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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

JÂNIO TAMBÉM FAZ ANOS HOJE

Mas saiu dos Campos Elíseos para ver... futebol - É corintiano e gosta de pastel frito - opinião sobre São Paulo: cidade impessoal, avassaladora, egoísta, difícil e tentacular - Acha a presidência um “fardo” mas concorrerá ao Catete. 

No dia do aniversário da cidade, que faz o governador? Festeja o aniversário. Mas não da cidade. O Sr. Jânio Quadros faz hoje 40 anos bem vividos. 

Poderia festejar o aniversário (duplo) entre pompas. Com o Palácio engalanado. E a turma da Força Pública de fardinha domingueira. Mas Jânio é Jânio. Tem medo dos “inoportunos”. Detesta a intromissão do prefeito Lino em tudo o que faz. Vai, por isso, para o estádio do Corinthians. 

Junto do povo ele esgazeia os olhos, baixa a cabeça, deixa que os cabelos fiquem desgrenhados. Ouve calado e aperta as mãos. Raramente olha nos olhos dos outros. Abraça (parece comovido) antigos correligionários. Pergunta muito: 

- “Como vai lá o pessoal de casa?”

A voz sai rouquenha e ele dita a frase marcando as vírgulas com a concha da mão. Difícil tirá-lo de junto do povo. Sua mulher, dona Eloá, é quem mais sabe disso. Por isso faz sempre almoço que posa ser comido frio. Pastéis, por exemplo. E ele gosta muito. 

É corintiano, como Porfírio é são-paulino. Mas não é fanático. Porfírio já chegou a jogar de goleiro num treino do São Paulo. Jânio, não. 

Vendo Corinthians x Palmeiras, torce pelo seu time. Mas elogia um “coice” de Jair (um “goal” adversário bem feito), e aperta a mão dos vencedores, seja quem for. 

Na verdade, não gosta muito de futebol. Talvez menos até que um pouco. Gosta, mesmo, é do povo vendo futebol. 

Uma vez perguntamos, em seu gabinete, qual sua opinião sobre a cidade. A pergunta fora, se achava São Paulo “uma cidade humana”. Houve pequena demora, mas a resposta veio: 

- “Não. Embora o seu povo seja benigno, acolhedor e hospitaleiro, como cidade grande, São Paulo se torna impessoal, avassaladora, egoísta, difícil e tentacular”. 

Vendo o futebol, está junto do povo bom, hospitaleiro, “acolhedor”. Mas logo pegará um taxi (continua andando muito de taxi) e cairá na cidade grande, na cidade “desumana”. E então, começam os despachos loucos. 

Quem o visse, logo depois, numa reunião política, dificilmente reconheceria o mesmo Jânio (do povo). Com os políticos, dá duro, xinga, chora. Se o contrariam, diz que “põe o chapéu na cabeça, vai embora, abandona tudo!” 

Politicamente Jânio é um udenista no porre (definição de Afonso Arinos). Com tendências socializantes - como disse na Europa. Mas se acha muito próximo da democracia cristã. Fã de Lincoln. Gosta de Gandhi e Chaplin. 

Agora, dizem, cuida de sua candidatura à presidência. Saiu-se bem no apoio a Juarez. Nenhuma falha, justiça lhe seja feita. No dia 11 de novembro, conduziu-se com altivez, sendo hoje, um dos únicos líderes civis com prestígio e autoridade junto à massa. 

Em Presidente Prudente, outro dia, lançaram seu nome à presidência. Jânio pensou e soltou a frase de efeito: 

- “Ainda mais essa, agora! Estou com um fardo às costas, querem me jogar outro!” 

TRIBUNA DA IMPRENSA 25 de Janeiro de 1956.

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