ela de ser também apreciada no Brasil, terra tão rica de bons valores primitivos?
Ela está ao lado do representante do governador Natel, autoridades e artistas, críticos, jornalistas, seu marido Gui Arditi, diretor da “France Press” e da filha Marina, de 13 anos. Chega Jean Pierre Bouvet, conservador do Museu de Arte Primitiva de Laval, é o convidado da noite, para ele se voltam as atenções. O jovem crítico está há alguns dias em São Paulo, esteve no Embu (não gostou) e na Praça da República (viu bons primitivos, mas o comércio alucinado está prejudicando o movimento dos pintores). Gosta dos primitivos brasileiros e acha que o Brasil tem todas as condições – terra tropical, diversidades regionais, características típicas, folclore, etc., para abrigar uma leva maior de grandes primitivos. Elogia Iracema Arditi por criar o Museu do Sol e destaca a alta qualidade de alguns pintores expostos.
– A arte ingênua (“naif”) encontra agora o seu lugar entre as várias tendências reconhecidas, mas isso não é o mais importante; o que conta é o seu reconhecimento e as possibilidades que lhe estão sendo oferecidas nos últimos tempos de se expressar plenamente, isto é, viver. Deve-se felicitar e agradecer a Iracema pela sua dedicação a essa causa e a uma arte que ela conhece tão bem. Nesse Museu do Sol, os pintores e os criadores descobrirão a riqueza do encontroe a expressão do que procuram ou oferecem de mais verdadeiro... “Pintura naive, pintura popular”, a arte naive não é a arte popular; suas motivações e sua função são bem diversas e outra a utilização. Mas é gerada v desse tronco, utiliza frequentemente suas técnicas, seus temas e às vezes explora inconscientemente as suas nostalgias. É assim especialmente interessante que a arte popular esteja representada neste Museu, tanto no seu passado próximo ou remoto como nas suas manifestações presentes. Ela é o suporte humano da arte naive; sua ruptura, até é um exemplo dos contatos entre as civilizações e dos atritos entre os mundos históricos.
Bouvet está cercado de primitivos por todos os lados. Isabel de Jesus, mineira, trabalhou na casa de Iracema, agora é enfermeira prática, acaba de chegar de Paris, onde expôs, com total sucesso, na Galerie Séraphine. Waldomiro de Deus, baiano de barbicha e chistoso, regressou da França, Itália e Israel, onde expôs em Tel-Aviv e Jerusalém. Seu sucesso foi tão notável que Moshe Dayan pediu-lhe um retrato, eu Waldomiro fez – e faturou bem. Ivonaldo, de longa barba, está aprendendo inglês, vai expor nos Estados Unidos e Europa. Crisaldo Moraes, também pernambucano, nora em São Paulo, trabalha na VARIG, parte hoje para a Alemanha, Itália e França, expondo em vários lugares seus anjos esvoaçantes. E Paulo Wladimir, potiguar, também formando entre nossos melhores primitivos, também se prepara para o roteiro europeu. Iracema e Bouvet estimulam a todos. Alguém fala que Waltraud já está na Europa, com mostras bem sucedidas e a Profª. Sofia Tassinari, da Azulão, também levou primitivos ao exterior, tudo foi bem, diz. Carlos von Schimdt fala do sucesso que alcançou sua galeria, “A primitiva”, quando exportou pioneiramente primitivos para a Salford University, da Inglaterra, e a New York University, dos Estados Unidos. Chega-se à roda Henrique Araújo, da Câmara Americana de Comércio, enfatizando a boa acolhida da coleção de primitivos brasileiros (29 ao todo, com Newton de Andrade á frente) que a Pocket Gallery, da Câmara, enviou Universidade da Flórida e Califórnia.E Tito Silveira, jornalista e empresário, tocando agora a Galeria da KLM, está eufórico com a mostra que promove das telas alucinantes e fantásticas do índio acreano-cearense Chico da Silva. Elas alcançam nos Estados Unidos a Europa, diz, um bom preço. Bouvet volta a falar:
– No Brasil, como, aliás, em outros países, a arte naive é bem menos cotada do que na França, por exemplo. Nisso reside a sua riqueza e o interesse de uma concentração dessa espécie: as várias a possibilidades de que ela oferece à pesquisa do homem e ao sonho da vida. O pintor é mais propenso do que qualquer um a entender a necessidade de um tal encontro e de intenções e formas e mesmo a provoca-la. Ele vive esses problemas de um outro modo do que com palavras. O trabalho pictórico de Iracema, como também seu sentido de amizade, só podia encaminhá-la a abrir as portas desta casa aos pintores... O Museu do Sol não é apenas a casa dos pintores. Ele é também o museu de todos aqueles que sonham e entalham a madeira com um canivete ou tecem e fazem do objeto um suporte de beleza a serviço da vida... Por vários aspectos a nossa época parece sombria, a arte lhe traz por demais vezes a evidência de fracassos, pesquisa desesperada, ícones de derrotas. Precisa-se mais do que nunca de um Museu do Sol e sua criação evoca um gesto de fraternidade que o seu irmão primogênito, o Museu Henri Rousseau, de Laval, saúda com alegria.
O Museu do Sol está feericamente iluminado, suas salas, a brasileira e a estrangeira, apinhadas de gente. O calor é grande – o Museu do Sol ocupado, Europa ganha – os primitivos tomam uísque, o blábláblá prossegue madrugada adentro. Iracema está também feérica, alucinada, feliz. O Museu do Sol está, afinal, inaugurado, com suas telas de primitivos daqui e de fora, esculturas populares, tapeçarias, as portas entalhadas de Juçara, telhas de madeira e peças de cerâmica. Abre ao público todos os dias, das 15 às 19 horas, menos às segundas. Como todo bom museu que se preze e louve.
– A arte ingênua (“naif”) encontra agora o seu lugar entre as várias tendências reconhecidas, mas isso não é o mais importante; o que conta é o seu reconhecimento e as possibilidades que lhe estão sendo oferecidas nos últimos tempos de se expressar plenamente, isto é, viver. Deve-se felicitar e agradecer a Iracema pela sua dedicação a essa causa e a uma arte que ela conhece tão bem. Nesse Museu do Sol, os pintores e os criadores descobrirão a riqueza do encontroe a expressão do que procuram ou oferecem de mais verdadeiro... “Pintura naive, pintura popular”, a arte naive não é a arte popular; suas motivações e sua função são bem diversas e outra a utilização. Mas é gerada v desse tronco, utiliza frequentemente suas técnicas, seus temas e às vezes explora inconscientemente as suas nostalgias. É assim especialmente interessante que a arte popular esteja representada neste Museu, tanto no seu passado próximo ou remoto como nas suas manifestações presentes. Ela é o suporte humano da arte naive; sua ruptura, até é um exemplo dos contatos entre as civilizações e dos atritos entre os mundos históricos.
Bouvet está cercado de primitivos por todos os lados. Isabel de Jesus, mineira, trabalhou na casa de Iracema, agora é enfermeira prática, acaba de chegar de Paris, onde expôs, com total sucesso, na Galerie Séraphine. Waldomiro de Deus, baiano de barbicha e chistoso, regressou da França, Itália e Israel, onde expôs em Tel-Aviv e Jerusalém. Seu sucesso foi tão notável que Moshe Dayan pediu-lhe um retrato, eu Waldomiro fez – e faturou bem. Ivonaldo, de longa barba, está aprendendo inglês, vai expor nos Estados Unidos e Europa. Crisaldo Moraes, também pernambucano, nora em São Paulo, trabalha na VARIG, parte hoje para a Alemanha, Itália e França, expondo em vários lugares seus anjos esvoaçantes. E Paulo Wladimir, potiguar, também formando entre nossos melhores primitivos, também se prepara para o roteiro europeu. Iracema e Bouvet estimulam a todos. Alguém fala que Waltraud já está na Europa, com mostras bem sucedidas e a Profª. Sofia Tassinari, da Azulão, também levou primitivos ao exterior, tudo foi bem, diz. Carlos von Schimdt fala do sucesso que alcançou sua galeria, “A primitiva”, quando exportou pioneiramente primitivos para a Salford University, da Inglaterra, e a New York University, dos Estados Unidos. Chega-se à roda Henrique Araújo, da Câmara Americana de Comércio, enfatizando a boa acolhida da coleção de primitivos brasileiros (29 ao todo, com Newton de Andrade á frente) que a Pocket Gallery, da Câmara, enviou Universidade da Flórida e Califórnia.E Tito Silveira, jornalista e empresário, tocando agora a Galeria da KLM, está eufórico com a mostra que promove das telas alucinantes e fantásticas do índio acreano-cearense Chico da Silva. Elas alcançam nos Estados Unidos a Europa, diz, um bom preço. Bouvet volta a falar:
– No Brasil, como, aliás, em outros países, a arte naive é bem menos cotada do que na França, por exemplo. Nisso reside a sua riqueza e o interesse de uma concentração dessa espécie: as várias a possibilidades de que ela oferece à pesquisa do homem e ao sonho da vida. O pintor é mais propenso do que qualquer um a entender a necessidade de um tal encontro e de intenções e formas e mesmo a provoca-la. Ele vive esses problemas de um outro modo do que com palavras. O trabalho pictórico de Iracema, como também seu sentido de amizade, só podia encaminhá-la a abrir as portas desta casa aos pintores... O Museu do Sol não é apenas a casa dos pintores. Ele é também o museu de todos aqueles que sonham e entalham a madeira com um canivete ou tecem e fazem do objeto um suporte de beleza a serviço da vida... Por vários aspectos a nossa época parece sombria, a arte lhe traz por demais vezes a evidência de fracassos, pesquisa desesperada, ícones de derrotas. Precisa-se mais do que nunca de um Museu do Sol e sua criação evoca um gesto de fraternidade que o seu irmão primogênito, o Museu Henri Rousseau, de Laval, saúda com alegria.
O Museu do Sol está feericamente iluminado, suas salas, a brasileira e a estrangeira, apinhadas de gente. O calor é grande – o Museu do Sol ocupado, Europa ganha – os primitivos tomam uísque, o blábláblá prossegue madrugada adentro. Iracema está também feérica, alucinada, feliz. O Museu do Sol está, afinal, inaugurado, com suas telas de primitivos daqui e de fora, esculturas populares, tapeçarias, as portas entalhadas de Juçara, telhas de madeira e peças de cerâmica. Abre ao público todos os dias, das 15 às 19 horas, menos às segundas. Como todo bom museu que se preze e louve.
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