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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Incidente com Falconière nas festas do 9 de julho

Estava “sobrando” entre os veteranos de 1932

 Um grupo de senhoras se insurgiu contra a presença do general nas solenidades cívicas- 400 veteranos desfilaram no Ibirapuera 

SÚBITO, no meio da solenidade cívica, o grupo de senhoras, lideradas pela Sra. Suzana Fonseca, se insurgiu ruidosamente. Ela mesma dizia: 
- “Não pode! Não pode participar desta solenidade quem ajudou a traição do 11 de novembro!” 
A custo, a ordem se refez. E o general Falconière, a personagem citada, não percebeu o incidente. Que valeu para mostrar a coragem cívica da mulher paulista. 
O Monumento-mausoléu dos heróis de 32 foi inaugurado com grande pompa. 

JÂNIO CRESCEU
Jânio estava de capote londrino, óculos caídos e cabelos rigorosamente penteados. A mulher de preto, branco e vermelho (milhares de mulheres, ontem, vestiram assim em São Paulo) chegou-se perto dele e disse: -“Salve Dr. Jânio! Salve o grande governador de São Paulo. O senhor cresceu, Dr. Jânio, depois do 11 de novembro!” Nome da senhora: dona Suzana Fonseca. 

O CORNETEIRO 
Elias dos Santos Oliveira veio com sua corneta usada na Revolução. Ainda com ela marcou a solenidade cm os mais belos toques de 32, onde lutou no primeiro batalhão. Seu filho, de 12 anos, tem o mesmo jeito. E a mesma vibração: - “Meu pai lutou em 32. Eu lutarei também, se agora fizesse outro!”. Maria Jose Cunha lutou em 32, como voluntária. É mulata e agora já passa dos cinqüenta. No desfile de ontem, puxou a fila dos veteranos (quase 400) pelo Ibirapuera, no meio do povo. Carregando a velha e encardida bandeira paulista, usada nos campos de luta. - “Sou a Maria José, mas todo mundo me conhece como a soldada. E é soldada mesmo o que quero ser até hoje! - diz ela, provocada. Manteve um garbo impecável, até o fim da parada. 

NETO DE ISIDORO 
Para carregar a urna mortuária do generalíssimo Isidoro, seu avô, chegou, das Agulhas Negras, o cadete Isidoro Dias Lopes Neto. É o cadete 625, da Academia Militar. Para que viesse, os veteranos mobilizaram céus e terras. Depois da solenidade, ele agradecia comovido aos veteranos. E juntos, o neto e os veteranos, todos recordavam a figura do grande gaúcho, que fez as revoluções de 1893, 1922, 1924 e 1932. Que ocupou São Paulo em 1924 para devolver intactos, meses depois, os 96 mil contos da Caixa Econômica que ficara sob sua guarda. Que rejeitou certa vez o presente de uma casa, que os paulistas lhe ofereceram. E que morreu enfermo e na maior miséria. O neto de Isidoro se tiver esse sangue, promete. É o que se dizia. 

FALA 33 
Guilherme de Almeida, o poeta, rezava a sua oração dos mortos. Único orador. Derramava-se sobre a epopeia de 32. O povo escutava quieto e em posição de sentido. Mas a menininha de 10 anos não conseguiu furar a parece de curiosos. E recostou-se atrás do grupo com a cabeça colada às costas da mãe. De repente lembrou-se da cena caseira: - ” Mamãe, mamãe, fala trinta e três, trinta e três, trinta e três...” 

UM QUINGUERLHOFER
Em São Paulo, soldado que usa muita medalha é apelidado de quinguelhofer (corruptela do nome de um general conhecido, ganhador de mais de 200 medalhas). Pois na festa dos veteranos, havia um quinguelhoffer. Era o capitão do exército francês, Frederic Sttatmuller. Seu peito reluzia ao sol. 
Veio para São Paulo com a missão francesa de 1906. Aqui ficou. Aqui trabalhou (instrutor da cavalaria da Força Pública). Aqui viu o 32. Aqui continua para o que der e vier.

RUFADOS 
Os tambores rufavam cada vez que um dos cinco heróis transportados ao Ibirapuera chegava no cortejo especial, para ser depositado no gigantesco Monumento. Trinta e dois segundos cada vez. Foi assim com o “generalíssimo”. Com os cabos José Benedito Salinas e Fernão de Morais Salles. Com o estudante Cesar Pena Ramos (indicado pelo C. A. XI de Agosto). E com o sargento Álvaro dos Santos Matos. 

UM REPORTER FALTOU 

No fim de tudo Mércio Prudente Correa e alguns veteranos se recostavam a um canto. Já não se ouviam as marchas militares nem as salvas de canhão, eloquentes. Eles falavam baixo e tinham expressões marcadas. Falavam do repórter que fizera sua última reportagem com eles. Do repórter de 17 anos que assistiria comovido àqueles festejos (seu pai, já falecido, José Bueno de Oliveira Azevedo, fora dos grandes da revolução). Do jovem presidente dos estudantes secundários de São Paulo, que carregaria a urna do estudante morto de 32. Batia o sol forte do meio dia naquelas caras marcadas dos veteranos de 32. Mas se via que o vazio ali, entre eles, era do reportes Clovis Bueno de Azevedo. Por quem, de manhã, eles fizeram um minuto de silêncio. O silêncio que se presta a um dos seus. 

TRIBUNA DA IMPRENSA

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