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segunda-feira, 5 de junho de 2023

PERFIL

Alto, esguio, amorenado claro, cabelo esbranquiçando nas cãs, extremamente maneiroso e simples, educado e duma lhaneza que já não existe mais, Washington de Oliveira – “seu” Filhinho – é uma figura popular e importante de Ubatuba. Não há quem não o conheça, ou necessitou dele, nos últimos cinqüenta anos, seja turista ou ubatubense. 

Farmacêutico dedicado e humano, dirigiu por mais de cinqüenta anos a Farmácia do Filhinho, no Largo da Matriz, atendendo a uns e outros, indistintamente, de 12 a 16 horas por dia, sem descanso, sem férias, sem nunca negar ou falhar numa medicação. 

Durante cerca de duas décadas, quando Ubatuba não teve médico, oficial ou particular, Filhinho fez as vezes e de tudo no campo da medicina, que era sua vocação, mas que, por azares da vida, não pode estudar. 

Há dois anos o bravo combatente aposentou-se, e todos ficamos privados do “seu” Filhinho da Farmácia. A Câmara Municipal prestou-lhe então significativa homenagem, em nome da cidade reconhecida e de milhares – pode-se dizer, três gerações – de pessoas exemplarmente atendidas. Mas até hoje – pois o sangue do bem-servir ainda lhe corre nas veias – vemos “seu” Filhinho atender em sua casa, ao lado de D. Mocinha, casos urgentes e que aparentemente não têm solução: um espinho atravessado numa garganta, uma queimadura forte do sol, um anzol que entrou por inteiro na mão de um turista desavisado. Para tudo Filhinho tem remédio e alento, com sua sabedoria fora das bulas. 

Na política Washington de Oliveira também se destacou, como Prefeito Municipal em dois períodos, de 1936 e 1945. Basta que se diga que Filhinho foi Prefeito em épocas duras, quando Ubatuba estava quase abandonada,administrando com elevação e discernimento, saindo reconhecido e estimado pela população. Quando Francisco Matarazzo Sobrinho assumiu a Prefeitura, em 1965, foi com o apoio de Filhinho e de outros ubatubenses decepa que pode cumprir com visão histórica a sua gestão hoje por todos reconhecida. 

Homem associativo e afável deve-se a Filhinho, ainda, em Ubatuba, inúmeras iniciativas e apoio entusiasta a entidades cívicas e culturais: Câmara Municipal, Museu Hans Staden, Lions Clube e o novel Instituto Histórico e Geográfico são associações em que Filhinho pontifica e presta serviço, pois ele sempre soube dar e doar, dedicar e participar, servir sem servir-se. Filhinho é, antes de tudo, cidadão prestante, católico convicto, amigo dos amigos, chefe de numerosa e simpática família. 

Aos 71 anos, disposto como sempre, “seu” Filhinho não parou. Dedica-se mais à família, às viagens e às leituras. E não parou de escrever, fatos da vida antiga de Ubatuba, estórias da cidade, recordações e anotações, - não fora ele um observador atento, todos estes anos um partícepe destacado de muitos eventos. 

Assim, pouco escapou ao estudo e à perspicácia do jovem filho do Cel. Ernesto de Oliveira, que um dia subiu ao planalto para estudar na Escola de Farmácia de Pindamonhangaba; ao rapazinho que, voltando á sua terra, e antes de abrir a já agora célebre FARMÁCIA DO FILHINHO, foi Agente do Lloyd Brasileiro, escrivão de Polícia e professor de preparatórios. 

Filhinho aí está, felizmente, com seu livro de registro, lembrando coisas, colocando Ubatuba no devido lugar e respeito, recordando fatos, por exemplo, desde quando seu pai foi prefeito (primeiro prefeito da cidade) em 1908. Esse Filhinho, de avô francês, Jean Marie Giraud, que faz a gente pensar no fausto de Ubatuba, na época gorda do café, que do Vale do Paraíba aqui vinha para ser explorado, quando ninguém supunha tivesse a cidade o crescimento caótico e imprevisível de hoje. 

Filhinho não é um historiador, nem falso historiador. É tanto quanto isso, um contador autêntico, um registrador exato dos feitos de Ubatuba. Aí está, em seu livro, o acervo formidável de notícias da história ubatubense, de 1500 a 1937. Aguardemos agora o seu próximo trabalho, já em preparo, relatando episódios contemporâneos, que envolvem figuras maiores, como Felix Guizard Filho, Máximo de Moura Santos, Mariano Montessanti, Idalina Graça, Willy Aureli. Leão Machado, Ciccillo Matarazzo, Wladimir Piza, Gastão Madeira, Olindo Chiafarelli e tanto outros. 

Filhinho acha também que não é escritor. Não é, ou não seria, mas faz as vezes. Conta com graça e elegância a quem em moço lia os clássicos e falava francês. A este volume seguir-se-á “A FARMÁCIA DO FILHINHO”, e, façamos votos, mais alguns. 

Pudera cada cidade, como Ubatuba, ter um Washington de Oliveira, para que suas estórias, hoje dispersas, amanhã reunidas, se constituam na História que fica. 

Parabéns, e, em frente, “seu” Filhinho. 

Luiz Ernesto M. Kawall Sitio Sapé, Tenório – UBATUBA (Carnaval de 1977)
 
Este texto se encontra às fls. 9/11 do livro Ubatuba Documentário de Washington de Oliveira.

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