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sábado, 13 de agosto de 2016

ALFAIATES

Alfaiates... 

Não é fácil falar de alfaiates. 
Paradoxalmente, nunca acreditei que esse assunto desse mesmo muito pano para mangas. 
Com riscos, principalmente, de perder-se o fio da meada. 
O que, em se tratando de costureiros, poria a perder, também, tudo o que Marta fiou. 
E o que cronista confiou. 
Alfaiates... 
Levei mesmo algum tempo costurando alguns alinhavos que me permitissem o remate final. 
É verdade que para abordar certos fatos, tive que tecer algumas considerações, em várias linhas. 
Mas, isto, segundo os fregueses mensalistas destas crônicas, é resultado do feitio do meu terno e arrevesado modo de escrever. 
Sobretudo do meu terno. _ .

 – Alfaiates...
Existem, em São Paulo, de todos os tipos, para todos os gostos; existem os das classes mais favorecidas: os ternos impecáveis, os coletes ajanotados, os vincos das calças caindo com perfeição. Existem exímios para os “dons-juans” glostorados da Barão de Itapetininga; o terno-saco beirando os joelhos, exagerados os enchimentos dos ombros, e italianamente estreitas as calças, com bainhas e barras que abotoam os calcanhares. Existem os especialistas em ternos para os “Tarzan, filho de alfaiate”... Neste grupo, o nome já indica, talvez se possa incluir a alfaiataria “Adonis” da Líbero Badaró e a “Perita”, da rua São Bento. 

Há alguns alfaiates de nomes intrincados, acusando sua descendência: Bagdonas Alexander, Arruda Olavinho, Sierra Capuccio, Swaletz Boieiras, Credidio Credidio, Mordea M Rochwerger, S.Schivartche,Yokata Motimasa, Sanshowsky, Berco Chaim Rollnich e outros. E algumas alfaiatarias de compridos nomes: Alfaiataria Irmão de Paulo, Alresa – Alfaiates Reunidos Sociedade Anônima, etc. Mas, todos decerto, trabalham mais depressa que o alfaiate Cilento, da rua José Bonifácio. 

Na Vila Mariana existe um Bueno, Alfaiate. Na Espanha, dizem, era um mau costureiro. No Brasil, especialmente naquele bairro, tornou-se Bueno Alfaiate, Questão de trocadilhogia... 

Por sua vez, o bairro de Perdizes apresenta uma das mais importantes costureiras da capital. Mora à rua Cardoso de Almeida e chama-se Sofia. Sua freguesia é enorme e selecionada. Não faz outra coisa senão costurar. Na verdade, só fia. Apesar disso, não acumulou ainda grandes ganhos: só fia... Imagina-se que tal costureira nunca conseguiria escrever novelas; no máximo, editaria novelos. 

Três vezes alta! Uma costureira do bairro da Aclimação, chama-se dona Auta, é alta, e em altas costuras é especialista. 

Mas é mesmo cheia de percalços a vida dos alfaiates. As cobranças em prestações são comuns. Mais comuns ainda, no entanto, são certos “esquecimentos” dos prestamistas. Talvez por isso, a esse conjunto de fregueses, o nome de uma alfaiataria da Praça da Sé, (Grassi, Deves) é bastante psicológico. 

Certos “magazines” têm também sua alfaiataria própria. É o caso, por exemplo, de A Exposição, da Praça do Patriarca. Aliás, essa casa, recentemente numa de suas liquidações, colocou à entrada de sua secção de roupas, uma faixa enorme, onde se liam os dizeres: “Liquidação de fato”. Esse “fato”, aliás, foi comentadíssimo. Dizem que o trocadilho daquela faixa foi feito sem querer, inconscientemente. Neste caso, penso, seria um trocadilho de direito, não de fato... 

Mas nome interessante mesmo, para a sua profissão, é o do Sr. Catapano, que tem alfaiataria à Rua Líbero Badaró, perto da Rua José Bonifácio. Esse, decerto, passará a vida toda trabalhando a todo pano... Em compensação, quando morrer, poderá merecer um epitáfio mais ou menos assim: 
“Este alfaiate morreu 
E já faz bem quase um ano; 
Morreu de tanta costura, 
E ainda assim, 
Cata pano!” 

Mas deixemos de tesourar os alfaiates.

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