O REPÓRTER DE UMA OBRA VIVA

Esta seleção anuncia um livro a ser publicado, cujo conteúdo vem esperando surdamente para ser ressuscitado das páginas esquecidas dos jornais velhos, empilhados, empoeirados... 

Os textos foram escritos ao toque-de-caixa das antigas redações de jornal, sob o clima entusiasmado do contínuo fazer jornalístico sem disfarces, em saborosas crônicas sobre arte e artistas, recheadas de calor humano.

No fundo trata-se de uma série de crônicas temperadas ao ritmo de uma cadeira de balanço desse verdadeiro catequista das artes como bem retratou Luiz Arrobas Martins no prefácio de Artes Reportagens, onde se vê inaugurado um modo especial de registrar a arte e o artista, até então inéditas no jornalismo brasileiro. 

Mesmo já passados mais de 30 anos seus textos continuam saborosos e atuais, ao clima de uma conversa vivamente original sobre arte, artistas, cultura e idéias. 

Os temas desta seleção foram escolhidos pelo organizador a partir de um universo ainda não de todo penetrado. O arquivo de Luiz Ernesto é múltiplo e multifacetado. Afinal, não é nada fácil adentrar e digerir os mais de 60 anos dedicados ao jornalismo, iniciados desde os tempos de “A Semana”, antigo jornal dos estudantes da escola de jornalismo Cásper Líbero, primeiro jornal que contou com sua editoria onde se destacam suas famosas “Crônicas da Cidade” e sua primeira grande reportagem, em 1949, quando cobriu o “XII Congresso da UNE”, realizado em Salvador.

Na formatação textual deste trabalho nos deparamos com o conversador exímio, capaz de captar no interlocutor mais escuso o seu raro depoimento, tudo num fino cavaquear sobre arte, pelo jornal, pela vida... Tomei nas mãos quatro grandes pastas com recortes de página inteira do “Artes Visuais” (Folha de São Paulo) e duas outras com recortes da Tribuna de Santos. Tomei-as assim, aleatoriamente, sem conhecimento dos temas ali depositados.

E Luiz Ernesto, num desprendimento sem precedentes, me entregou, assim, todos aqueles textos, recolhidos um a um. Até então é muito provável, nunca tivessem saído de seu escritório, na Praça Benedito Calixto. Somente depois que abri as pastas, já em Ubatuba, é que pude perceber o tamanho da responsabilidade e suas futuras implicações e consequências. 

E quando surgiu a ideia, a primeira coisa que nos acudiu foi: o que selecionar e o que deixar de lado? E ao abrir as pastas os textos se acumulavam, cada um compondo uma síntese única, num formato especialmente vivo e vivenciado pelo arguto interlocutor. A obra viva estava se costurando por si mesma.

Todos os textos que compõem esta seleção foram apreciados e revistos pelo jornalista. Sofreram algumas pequenas alterações, posto que originalmente escritos para a vida curta de um jornal diário. Por todo esse tempo esses textos ficaram como que surdos no reino das palavras já impressas e quase esquecidas. 

Resgatá-los, agora, foi o mote que nos moveu para ao menos, vê-los compartilhados com a imensidão de seus amigos que se formaram ao longo de mais de 6 décadas contínuas de jornalismo, seja como repórter, redator ou diretor de redação; e por tantas outras atividades, principalmente como agitador cultural, fundador de museus, incentivador de bibliotecas, curador de vozes, apaixonado aproximador de idéias, amigo de seus amigos
Luiz Ernesto Machado Kawall não pode ser mostrado por inteiro tamanha a quantidade de temas e coisas pelas quais se interessa. Ele, todo, não caberia neste pequeno livro. Escolhemos algumas de suas vozes, aquelas que achamos representativas para serem sempre lidas e relidas como se novas fossem a cada leitura. 

Esse é o Luiz Ernesto Kawall. 

Viva! 

Arnaldo Chieus

Um comentário:

  1. Parabenizo o texto em homenagem ao Sr. Luiz Ernesto Kawall, o jornalista das artes.

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