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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Jânio passou dos 40 num campo de futebol

O menino que nasceu franzino, há 40 anos, em Campo Grande (Mato Grosso), passou seu aniversario num campo de futebol. 

Quando interroguei, Jânio, ontem, sob a ala dos remos dos atletas do Corinthians, ele apenas disse: 

- “É este, hoje, o dia mais feliz da minha vida!” 

Jânio estava com terno cinza claro e com gravata de bolinha. Mas sempre de cabelo caído. Não permitiu que, no churrasco gigantesco, se gastasse “um tostão que fosse”, do governo. 

Foi churrasco e foi festa popular - com banda, sorvete, guaraná, foguetório e pipoca - tudo grátis. 

No Corinthians 
Jânio chegou ao Corinthians às 10 horas. Veio em carro particular. Logo se misturou com o povo (o futebol começara às 8 e meia). Dona Eloá, de “tailleur” branco-estampado, me disse: 

- “O Jânio está feliz, mesmo. Ponha isso”. 

A filha Dirce Maria, também passou o dia no Corinthians (quando estourou um champanhe teve medo).

Futebol
O futebol foi Palmeiras (e Portuguesa) contra o Corinthians (com o São Bento de reforço). Ganhou o Corinthians, 6 x 2. Jânio gostou. Quando recebeu a medalha do Corinthians, disse: “recebo-a como governador e como... corintiano”. Depois, ainda no campo, apertou a mão de cada jogador. Disse para o Homero (beque do Corinthians: 

- “O senhor é tão famoso como o Homero da Grécia...” 

Deu a taça ao vencedor. Falou um pouco, porque o Corinthians tinha sido eleito (concurso popular) como o “clube mais querido do Brasil”. Recordou, na rodinha, que já tinha sido goleiro. Mas um dia (chovia) engoliu seis frangos. Nunca mais jogou. 

Povo 
O povo se apinhou no estádio e aplaudiu. Muitos motoristas da CMTC. Choferes de táxi (estão virando: eram quase todos Ademar). Mulheres e criançada. Antigos fanáticos. Novos adeptos. Junto de mim, vi Janio abraçar um operário. 

- “Dr. Jânio, estou sem emprego...” 

Jânio abraçou dois ou três populares (outros). Mas voltou-se, sério, compenetrado: “Meu amigo, não o esqueço. Passe segunda-feira no Palácio. Mas de manhã”. 

Churrasco 
Tinha 80 mil churrascos. Quatorze mil quilos de carne. Salsicha: 2.500 quilos. Linguiça: 2 mil quilos. 200 mil pães. 26 mil bifes-milanesa, 900 dúzias de guaranás, 2 mil litros de leite, 5 mil quilos de uva. Abacaxis, mangas, peras, refrigerantes. 

Só a pipoca e o sorvete eram pagos. O resto, tudo, grátis. Tudo foi presente. De amigos de Jânio e firmas particulares. 

- “Esta festa não nos custará um tostão” - disse Jânio, dia antes, no Palácio. 

Fez questão que nenhum carro oficial estivesse presente (temia que Lino mandasse fotografar). E foi de carro particular. Comeu dois churrascos e pediu leite. Não teve muito tempo de cuidar dessa parte.

Onde se notava a presença do povo era nos dizeres das faixas. Tinha faixas de todos os bairros. De muitas cidades. Das vilas. Da “sua” Vila Maria. 

Duas faixas de motoristas (da capital e de Osasco). Muita faixa com “dr” antes do nome. Uma dizia que Jânio é dos únicos brasileiros honestos. A escola de samba estava lá. Mas não apareceu muito. Era como um fundo musical (de samba) junto à grande música do povo reunido. 

Balanço 
Fez dois discursos. Um aos trabalhadores. Outro ao povo em geral. Este irradiado por 36 emissoras. Leu 17 páginas (voz, rouca). Destaque de deu balanço (do governo): 

- “Quero demonstrar que, em nenhum instante, deixei de ser digno da confiança dos paulistas”. 

- “Nada tenho a esconder. Antes, exijo que o povo verifique tudo, informe-se de tudo, a analise todos os atos de minha administração”. 

- “Durante o ano passado foram encerrados 76 processos administrativos e 36 sindicâncias”. 

- “Houve 2.448 promoções de funcionários”. 

- “No meu governo não se furta, ou se deixa furtar. Dessa infâmia sempre me pouparam os mais empedernidos adversários”. 

- “A saudável ditadura financeira do professor Carvalho Pinto valorizou-se ainda pelos magníficos resultados colhidos - há já saldos no orçamento”. 

- “Os negocistas e politiqueiros foram exilados do Banco; e os caloteiros pagaram suas dívidas’. 

- “Em menos de um ano, os depósitos da Caixa registraram um aumento de cerca de 1 bilhão e 277 milhões de cruzeiros”. 

- “No meu primeiro ano de governo a receita do IBESP teve o aumento substancia de cerca de 304 milhões de cruzeiros, ou seja, 51,24% sobre o período anterior”. 

- “Ao todo, pavimentamos 130 km de estradas. Certo aventureiro (Ademar), em 4 anos, pavimentou 150, só”. 

- “O abastecimento d’água será aumentado em 57”. Falou em novos prédios escolares, na VASP (que já dá lucro). O relato é grande. 

TRIBUNA DA IMPRENSA 26 de janeiro de 1.956.

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