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domingo, 22 de novembro de 2020

Erotismo, Papa e Gandhi

Alexandre Kadunc e Salomão Esper comandam, afinal, um programa de rádio inteligente. Podem ser ouvidos domingo pela manhã, na Bandeirantes. Dia 21 de outubro, em Copenhague, em pleno centro da cidade, será inaugurada a Primeira Feira Pornográfica do Mundo. Haverá um retrospecto histórico e cultural da vida sexual. Filmes eróticos sonoros serão atração. À entrada, uma estátua do ministro da Justiça, Kanunc, que liberou a pornografia ilustrada no país, completamente nu. E replica o Papa: A dignidade humana e cristã está sendo ultrajada pela muita grave e insidiosa ameaça do erotismo Uwe voltou endêmico e agressivo, com repulsivas e desenfreadas expressões públicas e propagandísticas. Paulo VI acha que a família, as instituições, a escola, as recreações, estão invadidas pelo erotismo, pela promiscuidade, pela pornografia, pelas drogas, pela exaltação e brutalização dos sentidos e por abomináveis interpretações da palavra de Deus. Gandhi faria 100 anos e Salomão lê os versos de Cecília Meireles para o Mahatma da paz e da não violência: “Deus te dirá: Os homens são uns brutos, meu filho... É preciso voltar ao princípio. Eu também vou fechar os olhos. Por isso ordenei que te quebrassem com violência... Exala comigo o teu sopro... Até podermos outra vez abrir os olhos. Quando os homens chamarem por nós”. Microfone aberto. 

I - Os mil gols do rei Pelé
São dois mil, na palavra de Waldemar de Brito. Diz o descobridor maior de Pelé: - O Rei já chegou aos dois mil gols. É preciso computar os gols de Pelé quando no infantil do Bauru Atlético Clube. E os gols nos trinos do Santos e da seleção brasileira. É só somar. Dá tudo mais do que dois mil. Caso único no mundo. 

Neblina e “barbeiros”
Firmino Rocha de Freitas acha que não só nevoeiro e tráfego congestionado causam os desastres na Via Anchieta. O secretário dos Transportes diz que “falta preparo e consciência aos usuários da Anchieta, que na maioria dos casos não conhecem legislação de trânsito, desconhecem e desobedecem regras e assim causam graves acidentes rodoviários”. Quanto a medidas de sinalização, acostamentos e outras, uma boa notícia para os santistas: o Estado gastará dois bilhões de cruzeiros velhos para aumentar a segurança na Anchieta. 

II - Os Mil gols do rei Pelé 
No “O Globo”, uma excelente reportagem de Adauto Vasconcelos com Zaluar, em Santo André, goleiro que tomou em 56, jogando no Corinthians local o primeiro gol profissional de Pelé: - O pretinho de canela fina entrou na área e deu um chapéu no nosso beque. Saí di gol e tentei amedrontá-lo: “Chuta, moleque, chuta”. O pretinho ameaça com a esquerda e toca de leve com a direita. Zaluar conta: caiu sentado. A bola passa entre suas pernas. O pretinho vai às redes buscar a bola. Leva-a carinhosamente, debaixo do braço, até o meio de campo. Zito, Jair, Del Vecchio, não abraçam o garoto. Ninguém o abraça. Ele se perfila para o reinício. Era o sexto gol do Santos, 7 de setembro de 1956. 

A frase da semana 
O governador, ao lado de Maria Sodré, aclamado por milhares de crianças, ao inaugurar uma escola no Pari. O povo deve ser visto em sua grande extensão, com uma lente grande-angular poderosa. 

A TRIBUNA 
Santos, 6 de outubro de 1969.

Editorial de paz e visão

Queremos uma sociedade politicamente aberta... Queremos o respeito às liberdades cívicas... Queremos a devolução ao povo, em toda sua plenitude, do direito que tem de escolher seu próprio destino... Queremos uma economia pluralista e condições indispensáveis para a promoção e preservação da dignidade humana... Desejamos restabelecido o direito de Oposição... E, sobretudo, o direito de a Oposição chegar ao Poder por vias legítimas. Quem fala assim com voz alta e palavras duras? Said Farhat, acreano indócil, ex-político, ex-publicitário de sucesso, hoje diretor de “Visão”. Mas, por isso mesmo, condenamos a contestação violenta do regime... A minoria pequeníssima dos que roubam e matam... E os que, no exterior, pretendem vestir os autores desses crimes comas vestes do martírio e da perseguição... Apresentam casos isolados de violência policial e de tortura como pretensa prova de uma moléstia institucional... É preciso comparar o número de mortes sofridas pelos terroristas com as causadas por eles... O terror procura cada vez mais praticar crimes, pois é um campo de ditadura que o seu germe mais se desenvolve... Os nossos governantes estão administrando sabiamente o país... Até aqui o presidente Médici tem sabido resistir às pressões dos grupos de direita e que gostaria de passar o atestado de óbito à democracia brasileira... É o editorial num bom “finale”... E a abertura política, desejada por todos, com o conseqüente exercício da Oposição livre e o restabelecimento de alguns direitos do homem, suspensos pela legislação revolucionária, fornecerá aos brasileiros elementos para destruir o terror. De progresso. E de paz. 

O governador 
Solenidade no Palácio dos Bandeirantes. O desembargador Cantidiano Garcia de Oliveira saúda o governador Sodré. O presidente do Tribunal de Justiça esta cotado para assumir o Governo, quando Sodré viajar, em setembro, para o exterior. - Sr. governador Roberto “Carlos” de Abreu Sodré... E Hélio Motta, rápido: - Chii. Eu acho que o Cantidiano não vai assumir não... 

O ignorante
Delfim Neto a Joelmir Beting, sobre Fidel Castro, e pondo carapuça em muita gente: ... Fidel Castro ignorava que dois cubanos socialistas podem ser tão bons ou tão maus quanto dois cubanos capitalistas... Quando Castro confessa pública e dramaticamente que não é analfabeto, mas é ignorante, ele dá uma grande lição a todos aqueles que pretendem mudar a face do mundo e ditar os rumos da História na base da utopia e do proselitismo, prometendo um futuro que nunca chega e ignorando a complexidade inerente ao processo social. E mais grave que tudo, ignorando também as mais elementares relações estabelecidas pela teoria economia. Não há povo algum capaz de aguentar por tanto tempo, tamanha ignorância. 

TRIBUNA DE SANTOS - 9 de agosto de 1.970.

É tempo de conferir

Ao completar quatro anos à frente do governo do S. Paulo, Abreu Sodré diz que pode continuar a olhar o povo de frente. Que honrou a confiança popular, como político e como administrador. Como primeiro governador eleito pela Revolução em S. Paulo, posso afirmar que cumpri todas as metas revolucionárias. Para começar, as finanças do Estado estão em absoluta ordem. E obras, gigantescas, alcançam todos os rincões do Estado. E Sodré passa a enumerar os sucessos de sua administração, setor a setor. Os mais destacados: Educação (escola para todos); Energia (batidos todos os recordes); Saneamento básico (triplicado oi sistema existente); Obras (com ênfase especial para a construção de hospitais e unidades integradas de saúde); Transportes (4 mil km recapeados, 2 mil km pavimentados, 1.500 km projetados); Fazenda (finanças saneadas, Banco do Estado triplicou seus depósitos e investimentos, a ação da Caixa Econômica atinge todo o Estado, criado o BADESP para financiar especialmente a agricultura); Agricultura (plano de renovação cafeeira, reflorestamento levado a sério, incentivos às culturas de subsistência); e por fim, Arte e Cultura, com o tombamento do Sítio de Monteiro Lobato, da casa onde morou Portinari, criação de museus de arte especializados (sacro, imagem e som, casa brasileira). E vai por aí nosso governador de 52 anos, político desde a mocidade, administrador equilibrado e audaz. Que, depois de 15 de março, é candidato mais uma vez. Ao retorno dos seus e à sua banca de advogado. É tempo de conferir. E as obras de Sodré estão aí. Estão conferidas. 

O pito de Médici 
O senador Magalhães Pinto andou falando muito. E Rondon Pacheco pregou sem reservar e esperança de que com a rapidez desejada pelo povo, seja logo alcançada a plenitude democrática. Mas Médici, no jantar da ARENA, foi duro e taxativo: a linha política não muda. O AI-5 continua como instrumento válido. Diz o presidente da República e o chefe da Revolução: Não vejo... nenhuma razão para que sequer se cogite em alterar , seja no plano administrativo, seja na esfera política, as linhas dentro das quais a Nação está sendo conduzida. Considero que qualquer desvio de rumo, nesse particular, comprometeria gravemente a atmosfera de paz e de tranqüilidade de que o Brasil necessita para sustentar o ritmo de progresso, pelo qual ora se distingue. Em resumo: Médici continua a ser o leão da arena. 

A TRIBUNA 7 de fevereiro de 1971.

Do Partido dominante e da participação popular

Enquanto a chefia da Oposição continua semi-pessimista, com o senador Oscar Passos cada vez mais reivindicante, no sentido de que caiba ao MDB papel saliente na normalização do processo democrático, alguns líderes oposicionistas temem que apenas um partido - no caso, a ARENA - sobreviva. É registrado em várias áreas o temor dos emedebistas de filiar-se ao partido, nas cidades interioranas. No Maranhão o governador José Sarney, numa corajosa atitude que vem sendo recomendada pelos democratas aos governadores, juntou na sede do governo os dirigentes da ARENA e MDB, aos quais deu toda a colaboração para que formem diretórios municipais em maiores receios. O próprio ministro Gama e Silva tem lutado para que a insegurança não se implante arraigadamente no partido oposicionista, sem o que a normalização democrática, o funcionamento regular dos legislativos e as garantis individuais irão paulatinamente por água abaixo. Afora isso, apenas uma dúvida - mas envolvendo assuntos relevantes - corre nos meios revolucionários: a nova Constituição deve ser outorgada pelo presidente, pura e simplesmente, ouvido posteriormente o Congresso, igualmente reaberto; ou seria promulgada, depois de o Congresso, igualmente reaberto, ter tido oportunidade de examiná-la em suas teses principais? 

A promoção da SOMOS 
Diz o presidente Athiè ao governador Sodré no Palácio dos Bandeirantes: 1- Pelé não jogará na Itália nem no México, mas encerrará sua carreira no Santos F.C. 2- O craque sofre atualmente uma campanha de valorização publicitária, a qual, como promoção pessoal, é válida; 3- O Santos F. C. não venderá Pelé, que, por outro lado, só com 34 anos terá “passe” livre. 

DER contra nova variante
Em matéria de estradas para a Baixada Santista, o DER se fixa apenas nas já confirmadas pelo Conselho rodoviário: alargamento da Via Anchieta, Via do Imigrante e a Salesópolis - São Sebastião. A rodovia pleiteada pelos prefeitos do ABC, com forte endosso do vice-governador Torloni, não convenceu técnicos e o diretor do DER, eng. Dória Passos. Não descreiam os santistas da capacidade administrativa e persuasão do eng. Passos. A via não sai. 

Metrô vem de troglodita 
O prefeito Paulo Maluf a cata de um símbolo para o Metrô. Entre mais de 3 mil sugestões, duas vão ganhando: a de um troglodita fura-terra, e a de um tatuzinho que cavouca o solo febrilmente. A do tatuzinho recebe veto garantido pelas suas conotações etílicas. 

Uma fórmula delfiniana
E o nosso ministro Delfim Neto expõe, na Escola Superior de Guerra, sua equação que explica o comportamento da economia brasileira. É fácil. É só atentar que, na fórmula de Delfim, Y é renda nacional; M, importação; C, consumo, I, investimento; X, exportação; F, taxa flexível de câmbio; e S, Poupança. O S, ao final da operação, dá “o nível desejado para se obter uma taxa decrescimento compatível com o objetivo fixado pela política econômico-financeira do governo”. Eis, então, o estado de Delfim: 1) Y + M = C + I + X 2) Y + (M - X) = C + I 3) F = M -X 4) Y = C + S 5) (1 - 4)M = 1 + X - S 6) I - S = M - X 7) I = S + F.

TRIBUNA DE SANTOS 
29 de junho de 1.969.

Desenvolvimento com liberdade

O Brasil é grande demais para tão poças ambições. Sessenta e três anos, dois filhos, três netos, pronunciamento confiante e autoritário, quando se dirigiu oficialmente à Nação. Em vez de jogar pedras no passado vamos aproveitar todas as pedras disponíveis para construir o futuro grandioso do País. Torce pelo Flamengo e pelo Grêmio, não têm inimigos, deita-se às 10 da noite e levanta-se às 6 da manhã. As Forças Armadas entram a fundo no processo reformista. Metas: repelir a pregação extremista que exige de forma primária a destruição das instituições e também o apelo das oligarquias que recomendam sua inalterável manutenção. O desenvolvimento e a democracia plena estão por construir. Com liberdade. Democracia e desenvolvimento não se resumem em iniciativas governamentais. São atos da vontade coletiva. De Bagé, descendente de espanhóis e italianos, quinto gaúcho a chegar à presidência. Duro, seco, sério, homem firme, correto. Trigésimo primeiro presidente da República. Emílio Garrastazu Médici. Milito. 

Onde não chega o Dr. Pestana 
Solenidade oficial. O Dr. Paulo Pestana pede licença e apresta-se para sair. Está apressado. Precisa atravessar a cidade, para outro compromisso. E Virgílio Lopes da Silva, suplente de senador, secretário do Trabalho, ao diretor do DET: - Não adianta se apressar, Pestana. O trânsito está tão ruim, hoje, que você não chega a ligar nenhum. 

A arte boa que chega
Mineira, sensível, tímida, ex-empregada doméstica: Isabel de Jesus faz absoluto sucesso na Galeria Azulão. São telas primitivas onde os bichos e as flores, desenhados em traços simples, ganham depois um belo colorido. O gordo baiano Waldemar agita-se todo. Mário Cravo vem vindo aí para expor sua arte na feira de ferro e aço na “A Galeria”. Ione Saldanha recebe do governador Sodré NCr$ 5 mil, com seus bambus coloridos ganhou o primeiro premio da Bienal: - Mondriam falou que a arte moderna morreu ou estava em vias de. Para ele, o processo de criação chegou a uma altura dificilmente superável. Mas ainda existem outros caminhos a seguir. Eu procuro. A arte é como ávida. Tem que existir. 

O folclore 
Papelucho grudado na vitrina duma farmácia no bairro de Pinheiros: A última vez que o Corinthians foi campeão: 1. Farmácia se escrevia com PH... 2. O Matarazzo derretia banha no fundo do quintal... 3. O Dino Sani usava um basto topete.. 4. Não existia um time chamado Santos F. C... 

Frase da semana Dílson Funaro, novo secretário do Planejamento: - Mesmo nos países desenvolvidos o progresso tecnológico é um condicionamento fundamental do progresso sócio econômico. A formação de uma comunidade científica e tecnológica, somando esforços governamentais e empresariais, é a única forma de enfrentar o domínio econômico dos países mais desenvolvidos.

Tribuna de Santos 
12 de outubro de 1969.

De Rei do Brasil a Deus do Futebol

O presidente Medici recebe pessoalmente no Galeão terça-feira, os heróis da Copa. O “Paris March” publicou em 58 uma capa com Pelé: O Rei do Brasil. Agora, a mesma capa, o mesmo Pelé, abraçado por Tostão e Jairzinho: os Deuses do Futebol. É o futebol brasileiro, feito de samba e sangue, de dor e amor. Que assombra o mundo. Os esquemas defensivos, de Ramsey & Zagalo, e o tal futebol solidariedade, em que ia embarcando Saldanha, estão desmontados nesta Copa. Pela catimba, pelo talento, pela genialidade do craque nacional. Armando Nogueira, no “Jornal do Brasil”: “A Seleção do Brasil despontou então, pela primeira vez, com os mais gratos sinais de descontração, voltando a tocar a bola, numa sugestão de olé de que foi ponto alto e genial um corta-luz em Mazurkiewicz aplicado por Pelé e do qual não resultou gol por questão de segundos... não foi gol oficialmente, mas acho que se poderia registrar na súmula dos lances inesquecíveis: gol moral de Pelé. E assim termina a Copa, segundo Nélson Rodrigues: “... As caras iluminadas, e os botecos em flor, e as esquinas em sonho... As caras amarradas desapareceram... Um simples bom-dia vem saturado de amor... Dois desconhecidos se tratam como súbitos amigos de infância... E a bondade nasce no brasileiro como uma irradiação de profundezas”. Jules Rimet. Não, Pelé. 

Os parentes de S. Manuel 
A ARENA de S. Manuel está de parabéns: uniu o ademarismo, o sodrezismo e laudismo numa força só. Aliás. S. Manuel, governista até debaixo d’água, tem sido representada por filhos seus, nos últimos 20 anos, no governo do Estado: Ademar, Laudo, d. Maria Sodré, etc. Em S. Manuel, agora, o ex-barbeiro de Sodré, Horácio Santalúcia, hoje vereador, descobriu que Laudo e Antônio Rodrigues Filho são contraparentes, através dos ramos “Alves”, de Tietê e Porto Feliz. E o próprio governador, indo à cidade centenária, hospedou-se em casa de seu primo José Álvaro Mellão. Que é casado com Maria Elisa de Barros. Sobrinha de Ademar. 

 TRIBUNA DE SANTOS 
21 de junho de 1.970

De Hebe a Pelé, de Pelé a Mabe

O Rei fará maravilhas no mundial e depois abandonará o futebol. A profecia é de Paulo Gaudêncio, o psicólogo mais badalado do momento. Pelé assume hoje em dia a importância de herói nacional, e, sem qualquer contestação, é um ídolo eterno que jamais será destruído. Bauer e Mauro Ramos de Oliveira abem depõem: Pelé está sacrificado em peladas amazonenses; seu futebol genial deve ser reservado para o México. Gaudêncio vê em Pelé a figura com a qual se identificam todos, a começar pelas crianças pobres que não têm oportunidade de realização e apenas mantém sonhos. Mas, toda idolatria é destrutiva. Com o passar do tempo, evolui para a inveja. E cada um dos que colocam Pelé num pedestal, vai tentar destruí-lo. Pelé ainda é o maior jogador do Brasil. E os que o admiram não se conformam em verificar que o Rei já não pode oferecer ao futebol o que tinha aos 20 anos. Todos teimam em esquecer que Pelé é um ser humano. A idealização se desfaz com a realidade do próprio ser humano, que não é o ser perfeito que os seus admiradores transformam em ídolo. 

O ídolo Hebe 
Sempre que a cortina abre, em seu programa, suas mãos tremem. São quatro anos de entrevistas (2.187), nunca faltou a um só espetáculo. São 960 horas gravadas de vídeo - tapes, correndo todo o Brasil. É o ídolo da TV: a Sra. Hebe Camargo Capuano. A produção quis, há algum tempo, usar ponto eletrônico, pára acabar com os “lindinho”, “bonitinho”, “que gracinha” de Hebe. Hebe passou a usar um pequeno alto-falante, preso por trás do penteado. A equipe ajudava, orientando as perguntas, através do aparelhinho escondido. - Hebe, pergunta isto, pergunta aquilo... E de repente a Hebe espontânea, improvisada, descontraída de sempre, virando-se e falando alto: - Essa pergunta eu já fiz. Cala a boca. 

O ídolo Mabe 
Luiz Martins foi convidar o governador para sua posse na Academia Paulista de Letras. No salão nobre do Palácio dos Bandeirantes admira a arte inigualável de Segall e Portinari. Tarsila e Graciano, Djanira e Maria Leontina, e de Manabu Mabe. O prefeito do Interior pergunta se o abstrato de Mabe é um rabo de vaca ou uma viagem dos americanos à Lua. Um assistente de imprensa de Sodré entrega um bilhetinho ao prefeito. Faz assim sempre, já tem seu escrito impresso em “xerox”. Sr. Prefeito. A arte moderna é como viajem à Lua ou os mil gols de Pelé - não se explica. Nunca ninguém tentou, também, “entender” uma sonata de Beethoven ou uma “fuga” de Bach. O sujeito gosta ou não gosta. Se gosta, se sentiu uma manifestação de prazer ou de beleza, está diante de uma obra de Arte. A arte de hoje pode ser figurativa, à base de figuras, ou abstrata, exprimindo sentimentos. Neste caso valem mais as formas, as cores, a composição plástica. Se a tela de Manabu Mabe lhe agrada, vale tanto quanto o chafariz musical ou de pastilhinhas de sua cidade. Mas não tente explicá-la, e, sim, senti-la. Procure captar todo o sentido, e, mais do que isso, toda a beleza da arte moderna. A Tribuna Santos, 12 de abril de 1.970.

Curto-circuito do presidente

Creio na participação. Creio na grandeza do Brasil.. Essa é a profissão de fé do general sessentão que assumiu a presidência da república. Homem de meu tempo, creio na mocidade... no surto industrial brasileiro... na função multiplicadora da empresa... no regime democrático que é uma aspiração nacional. Garrastazu diz que não é promessa e cita Augusto Meyer, à maneira de estadistas deste tempo, como Churchill e Roosevelt, que se inspiraram tantas vezes na alma sensível dos poetas. Convoco a Universidade, chamo a Igreja, aceno à Imprensa, brado ao povo para que ajudem... no processo de desenvolvimento nacional. O ministério tem de gaúchos a cariocas, de amazonenses a mineiros, e até um piauiense de 38 anos. Os paulistas são descendentes de sírio-libanês, italiano e japonês. O general, que já passou à reserva, usa verbos: ordenar, integrar, somar, totalizar, planejar, convergir. O seu “credo” da posse corre o Brasil. O presidente, escolhido pelo voto militar, é um curto-circuito nacional. Ativo e familiar: a consciência nacional é feita da alma de educador que existe em cada lar. 

A fama que atrapalha 
Tom Jobim passa no Rio e se queixa: o artista só produz enquanto não é famoso. Sempre as mesmas pessoas, perguntando as mesmas coisas: o que acha da música popular brasileira, etc. - O Jimmy Webb não em telefone. Ou ele produz ou atende o telefone. O Frank Sinatra foi morar num deserto. Não estou criando nada, a imprensa não deixa. 

É o teatro em renovação
Leilah Assumpção é de Botucatu, foi manequim. Isabel Câmara e Consuelo de Castro, mineiras, têm pouco mais de 20 anos. As três renovam o teatro brasileiro com peças em cartaz, as moças à flor da pele. Abreu Sodré entregando o prêmio “Air France” a Miriam Lemmertz: - Uma das coisas que eu acredito neste Brasil: na juventude. No seu idealismo. No seu inconformismo. 

O cangaço civilizado 
Vinte e seis anos. Morena. Bonita. Jovem socióloga. Cristina Motta Machado não é mineira e sim paulista da gema. Lança o último livro sobre o cangaço na Capital, Rio e Salvador. A edição de 5 mil exemplares de “A Tática de Guerra dos Cangaceiros” se esgota em poucos dias. “Dadá” e vários dos cangaceiros de antanho são, hoje, “gente civilizada”. Defendem o chefe Lampião. Educados. Maneirosos. Pedem desculpa por um atraso. 

A TRIBUNA 
Santos, 2 de novembro de 1969.

Costa e Silva, Faria Lima e Pelé: o poder é triste

O senador Milton Campos cita a observação de Alberto Camus: no século vinte, o poder é triste. Antes de cair doente, segundo Carlos Castelo Branco, o marechal Costa e Silva sentiu as dificuldades das atitudes de compreensão que adotou diante dos fatos e acontecimentos do dia-a-dia. Frequentemente, quem mais pode é quem menos pode. Muitas vezes poder não é poder ou o disfarce do poder. Ainda no Rio, não chegado aos 60 anos, em pleno vigor e arrancando para a candidatura ao governo estadual, sucumbe Faria Lima. O carioca de Vila Isabel é transladado a São Paulo, que sacudiu como um terremoto na Prefeitura. Os discursos e as flores, a campa fria do cemitério, a legenda que se apaga. Para completar o quadro, tem Pelé, rei da bola, maior jogador do mundo, o Brasil a seus pés: confessa a nostalgia das concentrações, a dureza das viagens, a árdua luta da fama, do dinheiro e do sucesso. Costa e Silva numa cama, Faria Lima numa tumba e Pelé triste. Sic transit gloria mundi.

Perfil agudo do Dr. Júlio
Leo Gilson Ribeiro traça o perfil da “figura íntegra e temerária” de Júlio de Mesquita Filho, cujo livro póstumo, “Política e Cultura”, admirável testemunho contemporâneo, já está nas bancas: “Mas não é só como futurólogo que o combativo jornalista se distingue neste livro corajoso, franco, polêmico... É como defensor intransigente da independência nacional de tutelas estrangeiras. Ao contrário da imagem desvirtuada que muitos querem impor à sua atividade política, ele não combateu somente o Comunismo imperialista, o Nazismo que contagiara a ditadura de Getúlio Vargas, o Totalitarismo fascista de Portugal sob Salazar; os Estados Unidos são - frequentemente - alvo de sua indignação e de sua denúncia sem rodeios nas páginas retas e coerentes de seu livro”. 

De pizzarias e cozinha erótica
Carlos Lacerda escreve, e agora, protesta contra “a luz fria... esse ar cadavérico que as pizzarias de São Paulo deram de impor aos seus fregueses... a cor de necrotério que a luz fria dá a quem come e bebe o seu azulado palor...” E a revista “Veja”, completando um ano, e cada vez melhor, na corrida para se tornar a grande revista semanal brasileira de informação, dá receitas para o apetite sexual. “Pela manhã, um pouco de aveia... etc., etc., sem esquecer a Torta do Duque de Auvergne, que faz as mulheres não saberem depois “se foi um touro ou um homem apaixonado”. 

“Ciccillo” vem com Expo-72 
Francisco Matarazzo Sobrinho foi escolhido, pelo Itamarati, como coordenador da parte cultural da nossa gigantesca Expo-72, que será aberta dia 21 de abril de 1972, como parte das comemorações dos 150 anos da Independência do Brasil. A mostra funcionará na área de 600 mil metros quadrados, na Barra da Tijuca e deverá ser vista por aproximadamente 10 milhões de pessoas. - Será algo inédito e muito importante para o Brasil. A Expo-72 terá toda a vida artística, científica e cultural do nosso País. E vamos colocar nela folclore também. Das peças de barro à literatura de cordel. Rendas do Nordeste e artigos de couro. A cultura popular brasileira, norte a sul, leste a oeste, toda.

Pelé em Munich 
O assunto ainda é Pelé. Gravou discos com Elis Regina. Vai ganhar troféu de Abreu Sodré quando fizer seu mil gol. Fez um gol raríssimo, contra o Atlético: em completo “off-side”. É Pelé anunciando que, quando parar de jogar, vai morar na cidade que mais gosta: Munique. Não é à toa que, há pouco, Pelé disse ser alemão o melhor jogador do moderno futebol mundial: Beckenbauer. De Munique. 

Coluna Bandeirante - A Tribuna 
Santos 8 de setembro de 1969.

Conversa aérea com Pelé

O “Boeing” da VASP procedente de Manaus faz uma linda evolução sobre o Recife e desce mansamente na cidade de Manuel Bandeira. Pelé, populares à volta, sempre, aguarda o avião, com a delegação derrotada do Santos F. Clube. Sentamos juntos. Até São Paulo, pudemos observar a personalidade dúctil, táctil, nem introvertida nem extrovertida, desse negro simpático de voz grave e rouquenha, o mais famoso brasileiro de todos os tempos. Educado, três vezes pediu licença à aeromoça para tirar duas balas a mais para seu filho. Firme, recusou sempre gim e uísque, mesmo fracos, ficando só no guaraná. Maneiroso, desculpou-se com o juiz Arnaldo Cesar Coelho de “broncas” que lhe deu em campo. Líder, brincou com a garotada do Santos, e “gozou” sempre o “velho” Ramos Delgado. Responsável, chamou a atenção para Antoninho de defesas e falhas técnicas que viu no time. Paciente, cedeu autógrafos e conversou com passageiros à sua roda,mesmo quando se via que Pelé estava zonzo. Na conversa a preocupação contínua com o futebol e com o seu time, e com a nova casa que constrói na Ponta da Praia. E, por último, o empresário Edson Arantes do Nascimento, querendo realizar as obras e incentivar o turismo de maneira notável em Santos. Dinheiro, Pelé tem. Aí entram algumas idéias nossas: Museu Pelé, tobogã aquático, lanchas turísticas, “bondinhos” ou monocabos aéreos entre a Ilha Porchat, o continente, a Ilha das Palmas e Monte Serrat. Mas, a essa altura, o avião chegava a São Paulo. E Pelé, ídolo ainda aos 30 anos, com 1.063 gols marcados, caía, de novo, nos braços e nos autógrafos de mil mocinhas que estavam em Congonhas. 

Receita do rei 
Por telefone, consultado, o famoso homeopata brasileiro Artur de Rezende Filho, receita para Pelé - o qual, após os jogos, fica rouco e sem voz, como estava no avião da crônica. - Pelé tem o que os americanos chamam de “clergyman’s throat”, a voz cansada dos pregadores protestantes. É fácil curar se ele tomar, todas as noites, alguns comprimidos de “Arun Trithyllum”. Em qualquer farmácia homeopática tem.

Obrigado do rei Quando Pelé viu nossas telas compradas no Ceará, do Chico da Silva, espichou um olho-gordo de fazer dó. Gostou das telas primitivas e escolheu uma - três peixes, bem coloridos, flamantes, exóticos. O bilhete de Pelé, de próprio punho, lembrança autêntica desse bom e casual amigo, revela o lado sensível da “fera”: “A bordo do “Boeing” da VASP. Caro amigo, Luiz Ernesto, o meu muito obrigado pelo belo quadro do famoso pintor primitivo Chico da Silva. Edson. Pelé, 6-12-70”. 

TRIBUNA DE SANTOS 
Santos, 13 de dezembro de 1970.

Cidade-carcará cresce, mata e come

O médico desapropriado de Pinheiros dá um tiro na cabeça. O jovem colegial toma um Tito na nuca e tomba em São Roque, Marighela também leva bala, na morte que buscou na cidade grande. O prefeito Maluf diz que não pode ser ao mesmo tempo “onipresente e onisciente”. A Polícia alega que não pode estar ao mesmo tempo em todo lugar. Paulo Pestana não resolve, com toda sua simpatia, o trafego convulsionado. O governador Sodré quer dar água aos 8 milhões de habitantes da grande São Paulo, que já serão 13 milhões em 1980. Mais da metade da população não tem esgoto em suas casas. Faria Lima, de tanto pensar, arrebentou. O professor Frances chega e diz que o trânsito no centro da cidade deve ser rigorosamente interditado desde já. O metrô não é uma solução ideal. As ruas do futuro serão coxins moveis de borracha, que conduzirão as gentes. Exaustão. Neuroses. Exploração. O frei de Cristo defendia Marx. Pavor, morte, tiroteio, crime. A “São Paulo mom amour” destes dias é um carcará gigante. Cresce, mata e come. 

A ascensão dos minis 
Claudete Soares faz aquele sucesso no Rio. Quando ela entra na boate, diz o apresentador: - A época é das minis. Da mini-saia. Da mini-escova de dentes. Da mini-escola. Do mini-livro, Do mini-perfume. Aqui não está uma mini-cantora. Vamos apresentar a grande Claudete Soares 

Médici e Yassuda 
Quinze dias atrás. Garrastazu Médici forma o ministério. Fábio Yassuda é chamado. Vai ocupar o ministério da agricultura. O convite é formal. Yassuda explica ao general que, hoje, a agricultura depende mais de outros ministérios. Reforma das leis da terra - da Justiça. Preço dos produtos agrícolas - Fazenda. Açúcar, álcool e café - da Indústria e do Comércio. O presidente: - O senhor me convenceu. O senhor vai lutar pela agricultura em outro ministério. A sua pasta será a da Indústria e do Comércio. 

Riva, Riva, Riva, Riva 
Pelé acha que Rivelino será um craque perfeito dentro de três anos. Riva ia bater a falta de fora da área contra o Santos. O espíquer anunciou: - Falta pro Rivelino cobrar, dali, vale pênalti. Gol. 

A manchete da semana 
Coma proibição dos ciclamatos o Brasil exportará mais açúcar. Jornal do Bairro. 

TRIBUNA DE SANTOS - s/data.

Brasil tem “nêga” chamada inflação

A inflação é alta, porém a conquista vai bem. Nosso rotundo ministro da Fazenda é um otimista histórico. Delfim Neto anuncia a inflação deste ano, quase igual a do ano passado: 24%. É alta, mas não é pessimista, nem encerra uma visão negativa da nossa economia. A inflação poderia ter caído, este ano, para 20% ou menos. Houve a crise profunda da doença do presidente Costa e Silva, com uma emissão de 300 milhões de cruzeiros novos. A crise está superada: Médici toma posse, Médici condecora Pelé, Médici visita Costa, Médici age satisfatoriamente no plano político e institucional. Delfim Neto: o Brasil dá mostras de uma pronta e completa recuperação econômica. Mas nem tudo são rosas, segundo as manchetes: desemprego preocupa a SUDENE no Nordeste, lavoura canavieira em crise em São Paulo, o trigo vai apodrecer no Sul, empresários temem recessão em Minas Gerais, comércio carioca asfixiado pelos impostos. Simonal tem uma nega chamada Tereza. A nêga-tereza brasileira é a inflação. Tem um xodó por ela. Vai ser nossa namorada muitos anos. 

O diamante do Rei 
Palácio dos Bandeirantes. Sodré festeja Pelé. Pelé apóia a campanha de Natal de Maria do Carmo Sodré. Entre 200 pessoas, o outro negro genial se aproxima de Pelé. Leônidas da Silva abraça afetuosamente Pelé. “Parabéns, Pelé. Parabéns”. - Obrigado, Leônidas, obrigado, obrigado. 

As metas do Rei 
As três grandes metas de Pelé em 1970 são: vencer a Copa do México, ter mais um filho e ganhar metade do terreno da fabulosa mansão do presidente Athié, em Santos. “Kelly Cristina não pode morar em apartamento”. Nem o próprio empresário Raimondini sabe desta última. 

O subconsciente do Rei 
Pelé depõe sobre o minuto seguinte do mil-gol: - Beijei a bola que, no momento, eram as crianças do Brasil. Ia falar em minha mãe, ela fazia aniversário naquele dia. Mas saiu o apelo pelas crianças pobres do meu país. Foi espontâneo. 

A política do Rei 
Guardo uma mágoa de você, Pelé, o terceiro gol de sua carreira foi feito contra o Bagé, time da minha terra. - Ora, presidente, se soubesse disso não teria marcado... Pelé parou o trânsito em Brasília. Em todos os sentidos. 

A piada do Rei
Pelé morreu e vai indo para o céu. Vai pensado: que bom parar com o futebol. Já estou farto dos mil gols, etc., etc. Pelé chega à porta do céu. Nisto vê S. Pedro, que chega correndo, esbaforido, vestido com a camisa de treinador: - Pelé, entra depressa. Veste logo a camisa 10. Estamos perdendo dos diabos por três a zero. 

TRIBUNA DE SANTOS - 30 de novembro de 1.968.

Brasil lotérico: parar para pensar

Nunca tantos ganharam tão pouco. A manchete de “O Globo” é lapidar. A fila do Tostão (fila longa, à porta da loteria, e, entre os populares, Tostão aguarda a vez). O duplo sentido da legenda é genial. Além de tudo, essa loteria é um jogo desonesto. Esse é o título do editorial do “Jornal da Tarde”. Tudo e todos, agora, condenam a Loteria Esportiva, que, mais um pouco, vai ser culpada de todos os males nacionais. Joga o rico, joga o pobre, joga o velho, joga o jovem, o “office-boy”, a dona de casa, o ministro e o filho do presidente. O JT: O Governo estimula a batota. A Caixa Econômica Federal espicaça a cupidez. É o Brasil 70, depois da Copa do Mundo e da Transamazônica, abalado pela Loteria Esportiva. Nem o Plano de Integração Nacional (PIS) fez tremer tanto o gigante brasileiro. O Brasil de hoje é o Saci Pererê de Lobato e um pouco do Macunaíma, de Mário de Andrade. Todos querem progredir, a qualquer preço. A mulher do ferroviário bilionário deseja ser uma das “dez mais” do Ibraim, faz mil compras nas butiques de Copacabana. O próprio marechal, se não parara para pensar, pode cair no “gaulismo”. 

 Prove que você existe 
Vamos todos, civicamente, ao Censo nacional. Vamos saber, de uma vez, quantos somos, como vivemos, quanto ganhamos, onde habitamos. A melhor peça publicitária sobre o censo foi a CIN que fez para a VASP: “Se você vive neste imenso país chamado Brasil, prove que você existe”. 

D. Hélder tem “slogan” 
À porta da casa de D. Hélder, no Recife, aparece uma bandeira, com a frase nacional que Carlos Lacerda acha errada gramaticalmente: “Brasil - ame-o ou deixe-o”. Enquanto isso, Nélson Rodrigues clama e pergunta: Quem financia as seguidas viagens internacionais de D. Hélder? Batismo de Edson Jr. Sodré, bem informado, sabe logo da notícia do nascimento de Edson Jr. Logo, melhor assessorado, telegrafa ao Rei, afetuosamente, cumprimentando Rose e Pelé. E já batiza Edson Jr. De “Pelezinho”, para hoje e sempre. 

Faça amor e não guerra 
O juiz Isidoro de Aguiar apitou o jogo Lemense x Piracununguense. Ao final, leva uns tapas de jogadores que se julgam prejudicados. Em seu relatório à Federação Paulista de Futebol uma pregação: “Em termos de esporte, o melhor é fazer amor, não a guerra”. Como em todos. 

A TRIBUNA
30 de agosto de 1970.

Brasil já volta à democracia?

Os Estados Unidos devem manter o nível de sua ajuda econômica ao Brasil, porque o presidente Médici prometeu restabelecer a democracia e promover o desenvolvimento econômico de um país que se situa entre os maiores do mundo. No Clube de Imprensa de Nova Iorque, Nelson Rockfeller diz a sua frase, quando também pregou a “intensificação da ajuda militar no Continente, sem farisaísmos, e a ampliação da ajuda econômica... e completa assistência financeira aos países do Sul”. No Rio, o ministro Buzaid diz que o Governo apurará as denúncias de tortura, “cujos métodos sofisticados não deixam marcas”. Em S. Paulo, o Governo Estadual não quer passar por carrasco E o “estadão” e o “Jornal da Tarde” fazem editoriais duros, de alto nível, advertindo seriamente as autoridades constituídas e reclamando providências de humana justiça. Em Brasília o presidente Médici completa 64 anos e anuncia que o País atingirá a democracia plena. Talvez, antes mesmo de completar duas vezes a idade de Cristo. A ARENA fixa posição a respeito da reforma da legislação política e eleitoral. O Congresso será convocado extraordinariamente para decisões de importância. Dentro de seu túmulo, em seu descanso de velho lidador democrático, Mangabeira deve estar-se remexendo. A arvorezinha da democracia brasileira está crescendo. Como queria. Ao lado de tantos democratas, das gerações de 50 e 60. 

Por que atacam 
Mário Cuichini, jornalista, relações públicas da Companhia do Metrô, calmo e indignado: - Por que só atacam o prefeito Paulo Maluf? As obras que estão em toda cidade, foram, em sua maioria, projetadas por Prestes Maia. Muitas delas, iniciadas por Faria Lima. Maluf pegou o rabo-de-foguete, e com grande coragem e dinamismo, as concluiu. Por que, então, o atacam tanto? 

O que é cordel? 
Aula de folclore no Museu de Artes e Técnicas Populares do Ibirapuera. Um pesquisador, menos que professor, define a literatura de cordel brasileira: - O cordel nortista é a literatura do povo para o povo. É literatura popular impressa. O jornal do sertão nas feiras do Norte. Cordel, porque os livretos são pendurados em cordinhas. As gravuras de suas capas são arte popular das boas. O cordel é, ainda, no País, manifestação autêntica da nossa cultura popular. 

Pelé na História 
O primeiro gol profissional de Pelé foi marcado contra o Corinthians de Santo André. Dia: 7 de setembro de 1958. O mil-gol profissional de Pelé foi marcado contra o Vasco. Dia: 19 de novembro de 1969. Dia da Pátria. Dia da Bandeira. Pelé. Pelé. Pelé.

TRIBUNA DE SANTOS 7/DEZ/1969.

Até quando? Até sempre?

Delfim Neto contesta McNamara sobre explosão demográfica. Os países em desenvolvimento - não existem mais países pobres - entram na cúpula do fundo Monetário Internacional. O Brasil é um deles. Com o avanço do marxismo no Continente (Cuba, Chile), e o nosso país se projeta como nação líder da democracia no hemisfério Ocidental. É o Brasil de Médici que se afirma. O terrorismo está com as fileiras destroçadas entra em recesso vigiado. Murilo Mello Filho, na “Manchete”: Diminuíram os assaltos, interromperam-se os raptos de embaixadores. Lança os planos de Integração Nacional e Social. Inicia a Transamazônica. Declara guerra ao analfabetismo. Tudo isso no rescaldo popular da Copa do Mundo, vitoriosa nos gramados e nas ruas. Cercado de perigo ao longo de toda a Cordilheira dos Andes e ouvindo o troar dos canhões na Jordânia, o Brasil apresenta-se hoje ao mundo como um Oasis de paz, sossego, tranqüilidade, confiança, otimismo e trabalho. Até Quando? Até sempre? 

Mr. Pelé the Best 
Pelé faz das suas e os Estados Unidos deliram de Leste a Oeste. Kenneth Turan, do The Post: - Pelé não tem a arrogância dos grandes Astros norte-americanos que recebem altos salários. Modesto, amável, milionário acessível. O sorriso cordial, a face bastante expressiva, a agradável voz abaritonada, tudo parece marcar o poeta. Mas a barriga da perna desenvolvida e os tornozelos à prova de choque fazem a identificação inevitável di rei do futebol: Pelé. 

Alô, alô, Teresinha 
Não bastasse a televisão, Chacrinha agora melhora, tem página diária na “Ultima Hora”. O Velho Guerreiro reaaaaalmente faz sucesso com o seu jornal sem igual. - O novo elepê do Paulo Sérgio tem arranjos orquestrais quadrados e desajustados... E a capa do elepê do Jerry Adriani, diz-me a Teresinha, é muito bacaninha... Remexa o seu baú, e veja se lá tem urubu... Ontem eu vi a Vandeca, que reaaaaaalmente está uma boneca... O meu programa continua com atrações que são verdadeiras sensações.

A TRIBUNA 
Santos, 27 de setembro de 1.970

As chuvas chegaram com tempestade política

A maior seca dos últimos 50 anos, em São Paulo, foi quebrada com a chuvinha fina, insistente, nervosinha, da última quarta-feira. As chegaram com outra tempestade política na área estadual. Repete-se para o governo Sodré o episódio Herbert Levy - mas, desta vez, quem se retira dos quadros oficiais é o próprio vice-governador do Estado. Quem é acompanhado em sua rebeldia por uns poucos ex-ademaristas, sempre reivindicantes, e na tona dos acontecimentos políticos neste Estado nos últimos anos. A política nossa-de-cada-dia continua a ser, ainda, a arte do diálogo e da saúde. Bastou que Sodré se isolasse nas asas de um jato puro no Norte-Nordeste para que o seu comando a sua liderança e o seu diálogo fizesse falta na província. O quadro se agravou com a gripe curtida pelo governador em Manaus, onde o espetáculo ao ar livre foi na base dois índios amestrados do Rio Negro. Mas, para os que não acreditam, aí está: a estrela de Sodré refulge a cada passo. Para a Secretaria da Segurança vai um oficial brilhante, curtido na luta e velho amigo do governador: Olavo Viana Moog. E na pasta do Interior, fica, afinal, o bacharel, jurista, companheiro acadêmico e de lutas políticas de Sodré. O prof. Hely Lopes Meirelles. 

Bienal é boa com defecções 
João Tabajara de Oliveira, chefe do Departamento Cultural do Itamarati, informa que a X Bienal, apesar das defecções de alguns países e artistas engajados, será muito boa. E Radhá Abramo, ex-secretária da grande mostra brasileira de artes plásticas: - A verdade é que a Bienal é feita por diletantes, médicos, economistas, industriais, amantes da arte que nunca entenderam coisa nenhuma. A Bienal é hoje um embuste da arte. 

O repórter, um repórter 
Sem maiores lances e vibração as reportagens de Carlos Lacerda, no “Jornal da Tarde”, sobre o país do conto de fadas, Uganda, e outros países africanos. Nas mesmas edições, mestre Luiz Edgar de Andrade analisa, com grande poder de síntese e objetividade, a Psicanálise. Luiz Edgar foi pupilo de Lacerda na “Tribuna da Imprensa”. 

De nu, sexo e erotismo 
Diane Boisclair, loura canadense, é eleita em Roselawn, Indiana, “Miss Nudista” dos Estados Unidos. O musical-protesto inglês Hair estará em cartaz até o fim do mês no Teatro Miami, na Praça Marechal Deodoro. Ao final da peça os atores tiram a roupa e jogam flores na platéia. “É um grito de liberdade, os atores não se despem burguesmente, ficam apenas nus”. Faça o amor e não a guerra.,diz o autor. E em Broome Street, 429, Nova Iorque, foi inaugurada a primeira boate erótica do mundo. As reservas estão esgotadas até 1970. 

Quem ganhou com a Apolo-11 
Eugene Ionesco, teatrólogo, fama internacional: - Escritores e intelectuais de esquerda continuam a discutir motins, greves e casos sentimentais. Dão as costas para o feito extraordinário da Apolo 11. Há vários anos, quando o Sputinik entrou na órbita espacial, foi saudado como vitória do socialismo. Agora a vitória é dos Estados Unidos, do homem universal, mas nem isso reconhecem. As frases da semana “A idéia do porto, no cais de conceiçãozinha, é de Sodré”: Ministro Mário Andreazza. “Não uso pílula, sou um homem feliz”: Pelé. “Na hora decisiva, entrega-se a descrição do feito da Apolo a locutores ignorantes, improvisados, quase imbecis, perdendo o Brasil a oportunidade de convocar os entendidos e cientistas para esclarecer a juventude e o povo”: Flávio Pereira. “Eu não vou chorar no enterro dos outros”: Paulo Lauro. 

 A TRIBUNA 
Santos, 10 de agosto de 1.969.

ARENA formada, sucessão colocada

Não é meramente simbólica a briga entre os correligionários dos Srs., Abreu Sodré, Carvalho Pinto, Faria Lima, Adhemar de Barros Filho, Laudo Natel e Hilário Torloni, que, de livro de atlas debaixo do braço, lutam na Capital e no Interior por obter maioria dos diretórios municipais da ARENA e, depois, no Regional. Afinal, todos vêem, se for mantido o princípio da eleição direta para o cargo de governador, a luta pela indicação do nome do candidato terá por base o Diretório Regional do partido. Por outro lado, lembra-se que a Lei das Inelegibilidades será conclusiva, no sentido de vetar candidatos: se ex-governadores, por exemplo, forem inelegíveis, já estarão fora do páreo. Carvalho Pinto, Laudo Natel e Hilário Torloni. Idem, para ex-prefeitos - o exemplo atinge Faria Lima, já se vê. E ainda resta a configuração da eleição indireta, onde os nomes lembrados se chamam Gama e Silva, Delfim Neto, Paulo Maluf. Ou um nome diretamente escolhido entre o comando revolucionário e o governador Sodré. Este, é evidente, pesará na sua sucessão. Quilos. Arrobas. 

Esse jansen é corajoso 
Quando as Bienais cortam, vetam e renegam os primitivos é de admirar-se ver-se um Sr. padre Francisco Jansen, de Rio Preto, contratar o primitivo José Antonio da Silva para pintar a Via-sacra, na igreja da Vila Redentora da cidade. As telas, 16, já estão penduradas e inauguradas no santuário, após missa celebrada pelo bispo diocesano,, d. José de Aquino Pereira. O padre Jansen é holandês. 

O turismo de Cabral 
Num arroubo, em recente solenidade, o secretário de Turismo, Esporte e Cultura, Orlando Zancaner, afirmou que os primeiros turistas do Brasil se chamaram Casco da Gama, Pedro Álvares Cabral e padre Anchieta. O secretário Zancaner, já eleito duas vezes, em S. Pulo, o “Secretário do Ano”, acaba de obter sucesso internacional no recente congresso realizado em São Domingos. 

Senado: clube de anciões? 
Carlos Castelo Branco, o habilíssimo, em sua coluna no “Jornal do Brasil”: “A necessidade do Senado como câmara revisora tem sido posta em dúvida com elevada freqüência em épocas diferentes. Ainda há dias o Sr. Pedro Aleixo relembrou ao governador Rockfeller o debate entre Jefferson e Hamilton sobre o assunto. Jefferson tomava chá, derramando-o da xícara ao pires para esfriá-lo, enquanto ouvia os argumentos de Hamilton contra a existência de duas Câmaras. Como Jefferson permanecesse em silêncio, seu interlocutor cobrou-lhe uma resposta. “Estou respondendo”, disse Jefferson, e mais uma vez derramou chá no pires para esfriá-lo, dando assim a entender que o papel da segunda Câmara era o de conter os excessos da primeira”. 

Ele ainda quer mamar 
O presidente Arnaldo Cerdeira ao repórter, nível-internacional, Reali Júnior: - Quem está quieto, no Interior, na formação da ARENA, é o Herbert Levy. Mas ele tinha feito um bom trabalho anteriormente, os “herbertistas” ainda são legião. O Herbert, evidente, está deixando a gente segurar a vaca da ARENA. E depois, com ela segura, vai querer mamar... 

Ela cura rei Pelé
No Hospital Miguel Couto, Pelé faz tratamento de ultra-som. Chamam Pelé para ser fotografado ao lado do secretário da Saúde. Pelé, que já andara distribuindo bronca naquela manhã, não gosta. Insiste. E o rei, realista: - Foto por foto, prefiro tirar com ela. E aponta a gentil enfermeirinha do Hospital. Faz Frase: - Dela, pelo menos, depende a minha cura. 

TRIBUNA DE SANTOS 
6 de junho de 1969.

Amar e viajar o Brasil de Joelmir

Brasil - ame-o ou deixe-o. De quem é essa propaganda que aparece nos carros, nos postes e nas casas? É o Brasil que morre de fome no Nordeste e vê Pelé direto, do México, pela televisão. O Brasil que continua a crescer desordenada e vertiginosamente, segundo os dados oficiais. Mas bom mesmo é Joelmir Betting falando de um dos nossos grandes fatores de progresso: o caminhão. Cortesão e Taunay contaram dos feitos dos bandeirantes. Alípio e Goulart, das tropas e dos tropeiros. Bernardino José de Souza, do ciclo do carro de bois. Simonsen do papel do trem no desbravamento do sertão. Agora é Joelmir, e a sua apologia do caminhão. O caminhão não escolhe carga. Leves, médias, pesadas, densas, volumosas, sólidas, líquidas ou gasosas. O caminhão vai onde o navio não entra, o trem não chega, o avião não toca. E vai também onde o navio encosta, o trem pára, o avião desce. O caminhão coloca o arroz gaúcho no Nordeste, a couve paulista no Rio, o peixe do mar em Brasília, o boi goiano em São Paulo, o carro novo em Belém, a turbina em Jupiá, o piano no palacete, o jornal na rua, o gelo no bar, a gasolina no posto, a cana no engenho, o açúcar no empório, o leite na usina, o minério na fundição, a terra no brejo, o asfalto no chão, a pedra na casa, o homem no sertão. O bandeirante, o tropeiro, o carro de boi, o trem, o judeu, o turco, o vendedor-viajante. O caminhão de Joelmir. Brasil - ame-o ou viaje-o. 

Pelé no Sion 
A transmissão direta da Copa penetra os lares. Gente que nunca viu futebol agora dá palpite. Pelé assunto na alta-roda nos jardins (América, Europa, etc.), no Sion. Sylvia Maria Laraya, 15 anos, aflita: - Assim com esses romenos tão brutos, não é possível jogar. E o Pelé, coitado, já tem 46 marcas nas pernas. Quarenta e seis! 

Pelé no 13 
Salomão Esper continua primeiro e único. No telefone ou ao vídeo da Bandeirantes. Mas nunca deixa de encaixar as suas boas deixas. “Primeira Hora”. José Paulo de Andrade fala dos 1027 (já) gols de Pelé. Mais comemorações. E Salomão: - Tá certo. Mais uma homenagem ao Corinthians também deviam fazer. Dos mil e tatos gols, metade deles Pelé fez no Corinthians. Pelé nas “Folhas” As “Folhas” são tão corintianas como o “Estadão” tende para o São Paulo e “A Gazeta Esportiva” torce pelo Palmeiras. Um estudozinho a respeito pode ser tentado pelos jovens tão dispostos da Escola de Comunicações. Mas Pelé suplanta tudo. A “Folha”, sem deixar de lado Rivelino, tem elogiado o Pelé da Copa do Mundo. Manchetinha da “Folha da Tarde”, edição de quinta-feira: - Diziam que esta era a última copa de Pelé. Parece a primeira. 

TRIBUNA DE SANTOS 
Santos, 14 de junho de 1.970.

Abecedário da Sucessão

Assumindo o comando político da ARENA, em toda a sua plenitude, o presidente Médici influirá certamente no debate sucessório dos Estados, agindo na escolha dos candidatos, que poderão ser indicados até ante sua preferência pessoal e direta. Não são vãs as palavras do cronista de Brasília. A sua chegada em São Paulo, hoje, o presidente já apertará a mão, em Congonhas, do futuro sucessor do governador Sodré. Quem será o “de cujus”? O marechal tem à sua escolha um abecedário político completo. De A a Z. Todos disputam, com maiores ou menores possibilidades, do G. P. “São Paulo”. Uns disparam um tiro direto, outros costumam desgarrar, terceiros são novos para a turma, há alguns cujos exercícios são excepcionais. O abecedário sucessório de S. Paulo, para sua excelência apostar: Antonio Rodrigues Filho, Buzaid, Carvalho Pinto, Delfim Neto, Hely Lopes Meirelles, Firmino Rocha de Freitas, Gama e Silva, Herbert Levy, José Henrique Turner, Klabin Segall, Lucas Garcez, Maluf, Natel, Onadir Marcondes, Paulo Egídio Martins, Rafael Baldacci, Sodré (NN), Torloni (NN), Virgílio Lopes da Silva, Waldemar Lopes Ferraz, Yassuda e Zancaner. Foi dado o “larga”. Hoje.
 
Torcedor sofredor 
Numa entrevista ao repórter-de-campo Roberto Silva, da Bandeirantes, o governador Sodré elogia a construção do “Paulistão”, que o Presidente inaugura hoje. Destaca o trabalho da iniciativa particular em levar avante a idéia de Cícero Pompeu de Toledo. E Sodré se confessa sampaulino, desde os tempos da meninice em Perdizes. Muitas vezes, garoto, ia ver o tricolor jogar, misturando-se entre a torcida uniformizada. - Naquele tempo o São Paulo F. C. ganhava. Hoje, sou torcedor sofredor. Mas não mudo de time. 

Velha lira paulistana 
Há 30 anos, na mesma data de hoje, Mário de Andrade retratava a cidade que aniversariava. E que amava. Eu nem sei se vale a pena Cantar São Paulo, na lida Sá gente muito iludida Limpa o gosto e assopra a vela, Esta angústia não serena, Muita fome pouco pão, Eu só vejo na função Miséria, dolo, ferida, Isso é vida? Pois nada vale a verdade, Ela mesma está vendida, A honra é uma suicida, Nuvem e felicidade, E entre rosas a cidade, Muita concha e relambória, Sem paz, sem amor, sem glória, Se diz terra progredida, Eu pergunto: Isso é vida? 

TRIBUNA DE SANTOS 
25 de janeiro de 1970.

A travessura da arteônica

O que é escatologia? Outro dia, em Ubatuba, numa roda de alto nível, na casa de “Ciccillo” Matarazzo, ninguém sabia responder. E a arteônica, o que é? Certamente não é um neologismo do autor de “Macunaíma”. Pois escatologia é uma expressão teológica, usada com os anúncios do fim do mundo. E arteônica é um termo de arte, significando a arte eletrônica. Arte que, na última travessura inteligente de Sodré no Governo, será S. Paulo a partir do ia 8 próximo. Arte eletrônica: um filme realizado com raios Laser; o uso da linguagem cibernética; uma música programada e executada por computador; sons e imagens coloridas comutadas por meios eletrônicos; leitura de imagens por células fotoelétricas; coreografia e dança eletrônicas... O professor Waldemar Cordeiro, também artista arteônico, vibra quando fala da exposição internacional que ele organiza e a Pinacoteca de Delmiro Gonçalves promove. No “Pep’s”, filosofa Almeida Salles: A arteônica pode tudo, menos terminar a “Sinfonia Inacabada” de Schubert ou criar a “Décima” de Beethoven. Na imprensa, o debate mais amplo entre os sociólogos, filósofos e religiosos: o computador e a eletrônica dominarão o homem? É válida a materialização do som, das cores e das imagens já conseguida pela avançada tecnologia eletrônica da Iugoslávia? No campo cultural, pode-se afirmar: o governo Sodré foi realizador e, sobretudo inteligente. A “bomba” que Sodré solta, ao final de sua administração, é de grande impacto. O paulista, depois da arteônica dos 20 países participantes, só vai querer saber de vanguarda. Adeus primitivos, concretos e abstratos verde-amarelos. “Ciao”. Bienal. Vamos de arteônica. 

Piza fala 
Quatrocentão e trabalhista. Médico e administrador provado. Homem de letras e senhor rural. Esse é Wladimir Piza, ex-prefeito da Capital, hoje vivendo entre a Capital e Ubatuba. Piza sabe tudo e é um arquivo de primeira ordem da política brasileira. dos últimos 40 anos. O que queria Getúlio em 30? Como os paulistas se levantaram em 32. Como foi a redemocratização de 45? E o episódio da escolha de Adhemar para interventor em 38? Quem ficou com a “caixinha”? Como Vargas voltou ao poder em 50? Por que caiu em 54? E a eleição de Jânio em 53? E a renúncia deste em 1961? E Jango, como foi sua fuga em 64? Vamos aguardar o “best-seller” de Piza, minha gente. 

A TRIBUNA 
Santos, 28 de fevereiro de 1971.

A sucessão é uma sucessão

De nomes. A nossa sucessão é a própria sucessão de nomes. No Sul, temperado à gaúcha e com muito vinho, surge unânime o nome do ex-prefeito de Caxias. No Paraná, assentam as araucárias, e Nei Braga & Paulo Pimentel acordam por um candidato único. Na Guanabara, o sucessor de Negrão é um dos dois jornalistas, sem contestações: Chagas Freitas ou Álvaro Americano. E aqui? Em S. Paulo, o que se sucede são os nomes dos postulantes... Delfim retira-se do páreo, ante determinação presidencial, e atiça Laudo Natel... Carvalho Pinto pede um estadista, que compreenda a juventude... Paulo Egídio, cara de lobo mau, continua à espreita... Herbert Levy, sem nada de mineiro, trabalha em silêncio... Gastão Vidigal é o candidato do grande jornal, depois que altos escalões vetaram Meira Matos... Miguel Reale vai às coxilhas como reitor e volta quente... Na área do Palácio, para o frigir dos ovos. São engatilhados Hely Lopes Meirelles e Antoninho Rodrigues. Quando é que Médici, & Rondon & Garcez & Sodré destrincham a sucessão paulista? 

São Paulo é São Paulo 
Gilberto Adrien entusiasmado com a fulminante carreira jornalística de Joelmir Betting, titular da página de economia das “Folhas”. Há alguns anos era, no Interior, um carregador de bananas. Depois serviu, como secretário, durante 10 anos, ao Pe. Donizetti, em Tambaú. Hoje, depois de alguns estudos e outros lances, é o jornalista mais falado da nova geração. Tom Zé era, na Bahia, um pouco mais que um capitão - de - areia. Veio para São Paulo, ganhou um festival. Agora é professor de violão numa galeria de arte da Bela Cintra. Do seu catálogo luxuoso: Tom Zé ensina, em duas aulas semanais de 55 minutos cada, guitarra, bateria, baixo - eletrônico, harmonia funcional e composição popular. E “sofisti - balacobaco” - muito som e pouco papo. 

Lacerda é o Lacerda 
Continua bravo e com uma briguinha violenta com o pessoal do cinema-novo. - O maior aliado do subdesenvolvimento é a sub-cultura. O conformismo social, o pedantismo artístico, a incompetência técnica, o primarismo intelectual, o colonialismo político chamado “cinema-novo”... os beneficiários do desajustamento e do atraso cultural dominante no Brasil... os expoentes da confusão de valores... a impostura do cinema-novo acabou 

A frase da semana “Passo ao meu sucessor, a 15 de março de 1971, um governo consciente, planejado, sério, audaz, fiel, disciplinado, técnico, honrado, e, mais que tudo, com obras e filosofia”. (Abreu Sodré, esta semana, em solenidade no Parque da Água Branca). 

TRIBUNA DE SANTOS 
15 de março de 1.970.

A pregação na Feira da Rússia

Ao deixar o governo aos 52 anos, o Sr. Abreu Sodré não poderá disputar quaisquer cargos eletivos. Poderá aceitar uma embaixada no Exterior, voltar à sua banca de advogado ou hibernar, na espera, em sua fazenda na média Sorocabana. Em dois discursos recentes, pronunciados nas inaugurações da Exposição “Átomos da Paz”, promovida pela embaixada dos Estados Unidos e Feira da Indústria e do Comércio da União Soviética, ambas no Ibirapuera, Sodré deixou a sua marca de homem público definido. Não há povos incompetentes, há povos a que se negam oportunidades, mantido sem economia reflexa, condicionados a interesses externos e a subordinações políticas... A consciência moral, histórica, social e política contemporânea repele hegemonias ou distribuição, pelas superpotências militares e industrializadas, com egoísmo, impedirem, pela violência militar, pressões ou métodos invisíveis, mas eficazes, de domínio econômico, o livre desenvolvimento das nações que submetem... Não há desenvolvimento sem autodeterminação se as superpotências industrializadas, com egoísmo, impedirem pela violência militar, pressões ou métodos invisíveis, mas eficazes, de domínio econômico, o livre desenvolvimento das nações que submetem... Eliminem-se, por se expressão de hipocrisia internacional, as supostas razões ideológicas no comércio internacional... O comércio exterior é também teste de soberania de um povo... Queremos ser livres para comprar, para vender e para viver... Sodré falava e o embaixador russo, muito vermelho, olhava as estrelas. Que esta exposição seja mais uma contribuição para o ideal a que aspiram todos os povos: o bem-estar, a liberdade e o progresso. 

Oportunidade da Juventude 
Repórter político dos mais sagazes que o Brasil conhece, Murilo Melo Filho tomou o jatinho da Líder e foi ouvir o presidente em Bagé. O general Médici à “Manchete”: “Nunca, como hoje, tive tanta esperança no Brasil, nas suas inesgotáveis reservas de patriotismo, na sua capacidade de trabalho e de sacrifício. Tenho certeza que a Nação inteira responderá ao nosso apelo de ordem, disciplina e união... A juventude aí está, exigindo o máximo que lhe pudermos oferecer em horizontes e oportunidades. É para ela, como reserva do amanhã, que se devem voltar as nossas maiores preocupações. 

TRIBUNA DE SANTOS 
26 de outubro de 1.969.

A poluição e os pedreiros

Londres pôs a boca no mundo. O nova-iorquino não agüenta mais. Aqui, também, o problema da poluição, do ar e das águas, aumenta dia a dia. Benedito Eduardo Barbosa Pereira é um engenheiro que gosta das praias de Ubatuba. Em São Paulo, agora, sua missão, que lhe foi entregue pelo governador Sodré, á acabar com a poluição. Ele sabe que a tarefa é dura e inglória. Todos poluem tudo - e quase impunemente. Mas o diretor da SANESP está disposto à luta. Em seu discurso de posse, contou aquela história dos pedreiros. Numa cidade construía-se uma catedral. Um dos pedreiros fazia uma parede. Perguntado sobre seu trabalho, disse que fazia um muro. Mais adiante, a mesma pergunta, para outro pedreiro. Resposta: “Faço uma catedral”. Barbosa Pereira entra querendo erguer uma catedral, segundo suas próprias palavras. Tem também outra estória de pedreiro, este conhecido por sua habilidade. Era de Rezende e foi ajudar a construção da Academia das Agulhas Negras, como voluntário. Concluída a obra, era visto pelas esquinas, dialogando: “Quando tem areia, pedra e cimento, o tenente não quer; quando tem areia, pedra e cimento, o tenente quer, o capitão não quer; quando tem areia, pedra e cimento, o tenente que, o capitão quer, o major não quer; quando tem areia, pedra e cimento, o tenente quer, o capitão quer, o major quer, o coronel não quer;quando tem areia, pedra, cimento, o tenente quer, o major que, o coronel quer, o general quer - CHOVE! Moral: esta historieta nada tem a ver com a Convenção da ARENA, hoje, e os três candidatos que querem o Senado. 

De “soutiens” 
Frases dos cartazes de rua dos “soutiens” Vivien, evidente, maliciosa, dirigida às mulheres: Você tem dois motivos para usar os “soutiens” Vivien. Agora, vem o cronista Armando Ferrentioni, do Diário Popular e denuncia: ... Esse cartaz é “chupado” do Advertising Age... A Norton “chupou” violentamente o anúncio americano... Mesmo assim, notamos algumas diferenças: os seios da modelo brasileira são melhores, o “soutien” Vivien é mais bonitinho, tem uns bordadinhos em azul que o americano não tem... E é pena que a reprodução não seja a cores. 

De Pelé
Raimondini: Pelé já foi convidado para dar um golpe de Estado em país da África do Sul. É conhecida a disposição apolítica de Pelé. D. Eugênio Sigaud, em artigo especial para “O Globo”, nesta semana: “Felizmente o socialismo vai fracassando em todos os países da Europa livre. A reviravolta da Inglaterra foi salutar. E para ela acabou contribuindo a derrota da Inglaterra diante do Brasil, no Campeonato Mundial. O clima já era de descontentamento na Inglaterra. Veio a derrota para o Brasil. A revista “L’Europeo”, de Milão, diz: o subsecretário do Partido Trabalhista, Gwyn Morgan, achaque quem derrubou o Gabinete Wilson foi Pelé. E diz isso com todas as letras e perfumarias dos ingleses. 

 A TRIBUNA - 2 de agosto de 1.970.

A patota do Pa-tro-pi

O que o governo não deseja é a volta dos Executivos estaduais aos ex-governadores. Sem exceção. É fevereiro. É preciso saber ler atentamente os jornais neste mês de carnaval. As três linhas inocentes do “Estadão”, vindas de Brasília, não são tão inocentes assim. Só em S. Paulo, afastam do páreo estadual os ex-governadores: Lucas Garcez (ia indo de galopinho), Laudo Natel, Hilário Torloni e Carvalho Pinto. Um naipe do “melhor do melhor”, como diria o Zé Tavares. Nos outros Estados, ficam fora da jogada, entre outros: Nei Braga (Paraná), Magalhães Pinto (Minas Gerais), Virgílio Távora (Ceará), Macedo Soares (Rio de Janeiro), Correia da Costa (Mato Grosso), Cid Sampaio (Pernambuco) e Lomanto Júnior (Bahia). O presidente aproveita os dias de carnaval, em Brasília, para dar início à sua ação pessoal, com vistas á sucessão nos Estados. Caber a Rondon Pacheco levar as sugestões de nomes, década Estado, a Médici. Diz ele: “Mineiro, se tem, poeira, vai na frente; se tem porteira, vai no meio; se tem atoleiro, vai atrás”. O presidente vai, então, iniciar as consultas do ano sucessório: SNI, comandos militares das diversas áreas, etc. É fevereiro, em nosso país tropical. A patota política do pa-tro-pi está agitada. Como diria o pessoal de Ipanema. (de uma conversa no Salão Nobre) 

Não convém abusar? 
- O governo não permitirá a exploração desenfreada do sexo e do erotismo. O ministro Buzaid empreende a sua cruzada. O difícil é distinguir licenciosidade de simples malícia. Exploração comercial do sexo de moralismo. Falsa moral e erotismo. Educação sexual de pornografia. Como conciliar Millor e Corção? 

Concurso de A TRIBUNA
Com a coroa mexicana, no Chile, Pelé chega aos 1.015 gols. Está marcando bem e fácil, de novo, passada a promoção nacional dos mil gols. O Rei, agora, está na rota dos 1.40. É a festa da Tupi. Por falar: com quantos gols Pelé encerrará sua carreira, em 1973? 1.132? 1.247? 1.305? É campanha boa para “A Tribuna”. 

A frase da semana? “A gratuidade não resolve o problema do estudante, uns trabalham, outros não; as bolsas de estudo universitárias são o caminho certo; estamos, na verdade, criando neste Estado uma autêntica democracia de oportunidades, através da inteligência e da cultura”. Abreu Sodré “A Tribuna”

Santos, 8 de fevereiro de 1970.

A orquestra arenista e desenvolvimentista

No berçário das Laranjeiras nasceram os três últimos governadores indicados pelo presidente, por sinal, todos eles oriundos do partido dos lenços brancos. Padilha, Rondon e Sátiro, neste ano de Copa ganha e terrorismo confinado, completam o quadro sucessório brasileiro. São 22 futuros governadores, todos escolhidos pessoalmente por Médici, após as triagens políticas, partidárias e da segurança. As orquestras estaduais foram afinadas com a sinfonia da Revolução para a arrancada do desenvolvimentismo da década de 70. Dez deles são políticos, que atende, contudo, às vertentes revolucionárias de cada Estado, e doze são eminentemente técnicos. O Norte e o Nordeste ganharam governadores exclusivamente técnicos, é a Transamazônica de Médici que sai, mesmo. Daqui para a frente, tudo vai ser diferente, como na canção de Roberto Carlos. Um só maestro, uma só partitura, um só poder central. Nenhum descompasso, nenhuma distorção regional, a Federação como um todo. Entretempo, dizem os futurólogos, cairá o AI-5, as eleições diretas voltarão, a plena democracia vingará nestes brasis. Música, maestro. 

Na grande área 
Pelé volta ao Santos e o alvinegro bate em no Palmeiras, com o crioulo, segundo os jornais, dominando o campo no pé e no berro. Depois o “Negrão” segura por milhares de dólares, em Londres, suas camisas e suas chuteiras imortais. E faz muito bem. Mas a foto do ano foi esta TRIBUNA que publicou. Na edição de domingo. Pelé vinha da Copa do Mundo enfeitado, consagrado e endeusado. Mas ali, na Vila, no Santos, com seus companheiros, em fila, treinava como um jogador qualquer. E na hora dura da ginástica do Mazzei. 

Na área do terror 
Massafumi Yoshinaga. Celso Lungarelli. Quem será o próximo? A advertência da proclamação deste último “Ao Mundo e aos jovens”: Tenho esperança de que os tombados até agora nesta guerra inútil... Reflitam... Pensem cada atitude, antes de se comprometerem em idêntico desatino”. - Que todos saibam que essas minorias totalitárias as quais pertenci, organizam-se como verdadeiras sociedades clandestinas de crime e de terror; que seu objetivo é matar e destruir; que sua intenção é envolver o país numa sangrenta guerra civil que só trará a anarquia e a morte ao solo brasileiro. 

Na área alada 
O gosto de Carlos Lacerda pelos pássaros não é recente. Certa vez trouxe o corvo “Vicente” de Portugal e desmoralizou os que o chamaram assim. Em 1962, governador, deu a Garrincha, campeão mundial, um célebre mainá. Agora ele está em S. Paulo, após incursão de 3 dias em Mato Grosso, onde foi reportar “in loco” as denúncias do estrangeiro sobre torturas em nossos índios. E, na capital paulista, aproveitou para renovar seu estoque, para o sítio em Petrópolis: 40 casais de pombos ornamentais. 6 tucanos, 8 araras, 30 pássaros exóticos, canários Roller, os belíssimos “Diamond Gould”... Estes são chamados de “Pucci” por Sodré, o governador, outro passarinheiro entusiasmado. 

TRIBUNA DE SANTOS, 12 de julho de 1.970.

A Oposição com sentido

O presidente indica Dario para a seleção brasileira. O presidente destrincha a sucessão gaúcha - e outras. O presidente pragmatiza. O presidente assume. O presidente fala e age. Ricardo Setti, do “Jornal da Tarde”: Deputados e senadores solicitam ao Governo uma importante decisão revolucionária: a escolha das flores que vão compor a decoração do plenário do Congresso para a sessão inaugural. Mas nem tudo são flores na área governamental. Dario é convocado e já vai para a reserva, treinando mal. O poder político não aceita certos nomes escolhidos por Médici para alguns Estados. O presidente recua e mostra-se disposto a indicar arenistas convictos para, pelo menos, os governos da Bahia e da Paraíba. O marechal Cordeiro de Faria faz histórico discurso na Escola Superior de Guerra, dentro de um contexto global de fidelidade revolucionária. Médici envia nova Lei das Inelegibilidades ao Congresso. Há uma marcha-a-ré sucessória. No caso da censura, Buzaid procura atender as reclamações dos excessos. A Oposição pede a palavra. Consentida. Com sentido. 

Elis: eu paro 
Elis Regina volta à ribalta, no “Canecão”, e com invulgar sucesso. Ontem completou 25 anos. Diz ela, ao lado de Ronaldo Bôscoli, empresário e marido: - Sinto-me tranquila e feliz. A gravidez não me prejudicou em nada. Quando chegar a hora, eu paro. 

Pelé: eu topo
O Santos quer cobrar Pelé? O Santos admite a venda de Pelé? Pelé é que tem a receber 300 milhões de cruzeiros do Santos? Pelé quer esclarecer a verdade. Eu topo. Athié Jorge Coury, no Palácio dos Bandeirantes: - Pelé não sai do Santos. Vamos acertar e esclarecer tudo. O Santos parte para renovar o seu contrato. E por mais dois anos. 

Sodré: eu faço
Moderno, funcional, abrigando cinco mil alunos (podendo ser aumentado para 10 mil), Abreu Sodré inaugura o Colégio Estadual “31 de Março”, em Utinga, na ata da Revolução. Foi um comício de mais de 10 mil pessoas, lembrando as grandes reuniões populares de S. Paulo. Muita vibração e sentido cívico na festa. E o governador: - Vamos celebrar estes seis anos da Revolução, inaugurando esta grande obra para anosa juventude. Cumprimos, assim, nosso compromisso para com o Brasil do amanhã. 

Frase da semana 
Pedro Aleixo, ex-vice presidente da República: Não sou adivinho nem vidente. Não sei se surgirá o terceiro partido. Mas a ideia é realizável e bem exequível. 

TRIBUNA DE SANTOS, 5 de abril de 1.970.

A hora e a vez do folclore e da cultura popular

Mestre Luís da Câmara Cascudo rio-grandense-do-norte, um dos sete maiores folcloristas do mundo em todos os tempos, diz preferir pesquisar Jangada e Rede de Dormir “em vez de alistar-me entre os devotos da economia estatística ou da previsão meteorologia eleitoral”. No Dia do Folclore, anteontem, o professor Rossini Tavares de Lima responde, e concorda, dizendo que o estudo do folclore é o caminho para o encontro do homem acima das nacionalidades. Sucedem-se as exposições de artesanato, o sucesso das músicas regionais e das danças típicas, da pintura mágica e primitiva. Etnólogos e sociólogos debruçam-se na cultura popular e espontânea. Em Nova Iorque, as telas de Chico da Silva, o índio acreano que vive no Ceará, são vendidas a dois mil dólares. De Paris avisa Waldomiro de Deus, nosso pintor-caboclo “hippie” e baiano, ter vendido em Montmartre e nas galerias, toda sua produção. À época dos mísseis, cibernética, computadores eletrônicos, telstares, super-robôs e viajem à Lua. Mas a grande viagem que o homem ainda faz é à volta de si mesmo. A inteligência e a cultura do povo. A intuição, o equilíbrio e a lógica. A arte espontânea. A alegria reveladora do entalhe e da cerâmica artística e utilitária. A literatura de cordel-jornal e poesia no Norte-Nordeste. Gente simples. Engenho e artesanato. Sabedoria. Ciência popular. Folclore. 

Jesus é o perfeito 
No Colégio São Luís, fala o padre Vitório Marcozzi. A psicologia de Jesus Cristo: um homem psicologicamente perfeito. Já Buda e Maomé, não. - Buda, vítima de uma grande depressão, era um maníaco destituído de equilíbrio psicológico. Maomé teve atitudes e ações com as quais uma pessoa psicologicamente equilibrada jamais concordaria. Exemplo: a chacina de Medina. 

As duas faces do progresso 
Na Associação Comercial do Rio de Janeiro, a convite do “Boletim Cambial”, o governador Sodré faz uma palestra bem sucedida, mostrando os índices de crescimento da economia paulista. Levanta-se o industrial Barbero, de Sorocaba, e contesta. Alinha uma choradeira típica do empresariado-que-deseja-tudo do Estado. Mas no mesmo instante fala o industrial suíço, radicado no Rio: - Governador, parabéns. Sua palestra foi muito elucidativa e clara. Saímos daqui, hoje, reconfortados e confiando no progresso de S. Paulo e deste país. Volto para minha fábrica, hoje, comas baterias carregadas. 

Ainda falam de Gilmar 
O colombiano pula no ar e enche o pé, imprevistamente. Felix estica-se tardiamente. No primeiro tempo, tomara um gol meio fajuto. Avelino Ginjo, competente e veterano repórter fotográfico, não se contém: - Nessa seleção brasileira, falta alguém. É o Gilmar. Não importa que tenha 40 anos. O Zamora jogou até os 45. E a Espanha manteve Zamora na seleção até o fim. 

A arma poderosa 
Fala, na ABI, o general Lyra Tavares, ressaltando que cabem à Imprensa e ao Exército na preservação e na defesa das liberdades democráticas. - Vós, como homens de imprensa, e nós, como soldados, defendemos a democracia brasileira em dois setores muito relevantes. E nesta hora em que ela se vê ameaçada. Principalmente no “front” do espírito por adversários ideológicos... estou certo de que cabe à Imprensa, ainda mais que ao Exército, a missão predominante, a responsabilidade mais direta e o papel mais eficaz na defesa e na preservação das liberdades essenciais dos cidadãos... Nenhuma arma tem o poder do jornal, nem ninguém é mais responsável do que ele no dever de ajudar a Nação. 

A TRIBUNA Santos, 24 de agosto de 1.969.

A hora e a vez do caipira

A dupla caipira Tonico-Tinoco é contratada pela TV Bandeirantes para um programa diário na televisão. Na UD, Rita Lee lança, com sucesso, a moda nhô-luk. A Secretaria do turismo edita, a cores, o folheto biográfico de Cássio M’Boy e sua pintura caipira. Carlos Lacerda, de calça de veludo e camisa moderninha, dá uma circulada entre nós e denuncia, em artigo, o caipirismo da nova Praça Roosevelt. A tropicália, que substituiu a antropofagia, perde a vez. A hora e a vez, agora , é do caipira. O presidente convoca o governador e nomeia Laudo Natel. 

Da Cidinha 
A hora e a vez. Sai espetacularmente do Canal 7 e entra, em triunfo, na Rede Globo. Ataca e defende Hebe no próximo “Quem Tem Medo da Verdade?”. Dela e de Hebe, diz Helena Silveira, voltando à crônica semanal das “Folhas”: - Hebe é uma artista sem cenários. Cidinha são os cenários sem uma artista. 

Do Firmino 
Recuperando-se de alguns dissabores, mestre Firmino Rocha de Freitas dinamiza-se de novo. Ataca obras. Corre o Interior. E para os santistas, a boa notícia: - A Via dos Imigrantes será realidade. A Anchieta terá melhorias e recapeamento. Agora chegaram os recursos: 10 milhões de dólares, de um grupo de bancos franceses. 

Do Maluf 
O prefeito preocupa-se com os ataques do “Estadão”? Correa Neto, seu assessor, calcula que cada página do jornal, e ataques a Maluf, custa 80 mil novos, à tabela atual da publicidade. Ruim, mesmo, são as árvores da cidade, pintadinhas de cal, do meio para baixo, Estão na onda do caipirismo. Por muito menos que fizessem nas árvores do “Bois de Bologne”, os franceses derrubariam o governo. 

Do Cristo 
“Superstar” é o disco da hora e da vez. Música dos ingleses Webber-Rice para a ópera moderna “Jesus Cristo”. O “imprimatur” da Igreja britânica coonesta esta música tão séria. Hélio Muniz de Souza lança o disco no Brasil. “Jesus, por que você escolheu uma terra tão estranha? Não me entenda mal, eu apenas quero saber... “Jesus Cristo, quem é você? Por quem você se sacrificou? “Você pensa que você é o que dizem que você é?”

A TRIBUNA
Santos, 26 de abril de 1.970.

A COZINHA DA COPA

Sim, o futebol, a Copa foi a comunhão do povo. É Dom Marcos Barbosa falando, em artigo escrito sobre o Trimundial. Nelson Rodrigues gerou o “Berro em flor” que corre estes brasis. Fernando Pedreira fez a melhor análise da Copa, em lúcido artigo no “Estadão”, entrando até pela sociologia da Revolução. No “Placarde”, Aimoré Moreira mostrou ter sido, no México, melhor espião a nosso favor que cronista esportivo, Leônidas, recém-chegado de Guadalajara, ao governador Sodré: Quando Saldanha acendeu os brios de Pelé, meses atrás, estávamos começando a ganhar a Copa. 

Carlos Drummond de Andrade, explodindo no seu... 

“É gooool”: 
“É longe em mim.
Sou o estádio de Jalisco, triturado de chuteiras, a grama sofredora
 Assistir? Não assisto. Estou jogando.
No baralho de gestos, na maranha
Na contusão na coxa
Na dor do gol perdido
Na volta do relógio e na linha da sombra
Que vai crescendo e esse tento que não vem
 Ou vem e é contrário... ... ... De repente o Brasil ficou unido
Contente de existir, trocando a morte
 O ódio, a pobreza, a doença, o atraso triste
 Por um momento puro de grandeza
 E afirmação no esporte”. 

Natel zangado 
Torcer pelo São Paulo F. C. parece ser, realmente, o sofrer eternamente do poeta. Alguém já viu o Sr. laudo Natel zangado? Muita gente. Os que estavam perto do presidente tricolor quando ele leu o artigo do jornalista Joel Silveira. Título da peça: Até quando o S. Paulo viver da majestade de seu estádio? 

Terror renegado Moleque estudante ou líder guerrilheiro? André Massafumi Yoshinaga, 21 anos, não é mais o Terror Amarelo. Critica Lamarca. Elogia Médici. Já faz frase de efeito: - O terrorismo, hoje em dia, em nosso país, já nada mais é que um banditismo primário e banal. 

Pelé enluarado Pesquisa: Rivelino tem a preferência nos salões da classe A. Pelé é ainda o maior da grande classe média da classe B. E Jairzinho é o tri do momento da baianada popular. Nei Bianchi, na “Manchete”, assegura que Pelé joga na Copa de 74. Mauro Ramos de Oliveira: Indiscutível: Pelé deve jogar em 74, na linha de frente dos beques. Com seus passes de gênio, venceremos a X Copa. Um cantor qualquer, numa rádio qualquer, com um sambinha bem bom: -Pelé tem os pés agora, Em cima da Lua.

A TRIBUNA 
Santos, 5 de julho de 1970.

A chave do cofre em mãos competentes

A rotina e os homens rotineiros são os esqueletos fósseis cujas peças resistem à carcoma dos séculos. Arrobas Martins não cita só Ingenieros. Argumenta com Molière e Padre Bernardes, Keynes e Galbraith. Sua biblioteca tem mais de 12 mil volumes. Hoje ninguém mais estranha sua indicação para a Secretaria da Fazenda. A estrutura moderna de organização só alcança a verdadeira eficiência com autoridade burocrática. Responsável pela reforma administrativa do Governo começou-a com amplo sucesso em sua própria pasta. A filosofia de Abreu Sodré está plenamente atingida: integrar e desenvolver. As finanças foram equilibradas e o Estado passa por fase de progresso sem paralelo em sua história. É líder do movimento familiar cristão, escuta Noel e Martinho da Vila, lê Robbe-Grillet, viaja ao Amazonas, a Jaboticabal, sua terra natal, e a Roma. Gosta do novo romance francês. Enfrentamos o desafio da explosão demográfica e as necessidades crescentes de produção e consumo. A funcionária vê Luiz Arrobas Martins, na entrevista destacada da “Manchete” e diz: Ele já é um pão. Ainda mais colorido! O secretário: S. Paulo está trabalhando para o bem do Brasil. O desafio de Wadih Helu Wadih Helu não acredita em gols de Pelé na partida de hoje: O negrão gastou tudo contra a Portuguesa. O secretário Orlando Zancaner promete um carro a Pelé pelo milésimo gol. E mais um troféu. 

Rembrandt será mostra 
Raquel Segall e Pietro Bardi organizando a Exposição Rembrandt que o Museu de Arte apresentará na Avenida Paulista. Por hora, o Museu expõe a notável mostra “A mão do povo brasileiro”. E quem vai supervisionar o tombamento do Museu - que vai passar por inteiro para o patrimônio federal - é Cândido Mota Filho, ministro aposentado do STF. Pai do “expert” Flávio Mota. 

Toda arte no título 
Da “Visão”: A China vai de Mao a Piao. Do jornal ”O Dia”: Barnard de coração novo. 

Anchieta fica maior 
Todo o latim desta semana do Sr. Firmino Rocha de Freitas, secretário dos Transportes, gasto em demonstrar que a Via Anchieta “ficará maior e oferecerá maior segurança”. Em futuro breve. Recomenda-se aos santistas a leitura atenta, na íntegra, das declarações de secretário dos Transportes, que a nossa “A Tribuna” publica. 

A frase da semana 
Quissak Júnior, artista de Guaratinguetá, despontando; “A Bienal de São Paulo, uma das maiores mostras de arte do mundo, tem dois méritos excepcionais: O primeiro de vulgarizar a cultura, popularizando realmente esse ponto específico da arte. O segundo, de dar margem ao surgimento a uma arte brasileira e, muito mais do que isso, a uma arte universal em termos brasileiros, de criatividade, de origem, de processo de gênesis inteiramente nossos”. 

TRIBUNA DE SANTOS 
19 de outubro de 1969.  

A Anchieta de todos nós

 Na Via Anchieta, as primeiras fábricas começaram a surgir para além da represa, a caminho da serra. No futuro, apenas a serra estará vazia de fábricas, mas repleta de cantinas e postos de gasolina cavados na rocha bruta. Simpático, inteligente, em rápida ascensão, Joelmir Betting é o futurólogo da imprensa paulistana. Os cariocas reclamam do “esvaziamento industrial” da Guanabara e os paulistas começaram a vociferar contra o “congestionamento industrial” da Grande São Paulo. Quem vai lucrar com isso, diz ele, a longo prazo, é o Interior. E ao invés de rodovia, a Anchieta se converterá na mais longa avenida do mundo, iluminada e congestionada pelo trafego denso de duzentos mil paulistanos e santistas que trabalharão nas fábricas da rodovia. A população paulistana sobe, por cegonha e adição, a uma taxa de 5,5% ao ano, prestando culto à aritmética dos coelhos. A indústria paulista caminha, sem “slogans” falsos, para o Oeste. Vem aí os distritos industriais de Campinas, São José do Rio Preto e Presidente Prudente. A Rodovia do Oeste é de integração populacional e econômica. A ligação São Paulo - Santos, a do lazer, está a cargo da Estrada dos Imigrantes, 180 milhões de dólares de asfalto bom e largo. E viva a Anchieta, pois. De todos nós. 

Os grandes ressurgem 
O secretário Zancaner mostra à imprensa a casa tombada de Portinari e o futuro Museu Portinari de Brodósqui. O Museu de Arte, pelas mãos de Bardi e Raquel Segall, prepara completa retrospectiva de Portinari. A Secretaria da Educação aciona a Programação Mário de Andrade, com simpósios, debates e exposições sobre o grande animador da cultura brasileira. Portinari e Mário de Andrade. Dois grandes. Ressurgem. 

São Paulo é imperialista?
Abreu Sodré diz que não é. Os depósitos arrecadados pelo Banco do Estado, nos Estados onde mantém agências, foram revertidos, nos mesmos Estados, à razão de 40% a mais do que o recebido. - Isto é muito importante quando se fala em política de desenvolvimento paulista, para se desmentir, de forma definitiva, que São Paulo deseja fazer, através de seu desenvolvimento, uma política de imperialismo brasileiro. Não temos a menor preocupação de fazermos uma política imperialista dentro do Brasil. O que desejamos é facilitar uma política de desenvolvimento em todo o País. 

A lição de Biafra Ele esteve lá. Carlos Lacerda. Biafra-70. “... é difícil haver união e paz construídas sobre o medo e o ódio. ...Esta é a primeira lição que o sacrifício de Biafra lega ao mundo de hoje... medo e ódio geram apenas ódio e medo.” 

TRIBUNA DE SANTOS 
18 de janeiro de 1.970.