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sábado, 13 de agosto de 2016

BALBURDIA ORTOGRÁFICA

Não queremos apontara aqui as causas coniventes com essa balburdia ortográfica que vai pela nossa Capital. Por isso, deixemos de lado a inércia dos governantes quanto a essa questão, e as incessantes, mas inócuas, regras dos gramáticos. Aqui somos cronistas, de críticos não nos vestimos. 

A realidade é que esta pobre terra de Piratininga, tão vaidosa de suas tradições, de suas grandezas, de sua responsabilidade perante os outros Estados, apresenta, aos visitantes, um contraste chocante no que concerne aos seus letreiros, cartazes, rótulos, inscrições, taboletas e anúncios. Neles se vê coisas incríveis! 

Uma confeitaria na Avenida São João, por exemplo,vende, há mais de três anos, “Doçes” (sim, com cedilha)... Outra, por sua vez, anuncia “Sorvetes de côcô” ... 

Na Rua Barão de Itapetininga existia, até há pouco tempo, uma loja que apresentava ‘Meias para senhoras de seda”... E os tradicionais “Aqui vendem-se casas”, “Aqui vendem-se relógios”? 

Certo bairro tem um “Butikin”... Outro, um “Gymnasio”... Aqui é de prever-sr a instrução das aos alunos... E os que estão matriculados nas suas “Aulas de Dactylographya”? 

Sobretudo há uma padaria tão revolucionária, que não se peja de apresentar em seus dizeres um incrível “Pannnificadora”, com três nn! Talvez é por que vendam ali pão de três tipos: amanhecido, embolorado e pão que o diabo amassou... 

Lá está, no Cemitério do Araçá, um espalhafatoso Aqui Jazz. E o infeliz morto não era nenhum regente de orquestra... 

Numa casa da Rua XV de Novembro, lê-se no letreiro: “Ótica Dental”? Entretanto, desconhece-se um capítulo Dental, na Ótica Física. E também um ramo Ótica, em Odontologia. Por que, então, “Ótica Dental”? Mas, suprema confusão, os produtos que se vendem em tão misteriosa casa parecem não ser dentais, nem óticos: outro letreiro, estabelece, ali, uma “Perfumaria”... 

Um comerciante das cercanias da Estação da Luz parece ter descoberto o mistério da própria existência, pois fabrica uma coisa que, antes de ser, já era! Si não acreditam, vejam o que ele faz: tem uma “Fábrica de Móveis Usados”... 

Ah! Si os paulistas fossem aquele personagem de Monteiro Lobato, que morreu vítima de uma má colocação de pronome... Na verdade, que não seriamos nós, si fossemos outros Aldrovandos Cantagalos? 
A IMPRENSA – Maio de 1949

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