A riqueza brota do solo no um município paulista, mas se perde por incúria das autoridades - Exploração urgente do petróleo encontrado em Rio claro quase à flor da terra - Peregrinação ao Catete
SOROCABA, 28 (Do enviado especial)
- “Rio Claro com petróleo por todos os lados, e perdido criminosamente pela incúria do governo” - eis, em síntese, a importante comunicação da bancada de industriais de Rio Claro, presente à VIII Convenção de Industriais, realizada nesta cidade.
A comunicação, transmitida ao plenário (300 industriais) pelos representantes rio-clarenses, Srs. Pimentel Jr., Manuel José Ferreira e Emílio Del Trati, impressionou a todos pela objetividade dos dados e abundância do material probatório.
Decisão
Após os debates (agitados), e pedido de informações do Sr. Antonio Devisate, presidente da Federação das Indústrias, entidade promotora da Convenção, ficou decidido pelos industriais, em nome da VIII Convenção:
1º) - Os industriais, reunidos na VIII Convenção, telegrafarão ao governo federal e ao presidente da Petrobrás, “solicitando urgentes providências para a exploração do petróleo rio-clarense”.
2º) A questão da exploração do petróleo rio-clarense, que interessa particularmente à toda indústria paulista, “será convenientemente estudada pela Federação das Indústrias, a fim de que possa a Petrobrás realizar urgentemente a exploração dessa imensa riqueza oferecida à Nação brasileira por Rio Claro”.
Provas
Falando em nome da bancada de industriais, o vereador Pimentel Júnior, que vem agitando o problema do petróleo em Rio Claro, fez uma longa comunicação, para desenvolver a história das pesquisas em petróleo na cidade (desde 1897). Na parte das provas da atual existência do petróleo na região, enumerou:
1. Em qualquer escavação que se fizer em Rio Claro, numa profundidade variável de 30 a 200 metros, as amostras geológicas vêm impregnadas de cheiro de petróleo;
2. Em todas as bancas de cal de Rio Claro, é comum o encontro de fósseis, comumente denominados “mãe do petróleo”, e indicativos da existência do “ouro negro”;
3. O calcário rio-clarense exala pronunciado cheiro de petróleo e, quando é queimado, para a industrialização da cal, os fornos deixam escapar forte odor de querosene;
4. Na fazenda “Lageado”, do Sr. Felício Viana, são encontrados indícios quase à flor da terra - pedras retiradas de um sopé de um barranco, ao serem quebradas, apresentam interiormente uma pasta oleosa e preta, com cheiro de petróleo.
Para reforço da afirmativa, os industriais rio-clarenses levaram para a VIII Convenção pedaços de rochas da região, todos exalando pronunciado cheiro característico do óleo. O repórter pode ter vários pedaços de tais rochas em mãos.
Além do mais, segundo a comunicação feita, o município de Rio Claro, já estudado anteriormente, foi classificado como “zona eminentemente petrolífera”.
Reforço +
Para reforço de sua argumentação, a bancada de Rio Claro levou a plenário um relatório do geólogo norte-americano Chester Washburne, que esteve em Rio Claro em 1928, contratado pelo governo do Estado, para pesquisar petróleo. O Sr. Washburne assim se manifestou na parte final de seu trabalho:
“Rio Claro está situada em grande região petrolífera, de cerca de 1.200 quilômetros quadrados, abrangendo as bacias do Corumbataí e Araquá”.
Washburne traçou ainda os possíveis anticlinais geológicos do devoniano, situada a 1.100 0u 1.550 metros de profundidade.
Chester Washburne, segundo a comunicação feita, tinha autoridade para fazer uma afirmativa avançada dessas: na época (1928) era considerado o maior técnico de petróleo do mundo: seu relatório, de grande valor científico, foi publicado pela secretaria da Agricultura, em 1930.
Pioneiros e pesquisas
O vereador Pimentel Junior dá outras informações preciosas, na comunicação que faz ao plenário, em nome dos rio-clarenses. Esclarece que Rio claro é município pioneiro das pesquisas para a exploração de petróleo. Em 1897, o paulista Eugênio Ferreira de Camargo e o técnico belga Augusto Collon realizaram as primeiras pesquisas.
Em 1906, João Quilici investiga as terras do distrito de Assistência, onde os vestígios de petróleo eram grandes. Com os técnicos ingleses Richard Coé e Alfredo Rheinfrank, Quilici faz novas perfurações, em 1908, utilizando uma perfuratriz rudimentar. O poço atinge 50 metros e os indícios são animadores. Os ingleses, a certa altura, suspendem o trabalho e seguem para a Inglaterra, levando vultoso material. Dizem que tentarão arranjar maquinaria melhor e capital. Nunca mais apareceram.
O coronel José Calazans Negreiros, 1m 1917, intrigado pelo contínuo aparecimento de massa betuminosa entre as pedras de cal, reativa as pesquisas de Assistência. Consegue despertar a atenção de Elói chaves, secretário da Justiça, o qual entusiasma o conselheiro Antônio Prado e o presidente do Estado, Altino Arantes. É fundada a Cia. Paulista de Petróleo (capital, Cr$ 280 mil). O governo empresta uma soma. Quando a perfuração está nos 300 metros, colhendo excelente material, o capital se extingue e faltam novos recursos técnicos forçando o abandono do trabalho.
Em 1930, Martinho Levy efetuou pesquisas na sua fazenda “Pitanga”, com bons resultados. Entusiasmado, mandou construir nas oficinas da firma Bruno Meyer & Filhos uma torre de petróleo, de 25 metros de altura, a primeira torre de petróleo construída na América do Sul.
Eduardo Guinle, em 1946, fundando a Sociedade Brasileira de sondagens pesquisou nas proximidades do “Haras de São José, de propriedade de Lineu de Paula Machado. Em 1950, ao perfurar-se o poço artesiano duma fábrica das Indústrias Matarazzo, foram constatados indícios positivos da existência de petróleo. O Conselho Nacional do Petróleo, já existente, não fez caso da descoberta.
Em 1952, a “Refinaria de Petróleo União” fez estudos e levantamentos numa vasta região de Rio Claro, demarcando uma área de 10 mil hectares como provável campo petrolífero. Requereu ao governo federal autorização para explorar essa área. Teve o pedido também negado pelo conselho Nacional do Petróleo.
Segundo apuramos, Rio Claro está agitada com o problema do petróleo abandonado de suas terras. Jornalistas, vereadores, industriais estão unidos para levar adiante, agora, o que sempre tiveram em mente: explorar petróleo para o país.
A campanha pelo petróleo de Rio Claro tem o apoio, inclusive, do deputado Ulisses Guimarães, presidente da Câmara Federal e rio-clarense de que se orgulha a cidade.
Todas as classes sociais estão participando da campanha. Uma passeata monstro até o Rio (Catete e Petrobrás) está prevista.
A comunicação da bancada de industriais de Rio Claro, nesta VIII Convenção, termina assim:
“A exploração do petróleo de Rio Claro se tornará memorável na história da nacionalidade, para maior engrandecimento de São Paulo e pela glória e grandeza do Brasil.”
Presente à VIII Convenção, o diretor da Petrobrás, Sr. Manoel da Costa Santos impressionou-se com a comunicação firme e clara da delegação rioclaense. Prometeu trabalhar, junto a JK e cel. Janary Nunes, para que as pesquisas iniciais, pelo menos estas, se façam com urgência na região.
TRIBUNA DA IMPRENSA
28 DE MAIO DE 1.956
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