Invenção de engenheiro italiano, naturalizado brasileiro, ex-aluno de Fermi - Um modelo do disco já em experiência pela Força Aérea americano - Ernesto E. Geiger (o inventor): fugiu do fascismo, construiu o primeiro disco com motor de aspirador de pó e dedica seu invento ao Brasil - Reportagem de Luiz Ernesto. 
Em fevereiro de 1954, nesta cidade, no interior de um pavilhão de importante fábrica de motores elétricos, um pequeno disco-voador, construído com motor universal de aspirador de pó, posto a rodar por seu inventor - voou durante alguns segundos. Vertical e horizontalmente. 
O engenheiro Ernesto E. Geiger, de 47 anos, brasileiro naturalizado, ex-aluno de Fermi (o da bomba atômica) na Itália, não se assustou com o invento. Chamou alguns companheiros (entre eles, dois engenheiros) e pediu que testemunhassem o sucesso das experiências. 
Geiger tem absoluta certeza que, em ponto maior, seu disco possa ser dirigido por pessoas humanas. Por isso agiu com prudência: além de aperfeiçoar o aparelho, pediu patente no Ministério da Aeronáutica. A patente foi concedida. Deixa claro a prioridade brasileira da ideia. 
Só depois Geiger comunicou sua invenção ao estrangeiro. Decidiu fazer através de revistas de ciência especializada, como “Science et vie” (francesa), “Flight” (inglesa) e “Interavia” (suíça). Agora, ao povo brasileiro, diz pela TRIBUNA: 
-	“Nada mais desejo com meu invento do que prestar uma homenagem ao Brasil, terra de Santos Dumont, pai da aviação, e onde fiz as primeiras experiências pelo invento do disco voador”. 
O DISCO
O disco voador “Paulista”, como o chamou Geiger, foi projetado inteiramente por ele, em meses de estudos e trabalhos intensos, com base nas experiências iniciais. O modelo inicial te: 
1)-	Disco em forma lenticular; 
2)-	Ventilador centrífugo; 
3)-	Palhetas; 
4)- 	Boca superior; 
5)-	Descarga circular (que jorra uma lâmina de vento radial em alta velocidade, ao logo da superfície superior convexa do disco); 
6)-	Motor, no interior da cabina. 
Para alimentar a reação processional do disco, o ventilador é completado por um segundo, em forma de anel difusor e acelerador de vento, também comandado pelo motor, virando em sentido contrário ao do primeiro e em volta deste. 
Diz-nos o eng. Geiger: 
-	 “Um modelo deste disco está em estudos no “Air Research and Development Comand”, da U. S. A. F. (Aviação Militar Norte Americana) e os jornais americanos já têm dado notícias sobre a próxima construção do modelo, segundo minha invenção”. 
OUTRO MODELO
O engenheiro Geiger não parou aí. Imaginou outro tipo de disco voador, também guiado por seres humanos, e acionado por turbina a jato. Este disco tem: 
1)-	Cabina lenticular do disco; 
2)-	Boca superior de entrada de ar; 
3)-	Ventilador compressor de ar, na câmara interna da combustão; 
4)-	Palhetas da turbina, com o anel difusor; 
5)-	Boca de descarga, jorrando um leque circular radial de gás em alta velocidade, ao longo da superfície superior convexa da cabina. 
A PILOTAGEM
Perguntamos ao engenheiro Ernesto E. Geiger como seres humanos podem pilotar os discos-voadores de sua invenção: 
-	 “O voo horizontal do disco e sua pilotagem podem ser obtidos da mesma maneira que atualmente se faz nos helicópteros. O sistema motor-ventilador centrífugo, ou o sistema de turbina a jato de jorro centrífugo, pode ser suspendido internamente à cabine, num junto universal ou cardânico. 
Por meio de comandos mecânicos ou hidráulicos, o piloto inclina o eixo do grupo motor em relação ao eixo do disco. Essa inclinação causa dissimetria no jorro de ar ou gás ao longo da superfície superior convexa do disco, e assim um empuxo horizontal.  Na figura do disco acionado a turbina de jato, vê-se um canal que, quando se inclina o jorro, recolhe o jato de ar ou de gás e o dirige de maneira a provocar o empuxo horizontal desejado, provocando o voo horizontal. Turbinas de jatos auxiliares podem empurrar horizontalmente o disco em voo”.
VANTAGENS
Em seguida, enumera as vantagens de seu disco voador destacando, inicialmente, poder ele levantar voo verticalmente como os helicópteros e poder ficar parado no ar. Destaca, uma a uma, outras vantagens:
-	 “Sua construção é muito robusta que a dos helicópteros, pois não tem limitações mecânicas conhecidas, como a finura, fraqueza e suspensão complicada  das asas rotantes (hélices horizontais dos helicópteros); 
-	Seu teto de voo não é limitado como o dos helicópteros; 
-	O fato de ter duas girantes ou ventiladores centrífugos de mesmo centro mantém grande estabilidade, pois as girantes funcionam como “giroscópios”; 
-	Quando o aparelho pousa, não tem o perigo dos helicópteros, nos quais as pás (asas rotantes) de sustentação podem bater em obstáculos; 
-	E voo horizontal, o disco-voador “Paulista! Pode superar a velocidade dos aviões a jato e sua construção é muito mais robusta que a de certos tipos de aviões; 
-	O disco-voador manobra em todas as direções”. 
QUEM É
O inventor do disco voador dá outros detalhes técnicos, importantes, mas inúteis para uma reportagem de divulgação.
NOTA: 
-	 O eng. Geiger não é aviador nem engenheiro aeronauta. É apenas engenheiro industrial mecânico, formado na Universidade de Roma, onde estudou com Fermi. Seu pai há alguns anos, ensinou Matemática na famosa Escola Politécnica de São Paulo. 
O eng. Geiger é baixo, corado e calmo. Desde os cabelos cortados “a cadete” até a arrumação perfeitíssima da mesa de trabalho, com uma dúzia de lápis afiados esperando sua ação, denota ordem, senso de detalhe e aproveitamento total de pequenos materiais. Fala inglês, francês, italiano e português. 
Já dirigiu uma fábrica de armas e munições, na Itália, além de supervisionar outras indústrias (estruturas metálicas, estamparia, motores, elevadores, etc.).  No Brasil, onde veio em 1939, trabalhou no Recife (Western), Rio (Otis) e São Paulo (motores elétricos “Arno” e fábrica de aparelhos óticos D. F. Vasconcelos), Atualmente organiza o controle de produção e dos custos unitários de 14 mil tipos diversos de brinquedos (Manufatura de Brinquedos “Estrela”). 
INFORMES FINAIS
O eng. Ernesto E. Geiger tem mulher e dois filhos e mora na Vila Mariana. Fugiu da Itália em 1939, do “reacionarismo fascista” (comparou, certa vez, as flores e as crianças de Roma às de outras regiões do país e por isso foi perseguido). Não pretende deixar o Brasil. 
Faz questão de lembrar os nomes das testemunhas de suas experiências iniciais com o pequeno disco voador. O repórter atende: Srs. Giuseppe Torchio, Nicolau Irjanow, e engenheiros Paulo Avigdor e Ivan Mntcheff ( o disco foi deixado sobre o prato de uma balança: voou a 12 mil rotações por minuto. 
Gosta também de ser citado como inventor (já tem patente) de um fogareiro gaseificador, sem bomba de combustível; um aspirador de pó, pequeno portátil, auto limpador e de alta sucção: um filtro de óleo para automóveis, completamente metálico e construído de chapa, tendo pequenas rachaduras estampadas; uma cafeteira automática que não ferve o café como as demais; um redutor planetário de velocidade, sem engrenagens; um ventilador elétrico de grande potência; um supressor de zumbido para rádio receptores e outros. 
Na fábrica onde trabalha num trabalho múltiplo dá ordens usando o inglês, o francês e o português quase bom. Assina seguidamente ordens de serviço. Pergunta a um funcionário que quer sair meia hora mais cedo se ele vai chegar meia hora mais cedo. 
Convida o repórter para uma viagem no seu disco voador. É categórico: 
-	“Se encontrar financiador, faço o disco aqui mesmo no Brasil”. 
TRIBUNA DA IMPRENSA 
27 DE FEVEREIRO DE 1956.
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