SESSÃO INAUGURAL – OS TRABALHOS – A ELEIÇÃO – NOTAS
O décimo segundo congresso da União Nacional dos Estudantes foi realizado este ano em Salvador, Bahia, homenagem que a entidade mater dos acadêmicos brasileiros quis prestar á velha e tradicional cidade fundada por D. João III, exatamente há quatro séculos. Recebeu, portanto, a antiga Capital do Brasil, mais de quatrocentos universitários de todo o país, tendo as diversas delegações se acomodado em vários logradouros da cidade, especialmente reservados para esse fim. Para a maneira cortes e dedicada como foram tratados indistintamente uns e outros, muito contribuiu, sem dúvida, a costumeira hospitalidade da gente bahiana e, em particular, o desvelo solícito e amável dos diretores da União de Estudantes da Bahia, comandados por esse admirável anfitrião seu presidente que é Ewaldo Solano Martins. Aliás, por parte do governo da Bahia também receberam os congressistas todas as atenções, tendo mesmo o Sr. Ivis de Oliveira, oficial de gabinete do governador Otávio Mangabeira, posto à disposição dos visitantes todos os elementos necessários para que a sua estadia fosse a mais agradável possível.
SESSÃO INAUGURAL
O congresso foi inaugurado no dia 17 de julho, às 20 horas, no salão nobre da Faculdade de Medicina, em sessão solene presidida pelo acadêmico Ubaldo de Maio, presidente da U.N.E., tendo comparecido, além de representantes oficiais, o secretário da Educação da Bahia, prof. Anísio Teixeira que, em magnífica oração, saudando os congressistas, analisou, com atilado espírito crítico e inegável conhecimento do assunto, a situação atual dos estudantes brasileiros. Discursaram também representantes de todas as bancadas, tendo sido unânimes as palavras dos líderes em reafirmar seus sentimentos em relação às finalidades do congresso que seriam, sem dúvida, debater e analisar, dentro dos princípios democráticos, os problemas de interesse geral dos estudantes brasileiros. Por último ocupou a tribuna Waldir de Freitas Oliveira,da União de Estudantes da Bahiana que, em poema de sua autoria, de sincero cunho patriótico, saudou, um por um, todos os Estados da Federação.
HOMENAGEM A CASTRO ALVES
Grandiosa foi a homenagem que os congressistas prestaram, no dia da instalação do congresso á memória do grande poeta da terra de Rui Barbosa, Antonio de Castro Alves. Às 18horas, perante assistência das maiores, junto de sua estátua na Praça Castro Alves, saudaram o autor de “Espumas Flutuantes”, representes do Ceará, Minas Gerais, Distrito Federal, Paraná, etc.. Distingui-se, contudo, a oração vibrante do acadêmico Hugo Biochi, da bancada paulista.
OS TRABALHOS NO PLENÁRIO
Todas as sessões plenárias foram realizadas no salão nobre da Faculdade de Medicina, tendo sempre presidido os trabalhos, com absoluta justiça, Ubaldo de Maio, na ausência deste, Celso Medeiros, vice-presidente.
De importância maior revela destacar as discussões em torno do projeto feito pelo Ministério da Educação denominado “Bases e Diretrizes do Ensino no Brasil”, ora numa das Câmaras altas. Foi relator das teses apresentadas em relação a esse projeto o acadêmico Costa Neto, do Distrito Federal. De maneira geral foram retificadas pelo Plenário as seguintes modificações:
a) Para todos os universitários do país, freqüência livre nas aulas teóricas;
b) Em todas as Universidades nacionais, concurso obrigatório para preenchimento de cátedra;
c) No magistério superior, obrigatoriedade de concursos periódicos de professores;
d) Rejeição do artigo que estabelece penas disciplinares a estudantes superiores.
Ocupou também especialmente a atenção dos congressistas a situação do restaurante da U.N.E. que se encontrava fechado. Ao fim de acalorados debates foi decidido, em tese aprovada, a sua reabertura em caráter definitivo, continuando, porém aberto aos estudantes também o restaurante do Ministério da Educação. Foram aprovadas teses defendendo a construção de Casas do Estudante em todos os Estados, bem como seus respectivos restaurantes universitários. Em relação ao ensino superior noturno nas Universidades, foi aprovado, pro grande maioria, que o mesmo deve ser logo feito e regulamentado.
BANCADA DE ECONOMIA
Reuniu-se sempre a bancada de economia compostas de estudantes das Faculdades de Ciências Econômicas de todo o Brasil. Foi resolvido, de início, concretizar, para setembro, em Recife, o Congresso Nacional de Economistas. Presidiu a maioria das sessões desta bancada o acadêmico Arnaldo Lucas Cruz, de S. Paulo. Foram discutidas inúmeras teses, todas propondo emendas ao projeto encaminhado pelo Governo Federal à Câmara dos Deputados e desta ao Senado, propondo a regulamentação da profissão de economista. A tese global final, cujo relator foi o acadêmico Abreu Sampaio e que foi defendida em plenário pelo acadêmico Carlos Alberto de Souza Barros, ambos de São Paulo, constava de 43 itens e sugeria, em sua conclusão, a imediata aprovação do projeto referido. Destacaram-se nas reuniões desta bancada os acadêmicos do Distrito Federal, José Cal Gonzáles e Carlos Rezende.
BANCADA DE ARQUITETURA
Durante o congresso mantiveram-se os estudantes de Arquitetura em reunião permanente coma finalidade de reestruturar o seu órgão nacional: o Bureau de Arquitetura da União Nacional de Estudantes.Foram elaborados novos estatutos e tratou-se também da organização do II Congresso nacional de Arquitetura de Estudantes a ser realizado na mesma cidade do Salvador de 1º a 8 de outubro próximo. Decidiram ainda os congressistas de tal bancada adiarem as eleições do Bureau, ficando, porém, provisoriamente, na direção do mesmo acadêmico Slioma Selta, do Rio de Janeiro e como interventor Vicente Ferrão, da bancada paulista.
Interessaram-se também os futuros arquitetos, além de problemas gerais, de seu interesse, pela preservação das obras de Oscar Niemayer feitas em Pampulha, as quais se encontram em estado de lastimável abandono, e, ainda, pela reorganização do curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes da Bahia. Ambas estas teses foram apresentadas pelo acadêmico paulista Antonio Carlos Alves de Carvalho.
JORNAIS UNIVERSITÁRIOS
A imprensa universitária junto ao Congresso deu prova de robusta vitalidade, pois circularam com farto noticiário acadêmico, distinguindo-se entre eles “O Prisma”, “Lábaro”, “A Verdade”, “Unidade”, “Presença”, “O Tonel”, “Fanal”, e o “União”, este da União Estadual do Estudantes de São Paulo. O jornal do Centro Acadêmico “Casper Líbero”, nosso A IMPRENSA, também foi distribuído com grande aceitação, sendo unânimes os congressistas de vários pontos do Brasil em se declarar impressionados não só com a qualidade selecionada de suas colaborações como, sobretudo, pelo excelente aspecto gráfico, em que é apresentado, o que o torna, sem dúvida, órgão universitário mais impresso do país.
PASSEIOS REALIZADOS
Aproveitando as horas em que não eram realizadas sessões plenárias os congressistas visitaram os pontos pitorescos de Salvador e, sobretudo, “o que há de mais belo na Bahia: as suas igrejas” (Manuel Bandeira): a velha Catedral da Sé, a antiqüíssima Conceição da Praia, a humilde da Palma e a majestosa Igreja de São Francisco, cujo barroco harmonioso e fulgurante da ornamentação deslumbrou os visitantes. Também, foram visitadas a ilha de Itaparica, a famosa praia de Itapoã (onde soubera os estudantes estar sendo filmado por companhia francesa uma adaptação moderna do poema de Santa Rita Durão, “Caramuru”) e o local denominado Candeias, onde impressionou a todas as imensas possibilidades petrolíferas do local.
Durante a estadia dos congressistas na “Capital mais brasileira do Brasil”, foram-lhes oferecidos vários bailes, destacando-se neste particular as atitudes simpáticas dos presidentes da Associação Atlética Bahiana e do Iate Clube, dois dos clubes mais fidalgos e queridos da “Boa Terra” e que colocaram a disposição dos estudantes as sedes sociais e todas as instalações esportivas dos mesmos. E foi sempre o fabuloso jornalista Roschild Moreira quem ofereceu os ágapes de cozinha mais tipicamente bahiana. Foram assistidos vários candomblés e realizados inúmeros passeis nos pitorescos saveiros. O bar “Anjo Azul”, que na opinião do crítico Wilson Rocha “é talvez a mais séria instituição bahiana” também foi insistentemente procurado, tendo causado a todos favorável impressão.
ELEIÇÕES
Dia 25 foram realizadas as eleições a presidência e demais cargos da diretoria da U.N.E. relativos ao período 1949-50. Concorreram duas chapas, em pleito nitidamente democrático, saindo vencedora a denominada “Autonomia e Administração”, que estava assim constituída:
Presidente: José Antonio Rogê Ferreira (S. Paulo);
1º vice: Celso Medeiros (Distrito Federal);
2º vice: Waldir Freitas Oliveira (Bahia)
3º vice: Fausto G. da Mata Machado (Minas Gerais);
4º vice: Renato Celidônio (Paraná);
Secretário Geral: Raimundo Nonato Santana (Ceará);
1º secretário: Grimaldi Ribeiro (Pernambuco);
2º secretário: José Orsini Reis (Estado do Rio);
3º secretário: Raimundo Ramalho (Distrito Federal);
Tesoureiro: Jose Cal Gonzales (Distrito Federal).
O novo presidente da U.N.E. que foi o último presidente do Centro Acadêmico “XI de Agosto” da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e também da União Estadual dos Estudantes e atualmente cursando a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de São Paulo, ao ser eleito, teve oportunidade de declarar:
“Tenho planos de minha gestão bem coordenados e procurarei, mesmo a despeito das futuras dificuldades que naturalmente surgirão, pô-los em prática, embora sabendo que inúmeras barreiras serão colocadas frente a eles. Jamais capitularei e os pontos mais visados por mim são: a estruturação definitiva do ensino superior, a situação econômica do estudante brasileiro e a reabertura do restaurante da U.N.E., fechado pelo Ministério da Educação.”
Por Luiz Ernesto Machado Kawall,
Enviado especial de A IMPRENSA