A propósito da exposição individual de José Antonio da Silva em boa hora realizada pela Cosme Velho, uma série de perguntas cabe bem nesta página:
1. Por que José Antonio da Silva, ao contrário de outros primitivos brasileiros, não é um artista realmente popular, do gosto do público?
2. Por que é, também, ignorado pela maioria da crítica, pelas galerias de arte mais em evidência, pelos salões e Bienais, pelos Museus mais importantes?
3. Por que o Silva mantém de longa data, com raros intervalos, na cidade onde mora e pinta e dirige o museu de are contemporânea local – fundado por obra e graça dele – uma guerra surda e fria, que em nada ajuda o artista e a urbe da alta sorocabana?
4. Por que José Antonio da Silva não procura, não alcança, teme o mercado além de S. Paulo, especificamente o carioca, estendendo sua arte admirável até a Europa, onde é citado inclusive nos dicionários de arte naif e primitiva de Anatole Jacowski? Por que... ... ...
A resposta às indagações talvez resultem, afinal, na própria louvação do artista Silva: é que ele é um artista autêntico, ingênuo, puro, fiel aos seus boizinhos e às suas floradas, à sua roça e à sua terra, ao Brasil ignoto e rural enfim. Não transige com sua pintura nacional verde-amarela, risonha e sofrida; não cede ao mercado dos marchands, que penam duro em suas mãos; não faz média com a crítica especializada e/ou aos eleitos das Bienais; e, finalmente, dimensionando sua arte no regional – tempo e espaço físico – constrói ainda assim um público menor, mas exclusivamente seu, sem as badalações da grande arte e dos aplausos enganadores dos engajados e compromissados. Faz bem, a nosso ver, pois, o Silva matuto e astuto, em manter-se numa posição individualista da maior autenticidade. É fiel à sua gente e ao nosso folclore, construindo uma obra assas verdadeira e de alto significado para a cultura popular brasileira. Ele é fiel aos seus instintos e aos seus arquétipos, e isso basta. Ele se aproxima, nesse aspecto, a pureza na arte de um Volpi, embora Volpi seja um racional elaborado e construtivo e Silva pinte instintiva e convulsivamente, sem autocensura, quase sensorialmente.
Isso explica que grande número de apreciadores da obra de Volpi sejam também das pinturas de Silva, e também explica que, ao elaborar instintivamente, muitas vezes Silva se perde uma produção menor, tão condenada por aqueles que o apreciam e o colocam , justamente, entre os maiores nomes da arte pictórica atual de nosso país.
Convidado pela galeria, embora não seja crítico de arte formado nem amador, fiz para o catálogo da exposição uma apresentação talvez emotiva de José Antonio da Silva. Transcrevemos aqui a primeira parte:
“Artista primitivo do Brasil ignoto,
Ignoto que acredita no deus-natureza,
Que acha, tudo, “Uma beleza!”,
Figura estridente, álacre e plena de graça,
de calor imanente e de linguagem de raça,
mensageiro junguiano da roça,
e da imaginária agrária,
retratador folclórico e teórico,
em discos, livros, quadros e falares,
da alma alegre/triste e sonora do povo,
do sertão de sua nascença e tanta sabença,
intérprete maior do inconsciente
e do coletivo popular e social,
do caboclo sofrido e do Jeca ensimesmado,
e do boia-fria explorado e patriota,
do interior caipira , sincrético e armorial.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário