quinta-feira, 10 de outubro de 2024

COM BIGODES DE NIETZSCHE E OLHOS DE OLHOS DE BETTE DAVIS

JÂNIO QUADROS SE PROPÕE A DESTRUIR O ADEMARISMO

A dobradinha popular Jânio-Porfírio, com seus 1.500 comitês de bairro e seus 350 núcleos de fábricas, ameaça a maior coligação de partidos já organizada em S. Paulo - Demagogo ou místico - Fala à nossa reportagem o candidato do PDC. 

Ex-vereador mais votado, atualmente o deputado estadual mais votado, o sr. Jânio Quadros, com sua impressionante cabeleira e seu olhar vago, alterou completamente a fisionomia do pleito pela Prefeitura de S. Paulo, já que parecia vencido pelos ademaristas. 

Ouvido sobre seu programa administrativo, numa reportagem que publicamos na página 10, o sr. Jânio Quadros teve impressões pouco concretas, revelando-se não muito seguro de sua linha de ação. 

É verdade que o “sinhor” só tem um par de sapatos? 

Meu amigo, para que mais se só tenho dois pés?

Mas o “milhão” diz que o “sinhor” anda mal vestido de propósito. 

Escute bem, irmão. Certa vez li inteirinho um livro vazio, sem expressão, tolo, que se revestia, no entanto, de uma luxuosíssima capa. Desde esse dia resolvi cuidar-me mais por dentro do que por fora.

Foram debates que presenciamos entre um popular e o candidato Jânio Quadros, no Tatuapé, e que definem bem o sentido de uma candidatura nascida nas ruas e levada agora adiante por 1.500 comitês nos bairros, 350 núcleos (secretos) nas fábricas e pela realização diária de 6 comícios populares. 

JÂNIO

Franzino, cabelos por fazer, bigode nietzschiano, olhos de Bette Davis, o cuidado mato-grossense de pronunciar cada sílaba, o terno simples em cima gola se destaca um colarinho que nunca assenta e, sobretudo, o olhar longínquo que esconde o grande místico ou o grande demagogo - eis Jânio Quadros, o candidato dos pedessistas, socialistas e getulistas (só parte), às eleições da Prefeitura paulista. 

Como deputado mais votado à Assembleia, segue uma linha iniciada há 6 anos, quando vereador: é o deputado que mais apresenta projetos, indicações, requerimentos, protestos, moções e emendas. 

Nunca faltou a uma sessão, quer na Câmara ou Assembleia, e atende diariamente a seus correligionários desde as 7 da manhã. 

CANDIDATO

Escolhido candidato pelas convenções do PDC e PSB, o Sr. Jânio Quadros viu sua candidatura encontrar sólidas bases populares, manifestada através de quase 450 pessoas a quem ele recebe diariamente na sede daqueles partidos ou no comitê central, na Rua Augusta, paradoxalmente situado no centro de um bairro grã fino. 

Seu dia de candidato começa às 7 da manhã, na chamada Casa Civil da Rua Sinimbu, pequena e feia (a Casa Militar, de seu pai, fica na Avenida Rebouças, tem jardim, é grande, quase aristocrática e reservada para os maiores contatos políticos), onde atende 70 a 80 pessoas até às 10,30 horas. 

Até meio-dia, depois, está na sede do PDC, atendendo aos correligionários.

Almoça rapidamente e por isso, às 13 horas, já está no comitê central, na Rua Augusta, onde conversa com cerca de 300 pessoas até as 19 horas, quando então faz um lanche ligeiro e vai, com as caravanas, aos comícios de bairros. 

COMÍCIOS 

Os comícios são relâmpagos, duram menos de uma hora. Só podem falar moradores do lugar e os candidatos Jânio e Porfírio, evitando-se assim explorações políticas 

Às vezes a propaganda adversária tenta obstruir os comícios da “dobradinha-popular” (apelido que o povo pôs nos candidatos), fazendo arruaças, apagando as luzes, colocando pessoas para apartar, etc.... Mas essa tática, posta em prática pelo chefe da propaganda do candidato adversário, ex-diretor da Policia Marítima, de Santos, tem refletido mal e mais entusiasma os adeptos da dupla Jânio-Porfírio.

Até agora, a “dobradinha” já realizou mais de 150 comícios. Quando o dia das eleições se aproximar, os candidatos distribuirão cédulas nas portas das fábricas. 

O COMITÊ 

O Comitê Central fica num prédio velho na Rua Augusta, com 4 andares e um terraço que, bastante isolado, é o local das conversas mais secretas dos candidatos. 

Desde o porão, onde o retrato do sr. Getulio Vargas anima o trabalho do grupo trabalhista, chefiado pelos srs. Chaves Amarante e Roberto Pimentel, até o galpão, local do Comitê de Imprensa - veem-se pessoas pobres e humildes esperando por um “prosinha” com os candidatos. 

Em meio à gente toda, Jânio Quadros, Porfírio da Paz, seus familiares (os melhores secretários de Jânio são sua mãe, o pai, a irmã e a esposa), deputados como Rogê Ferreira, Wladimir Piza, Scalamandré Sobrinho (que já fundou mais de 300 comitês pré-Jânio em Santo Amaro), e vereadores de vários partidos, têm uma faina constante. 

Cartazes, faixas, dísticos, folhetos com variados dizeres (“Udenista: Paulo Lauro agradece o teu voto: Hoje, em Cardoso, Amanhã, em Adhemar”) são distribuídos profusamente. 

Há um típico ambiente de manga-arregaçada, de “L’omo qualunque”, de inconteste revolta social (“Um tostão contra o milhão”- é o slogan de toda a campanha).

POR QUE “SE ELEITO”? 

“Por que se eleito? Já estamos eleitos” - é a resposta do sr. Jânio Quadros à nossa pergunta sobre o papel que desempenhará, se eleito, em relação ao plano político nacional, quanto às futuras eleições presidenciais. “Já estamos eleitos - repete o candidato. Entretanto as nossas preocupações são marcadamente comunais. Dizem respeito a este município. Uma coisa é certa. O ademarismo como método, como processo e como intenção delituosa, será erradico de S. Paulo, o que vale a erradicá-lo do país. Para esse aspecto chamamos a atenção dos verdadeiros democratas, brasileiros de todos os partidos: se a fatalidade impusesse a nossa derrota, ninguém deteria a “gang” que intenta assenhorear-se da República. Mas o Todo Poderoso já determinou: nós a liquidaremos. Então, teremos possibilitado o ambiente para a solução pacífica dos problemas político-econômicos do Estado e da União, próximos e remotos, mesmo porque o que caracteriza nossa ação é o mais absoluto desinteresse pessoal pelas posições de comando. S


SECRETARIADO

 A entrevista se interrompe, Jânio Quadros, ex-orador do Centro Acadêmico XI de Agosto, ex-professor de português, é procurado por velhos amigos. 

Aproveitamos a oportunidade para saber o “estado maior” do candidato a provável constituição do secretariado.

Ei-la: Prestes Maia ou Francisco Gayotto, Secretaria de Viação e Obras; José Marrey Júnior ou Franco Montoro, Secretaria da Justiça; Antonio de Queiroz Filho ou Carvalho Pinto, Secretaria das Finanças; Alípio Correia Neto, Secretaria da Saúde; Helena Junqueira, Secretaria da Educação; na direção da CMTC, o udenista dissidente Juvenal Sayon e, como presidente da Comissão do IV Centenário da Cidade, o Sr. Afonso Escragnole Taunay.

DEMOCRACIA IGUALITÁRIA E JUSTA

A segunda pergunta (“Qual o significado social que empresta à sua eleição”) foi assim respondida pelo candidato democrata-cristão: 

“Indicará a maturidade do povo, na sua plena politização. Marcará com nitidez a consolidação da democracia entre nós. Será a vitória do voto livre nas multidões livres, contra a violência, a infâmia, o favoritismo, a perseguição. Observe-se que, neste momento, todos os recursos de suborno, da brutalidade e da injúria estão sendo empregados pelo governo contra o movimento que integramos. Não importa. Temos fé no nosso pensamento de democratas-cristãos, temos fé na estóica firmeza dos nossos companheiros de jornada, filiados a outras legendas. Sabemos que esta é a hora do homem da rua e sabemos que somos a sua voz. O povo, aqui, como na Itália, na Alemanha ou em outros países, irá entregar-nos a responsabilidades de porta-bandeiras da democracia igualitária e justa que Maritain e Luigi Sturzo ergueram vitoriosamente na Europa”. 

Alguém vem pedir que Jânio abra a lista em favor de um correligionário falecido na véspera. Jânio abre a carteira, dá 40 cruzeiros, mostra o fundo vazio e diz que não tem mais nada. 

Em seguida responda a nossa última pergunta. 

“Os principais pontos de meu programa são: recuperação moral, administrativa e financeira do município, cujo poder público se encontra corrompido e desprestigiado pelo ademarismo, responsável nº 1 pela dilapidação e malversação dos dinheiros comuns, pela exploração e pelos escândalos que nele se verificam.

SOBREVIVÊNCIA 

“Essa recuperação - continua - é imperiosa a bem da sobrevivência do regime e das instituições cristãs, cujo patrimônio e cujos valores estão no risco de perder-se. Para isso será constituída uma equipe de homens honrados e capazes, com tal reputação e com tal prestígio que serão o penhor do restabelecimento da autoridade oficial. Um Marrey Júnior, um Franco Montoro, um Antonio de Queiroz Filho, um Francisco Preste Maia, Um Ataliba Leonel, um Olavo Fontoura, um Wladimir de Toledo Piza, um Alípio Correia Neto, um Cid Franco e nomes semelhantes serão convocados para órgãos de direção da Prefeitura”. 

BAIRROS

“E os bairros abandonados, que ameaçam a ordem democrática, e o povo humilde receberão cuidados imediatos da municipalidade. A pavimentação, os transportes, a luz e energia, a água e os esgotos, o telefone, a assistência hospitalar, a educação, a recreação e o policiamento não serão apenas promessas mentirosas, mas realidade tranquilizadora, pois que a Prefeitura libertada executará essas obras e serviços, se da sua competência, se da competência do Estado”. 

TRIBUNA DA IMPRENSA 10 de fevereiro de 1953.

Fracassou missão do Catete para degolar Jânio Quadros

SÃO PAULO, 3 (Sucursal) 

- Acompanhado pelos Srs. Osvaldo Penido, João Henrique, presidente da Caixa Econômica Federal e pelo deputado Guilhermino de Oliveira, o Sr. Vitor Nunes Leal esteve, ontem, no Palácio de Campos Elíseos, tentando persuadir o governador Carvalho Pinto a não se pronunciar, já ou remotamente, pela candidatura Jânio Quadros ao Catete. 

CANTO DA SEREIRA 
Para convencer o Sr. Carvalho Pinto, Nunes Leal e Penido, que diziam falar em nome de Kubitschek, insinuaram até a sua candidatura à Presidência, com apoio ostensivo do PSB e do Catete. No caso de não a aceitar, o governador paulista deveria indicar um nome de sua preferência, além de apoio financeiro do Catete. Os emissários do Catete trouxeram Cr$ 300 milhões de empréstimo ao governo estadual para obras no setor de água e esgotos. 

RESPOSTA DE CARVALHO PINTO
Ao que conseguimos apurar. O Sr. Carvalho Pinto assim respondeu: 1- Considerava cedo para entabulações sucessórias. 2- Não aceitava, em nenhuma hipótese, o lançamento de sua candidatura, por quaisquer partidos ou grupos. 3- Mantinha, e espera ainda manter, as melhores relações com o Sr. Jânio Quadros. 4- No caso específico desta candidatura, tinha opinião já manifestada na frase: “Jânio tem todos os títulos para merecer o Catete”. 

OPINIÃO DE NUNES LEAL 
O Sr. Vitor Nunes Leal almoçou, ontem, nos Campos Elíseos com o governador Carvalho Pinto e à tarde esteve na Assembleia Legislativa em reunião com a bancada do PSD. À noite jantou com líderes pessedistas, seguindo depois para o Rio. 

Ao que se diz, Nunes Leal teve boa impressão de Carvalho Pinto. Acha, contudo, que o governador de São Paulo não aceitará sua candidatura ao Catete nem recuará dos propósitos de isolar-se de Jânio.
 
A amigos íntimos, o Sr. Vitor Nunes Leal revelou que o candidato do PSB à sucessão presidencial deverá ser - pelo menos agora - o Sr. Amaral Peixoto. Adiantou que o lançamento da candidatura poderá dar-se nos próximos dias.

TRIBUNA DA IMPRENSA Sexta-feira, 3 de abril de 1959

JÂNIO TAMBÉM FAZ ANOS HOJE

Mas saiu dos Campos Elíseos para ver... futebol - É corintiano e gosta de pastel frito - opinião sobre São Paulo: cidade impessoal, avassaladora, egoísta, difícil e tentacular - Acha a presidência um “fardo” mas concorrerá ao Catete. 

No dia do aniversário da cidade, que faz o governador? Festeja o aniversário. Mas não da cidade. O Sr. Jânio Quadros faz hoje 40 anos bem vividos. 

Poderia festejar o aniversário (duplo) entre pompas. Com o Palácio engalanado. E a turma da Força Pública de fardinha domingueira. Mas Jânio é Jânio. Tem medo dos “inoportunos”. Detesta a intromissão do prefeito Lino em tudo o que faz. Vai, por isso, para o estádio do Corinthians. 

Junto do povo ele esgazeia os olhos, baixa a cabeça, deixa que os cabelos fiquem desgrenhados. Ouve calado e aperta as mãos. Raramente olha nos olhos dos outros. Abraça (parece comovido) antigos correligionários. Pergunta muito: 

- “Como vai lá o pessoal de casa?”

A voz sai rouquenha e ele dita a frase marcando as vírgulas com a concha da mão. Difícil tirá-lo de junto do povo. Sua mulher, dona Eloá, é quem mais sabe disso. Por isso faz sempre almoço que posa ser comido frio. Pastéis, por exemplo. E ele gosta muito. 

É corintiano, como Porfírio é são-paulino. Mas não é fanático. Porfírio já chegou a jogar de goleiro num treino do São Paulo. Jânio, não. 

Vendo Corinthians x Palmeiras, torce pelo seu time. Mas elogia um “coice” de Jair (um “goal” adversário bem feito), e aperta a mão dos vencedores, seja quem for. 

Na verdade, não gosta muito de futebol. Talvez menos até que um pouco. Gosta, mesmo, é do povo vendo futebol. 

Uma vez perguntamos, em seu gabinete, qual sua opinião sobre a cidade. A pergunta fora, se achava São Paulo “uma cidade humana”. Houve pequena demora, mas a resposta veio: 

- “Não. Embora o seu povo seja benigno, acolhedor e hospitaleiro, como cidade grande, São Paulo se torna impessoal, avassaladora, egoísta, difícil e tentacular”. 

Vendo o futebol, está junto do povo bom, hospitaleiro, “acolhedor”. Mas logo pegará um taxi (continua andando muito de taxi) e cairá na cidade grande, na cidade “desumana”. E então, começam os despachos loucos. 

Quem o visse, logo depois, numa reunião política, dificilmente reconheceria o mesmo Jânio (do povo). Com os políticos, dá duro, xinga, chora. Se o contrariam, diz que “põe o chapéu na cabeça, vai embora, abandona tudo!” 

Politicamente Jânio é um udenista no porre (definição de Afonso Arinos). Com tendências socializantes - como disse na Europa. Mas se acha muito próximo da democracia cristã. Fã de Lincoln. Gosta de Gandhi e Chaplin. 

Agora, dizem, cuida de sua candidatura à presidência. Saiu-se bem no apoio a Juarez. Nenhuma falha, justiça lhe seja feita. No dia 11 de novembro, conduziu-se com altivez, sendo hoje, um dos únicos líderes civis com prestígio e autoridade junto à massa. 

Em Presidente Prudente, outro dia, lançaram seu nome à presidência. Jânio pensou e soltou a frase de efeito: 

- “Ainda mais essa, agora! Estou com um fardo às costas, querem me jogar outro!” 

TRIBUNA DA IMPRENSA 25 de Janeiro de 1956.

JÂNIO ENCURTOU A NOITE PAULISTA

Nada além de quatro horas - O colunista Matos Pacheco descreve o noturno de São Paulo - Gasta-se a metade do que se gasta no Rio - Artista nacional: só no carnaval. 

SÃO PAULO, 24 (Sucursal) 

São Paulo também tem vida noturna. Quem não acreditar que venha ver. Ou leia a entrevista de Matos Pacheco (colunista social). Só que a noite paulista está reduzida à metade. O governador Jânio Quadros marcou para todos o fim da noite - 4 horas. 

Mesmo assim, diz o Pacheco, a noite paulista é noite porque em lua algumas vezes, estrelas, sono e... uísque falsificado, nos “inferninhos”. E tem também o Silvio Caldas. E a Aracy atravessando a madrugada com “feitiço na Vila”. E muita, muita coisa mais. Pitoresco também. 

Matos Pacheco é o “expert” da noite paulista. Responde tudo no diálogo improvisado. Por isso, essa entrevista sai como diálogo. Arrumada, perderia muito. 

- Como é a noite em São Paulo? 

- Lua algumas vezes, estrelas, sono e... uísque falsificado, nos “inferninhos”. 

- Quem são os “donos”? 

- A noite não tem dono. Tem “donas” em certos barzinhos, escondidos, da “Vila Buarque”. 

- O que se faz nas boates? 

- Eu bebo, pouco, mas bebo. Acho que é o que todo mundo faz. Alguns dançam, alguns fazem romance... Mas “boite” é mesmo para beber, principalmente. 

- Como se classifica os notívagos? 

- A noite é uma válvula de escape. Nas “boites” vai gente cansada do trabalho, fugindo de alguma coisa... Ou, simplesmente boêmios, gente que troca o dia pela noite, quando São Paulo readquire aspecto de cidade pacata, do interior. Vivo de noite porque é mais fácil atravessar a rua, sem tantos carros, sem tanta gente. Acho que muita gente que vai à “boate”, faz como eu: apenas procura um lugar para passar a noite. Se os cinemas estivessem funcionando, depois da meia-noite, talvez muita gente trocasse a “boite” pelo cinema. 

 - Quem se diverte melhor? 

- O dono da “boite”. No fim da noite quem está com o dinheiro é ele. 

- E as melhores “boites”? 

- Para mim, “Oasis”. O melhor bar seria o “”Michel”, que tem um grupo próprio. Ultimamente a “estrela” do “Capitains” começou a brilhar forte. É o bar do momento. “African” é uma “boite” nova, mas a decoração atrapalha muito. Tem muito “chifre” nas paredes. “Meninão faz força, mas já é antiga a história deque o “Esplanada”, onde ela está, tem caveira de burro. ‘After Dark” é a mais careira... O “Lord” está em reforma, sempre foi uma “boite” que viveu de “atrações”. Sem Silvio Caldas, não sei o que poderá acontecer com o “chicote”... 

- Os preços, qual a média de gasto? 

- Esse é um problema difícil de responder. O uísque anda pelos cem, cento e vinte. O “couvert”, médio, cem. Mas desde que eu virei cronista social, sempre aparece um sujeito para pagar a conta no fim da noite... “Cuba-libre” é bebida de pobre nas “boites”. Uma coisa é certa: para se divertir numa “boite”, em São Paulo, gasta-se a metade do que se gasta no Rio. É verdade que as “boites” no Rio, “Night an Day”, “Sacha’s” ou qualquer uma, oferecem mais que as casas de São Paulo, principalmente em matéria de “show’ e música. 

- E os grupos de frequentadores? 

- Há gente que só vai ao “Michel”. Outros, só ao “Oásis”. As “boites’ em São Paulo são na realidade freqüentadas por pequeno grupo, permanente. Quase não há movimento de turistas. Todas as noites, invariavelmente, as mesmas pessoas estão no “Oásis’, no “Michel”, no “Capitains”. Quando não aparecem, é porque estão doentes ou viajando. Fazem parte dos móveis, da decoração da casa. 

- Até que horas isso? 

- Jânio Quadros pôs um ponto final na noite paulista: nada além das quatro horas. Logo no começo do governo. A lei é dura, mesmo. Há contravenções, naturalmente, na Av. 9 de Julho, na Vila Buarque. Mas as casas grandes cumprem a lei.

- São feitos negócios? 

- Eu, pelo menos, nunca fiz. Não acredito em negócios feito em “boite”. O maior que vi, foi um figurão (não digo o nome) “pendurando” o relógio por vinte mil cruzeiros para pagar a nota. 

- Há “girls” famosas? 

- Não, “girl” é coisa de “boite” carioca. As que temos, são emprestadas do Rio. Rosinha Lorcal e outras. “Mulheres do Machado”, como dizem por aqui. Sem ter trabalhado num “show” do Carlos Machado, mulher nenhuma é famosa, dentro da noite paulista... 

- E as atrações? 

- Em geral, uma cantora argentina, cantando um tango bem velho. O bolero passou de moda. E não surgiu nada novo. 

- Houve jogos de futebol entre times de freqüentadores de “boite” 

- Houve um famoso, entre o “Michel” e “Robledo”. Mas parece que a febre esportiva passou logo. Futebol e “boite” não dão certo, a não ser na promessa da “boca livre”. 

- Rio e São Paulo diferem na sua noite? 

- A noite paulista não tem nada, nada, com a carioca. Acho que no Rio há mais boemia, mais naturalidade, na vida noturna. O boêmio carioca, dentro de uma “boite” paulista, deve se sentir um peixe fora d’água. 

- E os intelectuais, em “boite”? 

- Há o grupo que se reúne no “clubinho”, mas os artistas andam fugindo dali. Agora, quem sabe, com Pola Rezende e Flávio de Carvalho na diretoria, voltarão e o “clubinho” não será mais apenas um “inferninho”. Tenho impressão que é mais fácil encontrar intelectuais nos barzinhos abertos da rua São Luiz que dentro das “boites”. Clovis Graciano é o papa do “Michel”. Mas Acho que fica nisso, o “intelectualismo” das “boites” e “bares”. Di pode ser visto também, no “Captains”, mas não é figura de todas as noites. Deu para dormir cedo, parece.

- Qual é a figura mais típica das “boites” paulistas? 

- O freguês mais pitoresco das “boites” de São Paulo, para mim, é o capitão Juquita. Tem mais de setenta anos, ganha no “braço-de-ferro” de muita gente moça, vai ao “Oasis” todas as noites, desde a fundação (cinco ou seis anos seguidos), fica até as quatro horas. Bebe pelo menos três uísques, come meia dúzia de pastéis e, invariavelmente, oferece uma garrafa de champagne, para todas as cantoras que fazem o show no “Oasis”, logo na noite da estréia. Um cavalheiro à antiga, que leva muito a sério os cumprimentos. O capitão Juquita é a figura mais típica da noite paulista.

- Há “quatrocentões” nas “boites”? 

- Os “quatrocentões”, em plena forma, não vão à “boite”.

- E os cronistas, como são encarados? 

- Acho que os donos de “boites” se queixam de uma certa “inflação” de cronistas. Mas em geral, somos todos bem tratados. Não acredito muito na sinceridade de certas aproximações. No fundo, há um pouco de temor, nas relações entre as “boites” e os cronistas. 

- Há “boites” rivais? 

- No fundo deve haver. O dr. Eiras, do “Oasis”, nunca foi ao “Meninão”. Mas aparentemente todos os donos de bares e “boites” são amigos, trocam gentilezas e comem feijoada, juntos, no “Stork Club”. 

- E os artistas nacionais têm chance? 

- Só nas vésperas do carnaval é que as “boites” se lembram dos artistas nacionais. Mas em geral, preferem Gregório Bárrios à Aracy de Almeida, uma cantora argentina qualquer ao Lúcio Alves. Justificam dizendo que o público prefere gente de fora. Mas quando uma artista como Aracy, Inesita ou Silvio Caldas cantam numa “boite” paulista, a casa enche e há um entusiasmo novo. Não sei explicar. Se há uma reclamação séria, contra as “boites” é a má vontade com os elementos nacionais. Houve até um barzinho, o “Golden Gate”, que teve o “topete” de mandar Aracy embora, porque “Araca” não interessava. Ela, que atravessa a madrugada paulista, com Noel.

TRIBUNA DA IMPRENSA

Jânio passou dos 40 num campo de futebol

O menino que nasceu franzino, há 40 anos, em Campo Grande (Mato Grosso), passou seu aniversario num campo de futebol. 

Quando interroguei, Jânio, ontem, sob a ala dos remos dos atletas do Corinthians, ele apenas disse: 

- “É este, hoje, o dia mais feliz da minha vida!” 

Jânio estava com terno cinza claro e com gravata de bolinha. Mas sempre de cabelo caído. Não permitiu que, no churrasco gigantesco, se gastasse “um tostão que fosse”, do governo. 

Foi churrasco e foi festa popular - com banda, sorvete, guaraná, foguetório e pipoca - tudo grátis. 

No Corinthians 
Jânio chegou ao Corinthians às 10 horas. Veio em carro particular. Logo se misturou com o povo (o futebol começara às 8 e meia). Dona Eloá, de “tailleur” branco-estampado, me disse: 

- “O Jânio está feliz, mesmo. Ponha isso”. 

A filha Dirce Maria, também passou o dia no Corinthians (quando estourou um champanhe teve medo).

Futebol
O futebol foi Palmeiras (e Portuguesa) contra o Corinthians (com o São Bento de reforço). Ganhou o Corinthians, 6 x 2. Jânio gostou. Quando recebeu a medalha do Corinthians, disse: “recebo-a como governador e como... corintiano”. Depois, ainda no campo, apertou a mão de cada jogador. Disse para o Homero (beque do Corinthians: 

- “O senhor é tão famoso como o Homero da Grécia...” 

Deu a taça ao vencedor. Falou um pouco, porque o Corinthians tinha sido eleito (concurso popular) como o “clube mais querido do Brasil”. Recordou, na rodinha, que já tinha sido goleiro. Mas um dia (chovia) engoliu seis frangos. Nunca mais jogou. 

Povo 
O povo se apinhou no estádio e aplaudiu. Muitos motoristas da CMTC. Choferes de táxi (estão virando: eram quase todos Ademar). Mulheres e criançada. Antigos fanáticos. Novos adeptos. Junto de mim, vi Janio abraçar um operário. 

- “Dr. Jânio, estou sem emprego...” 

Jânio abraçou dois ou três populares (outros). Mas voltou-se, sério, compenetrado: “Meu amigo, não o esqueço. Passe segunda-feira no Palácio. Mas de manhã”. 

Churrasco 
Tinha 80 mil churrascos. Quatorze mil quilos de carne. Salsicha: 2.500 quilos. Linguiça: 2 mil quilos. 200 mil pães. 26 mil bifes-milanesa, 900 dúzias de guaranás, 2 mil litros de leite, 5 mil quilos de uva. Abacaxis, mangas, peras, refrigerantes. 

Só a pipoca e o sorvete eram pagos. O resto, tudo, grátis. Tudo foi presente. De amigos de Jânio e firmas particulares. 

- “Esta festa não nos custará um tostão” - disse Jânio, dia antes, no Palácio. 

Fez questão que nenhum carro oficial estivesse presente (temia que Lino mandasse fotografar). E foi de carro particular. Comeu dois churrascos e pediu leite. Não teve muito tempo de cuidar dessa parte.

Onde se notava a presença do povo era nos dizeres das faixas. Tinha faixas de todos os bairros. De muitas cidades. Das vilas. Da “sua” Vila Maria. 

Duas faixas de motoristas (da capital e de Osasco). Muita faixa com “dr” antes do nome. Uma dizia que Jânio é dos únicos brasileiros honestos. A escola de samba estava lá. Mas não apareceu muito. Era como um fundo musical (de samba) junto à grande música do povo reunido. 

Balanço 
Fez dois discursos. Um aos trabalhadores. Outro ao povo em geral. Este irradiado por 36 emissoras. Leu 17 páginas (voz, rouca). Destaque de deu balanço (do governo): 

- “Quero demonstrar que, em nenhum instante, deixei de ser digno da confiança dos paulistas”. 

- “Nada tenho a esconder. Antes, exijo que o povo verifique tudo, informe-se de tudo, a analise todos os atos de minha administração”. 

- “Durante o ano passado foram encerrados 76 processos administrativos e 36 sindicâncias”. 

- “Houve 2.448 promoções de funcionários”. 

- “No meu governo não se furta, ou se deixa furtar. Dessa infâmia sempre me pouparam os mais empedernidos adversários”. 

- “A saudável ditadura financeira do professor Carvalho Pinto valorizou-se ainda pelos magníficos resultados colhidos - há já saldos no orçamento”. 

- “Os negocistas e politiqueiros foram exilados do Banco; e os caloteiros pagaram suas dívidas’. 

- “Em menos de um ano, os depósitos da Caixa registraram um aumento de cerca de 1 bilhão e 277 milhões de cruzeiros”. 

- “No meu primeiro ano de governo a receita do IBESP teve o aumento substancia de cerca de 304 milhões de cruzeiros, ou seja, 51,24% sobre o período anterior”. 

- “Ao todo, pavimentamos 130 km de estradas. Certo aventureiro (Ademar), em 4 anos, pavimentou 150, só”. 

- “O abastecimento d’água será aumentado em 57”. Falou em novos prédios escolares, na VASP (que já dá lucro). O relato é grande. 

TRIBUNA DA IMPRENSA 26 de janeiro de 1.956.

Jânio foi ao Ibirapuera festejar 3 aniversários

Os 42 seus, os dois de seu governo e o 403º da cidade - Povo lotou Maracanãzinho paulista - Opiniões e uma faixa: lançamento de candidatura à presidência

Depois de 730 dias de governo acho que não desmereci a confiança do povo paulista” - de improviso, entre centenas de flâmulas e milhares de populares, o Sr. Jânio Quadros sacou com eloquência a frase de efeito certo. 

O povo lotava o Ginásio do Ibirapuera, o Maracanãzinho (35 mil lugares) paulista: Jânio comemorava o 403º aniversário da cidade - e o 42º, seu. 

Logo depois olhando as faixas dos bairros que o saudavam, chorou: 

- “Este é, realmente, um grande instante da minha vida, sacrificada toda pelo povo dos bairros, das vilas e dos povoados”. 

Foi um grande dia para Jânio, em S. Paulo. 

Governo faz anos

Acontece que o governo (estadual) também fazia anos: dois. 

Jânio tomou conta da festa: 

- “Graças a Deus o terrível fardo começa a aliviar-me o corpo fatigado”. 

O vereador (diretor do Trânsito) Nicolau Tuma: 

- “Foi um governo de realizações, confiança, ordem, planejamento e honestidade”. 

O secretário da Educação, Paula Lima:

- “Com a minha exceção, um governo impecável”.

Frase semelhante disse o Sr. Lincoln Feliciano (Justiça). E seu irmão Antonio, prefeito de Santos: 

- “Um governo magnífico, à altura das tradições, trabalho e probidade de São Paulo. 

Até o Athié Jorge Khoury (deputado do PSP) elogiou Jânio. 

Fala o Povo 

“Tutu”, filha de Jânio, desponta nos quinze anos. Ainda assim, se atrapalha com a pergunta do repórter.

Disse apenas: 

- “Pode dizer que estou muito satisfeita, como meu pai e com a obra dele.” 

O guarda civil (não pode dar nome) de 1ª classe:

- “O Jânio está ajudando a gente e o povo. Está bom.”

- “Esse governo, até agora, fez bastante, e vai fazer mais ainda pelo povo” - depõe o Sr. Pedro Batista Teixeira, presidente do Sindicato do Mercado Varejista.

Um menino, comprando a sua bola de ar, disse: 

- “Falam tanto nesse Jânio que acho que ele é batuta mesmo!”

Depois: virou o jogo 

Logo que Jânio acabou de falar, o povo vibrava: Jânio, Jânio, Jânio! 

Quinze minutos depois vibrava era com a seleção paulista (basquete) que bateu a argentina.

(Como o marcador enguiçasse, o Sr. Afrânio de Oliveira, secretário de Jânio, irradiava os resultados do jogo). 

Tudo acabou bem, entre palmas, sorrisos, flâmulas, vivas com pipoca e picolé. 

Quando Jânio saiu, bem acima da escada por onde desceu, havia uma faixa com dizeres: “Sem Jânio na presidência o Brasil vai à falência”! 

Era a homenagem de uma Vila (a de Vila Maria estava do outro lado): Vila Americana. 

Final de discurso

 A fala de Jânio foi de improviso. O que ia ler, um discurso de 28 páginas, as realizações, ficou para ser lido nos jornais, segundo disse. 

Eis dois discursos finais: 

“- Vencendo o caos financeiro, demos ao país, em menos de dois anos, um exemplo fulminante de superávit orçamentário. Transformamos a restauração completa do crédito do Estado numa arma a serviço da construção do futuro econômico da nossa terra”.

E depois de citar São Paulo Apóstolo (“os homens maus e encantadores irão de mal a pior, aprende com os bons”): 

- “Os homens naus irão de mal a pior. Que o povo seja fiel ao que aprendeu, para que possa sempre escolher o caminho da honra, que é, afinal, o rumo da vitória. 

TRIBUNA DA IMPRENSA 28 de janeiro de 1957.

Uma antevisão do futuro no “new look” masculino

Percorrendo S. Paulo com roupa menos de um quilo - Ciccillo Matarazzo topa, mas não usa - Maria Della Costa: “A coisa pega” - 63 anos de pernas compridas e estranhas experiências - Reportagem de LUIZ ERNESTO

Flávio de Carvalho saiu com o “new look” (masculino) direto pela Barão de Itapetininga. A rua é centralíssima. O povo já se apinhava à porta do prédio. Um cidadão apareceu e deu um abraço forte. Era Ciccillo Matarazzo. 
Flávio perguntou rápido, se “Ciccillo” topava usar também o traje. 
- “Eu? Eu não!” 
O cortejo começou.

Glória 
Minutos antes, no apartamento, Flávio atendia a amigos e curiosos, entre “flashes” e microfones. O repórter de mais longe era o do “Life”. 
- “Eu acho que esse traje pega” - disse Maria Dela Costa, posando muito (e muito bonita) ao lado do artista. 
Maria Ferrara, a figurinista italiana, dava os últimos retoques. 
Guido Panaim, outro italiano, abriu a porta: 
- “ Agora, é descer, Sr. Flávio, para a glória oi para as pedras”. 

Cortejo
De saiote branco (brim) e blusão vermelho claro (nylon) Flávio de Carvalho abria o cortejo bizarro. A molecada se pôs à sua volta. E o povo. Muita gente nas janelas. 
As alpargatas simples e as compridas meias pretas, de malha (tipo bailarina), chamavam ainda mais atenção. 
O paulista assistiu quieto ao desfile. 
- “Isto aqui, em Nápoles, era só tomate que voava!” - a frase de Maria Ferrara. 
Flávio esteve na redação dos “Diários”, tomou um cafezinho na Rua Marconi (pago pela TRIBUNA) e entrou no cinema “Marrocos” - onde só se entra de gravata. 
Miguel Batlouni (o repórter, que pagou a entrada), exultava quando Flávio entrou no cinema.

Impressões
- “É um absurdo um negócio deste nas ruas!” - disse Elpídio Pacheco, desenhista. 
O estudante João Walter disse: 
- “Eu não usava isso, nem pagando!” 
O jornalista Fernando Lemos: 
- “Este homem devia estar na Central (polícia)!” 
Mas houve muita gente favorável. A opinião mais rude foi talvez a de um garotinho de 5 anos (Armando de Oliveira Neto): 
- “Eu sei que isso é de mulher!” 

A Favor
Na rua, colhemos opiniões: 
- “A ideia é ótima. É uma libertação. Mas parece que a roupa é complicada demais!” - opinião do cineasta Paulo Emílio Salles Gomes. 
Do jornalista (diretor das “Folhas”) Hideo Onaga: 
- “É uma experiência. Admiro a audácia e o sentido de renovação de Flávio”.
Rudá de Andrade, filho de Oswald de Andrade: 
- “A roupa, talvez não, mas a coisa é interessante. Cria polêmica e pode redundar na libertação das nossas enfadonhas vestes”. 
Paulo Bonfim, poeta, não tem opinião, ainda. O Sr. J. Pereira, oficial de gabinete de Jânio, teve: “um carnaval extra”. E vale esta observação do folclorista Paulo Afonso Grisolli: 
- “ É exótico pra burro. Mas é lógico!” 

Discurso
Em frente aos “Diários”, o cortejo parou. Flávio esboçou um discurso. Deu uma rápida explicação dos fundamentos estéticos, sociais e higiênicos do novo hábito. Teve de levantar-se a abaixar-se algumas vezes. Um popular gritou: 
- “Se fosse nos Estados Unidos, esse negócio pegava: por eu é uma coisa de louco!” 
O que informa: 
1. A roupa custou Cr$ 1.300,00. 
2. Pesa menos de um quilo. 
Napoleão de Carvalho, publicitário, interrompeu:
- “ Estou com o senhor. É preciso uma reforma completa de nossos costumes, a começar pelos trajos!”

Entrevista 
Deu, finalmente, Flávio de Carvalho, uma entrevista coletiva. Durante ela, mudou o trajo para um blusão amarelo com calção verde. Disse que não teme nada. Uma vez, acompanhou procissão, de chapéu na cabeça, durante 30 minutos, para estudar a reação do povo. Foi dele o primeiro projeto de arquitetura moderna, no Brasil. É grande desenhista. 
- “ O homem precisa voltar às suas camadas plásticas do passado e criar algo novo! - diz ele. - “Este trajo é uma renovação e não uma nova criação”. 
- “ O homem deve passar a viver num mundo livre e onde a cor volte a lhe dar alegrias”. 
São Paulo vibrou como o “new look” do seu velho (63 anos) arquiteto de pernas longas. 

TRIBUNA DA IMPRENSA 19 de outubro de 1.956.

SAIOTE E BLUSÃO: FAMOSO ARTISTA CRIA A NOVA MODA MASCULINA

Flávio de Carvalho, autor da criação, é o pai da moderna arquitetura brasileira - Com Chateaubriand (no Senado) e Eleazar de Carvalho, as primeiras demonstrações - Os fundamentos centrais (estéticos e humanos do novo vestuário masculino).

São Paulo (sucursal) 

- Flávio de Carvalho, pintor, escultor, projetista (com curso de arquiteto em Londres), quer agora lançar uma nova moda para o vestuário... masculino. 

A nova “roupa” Masculina (saiote e blusão), em sua opinião, é “coisa séria”. E vai pegar, no verão. Principalmente, diz ele, se for combatida “pelas associações moralistas e reacionários de todo o tipo”.
Flávio de Carvalho, é bom assinalar, é o pai da arquitetura moderna no Brasil. Com seu projeto (rejeitado) de 1927, para o Palácio do Governo de São Paulo. 
Ele está entusiasmado com sua nova revolução estética (e social): o novo vestuário masculino. 
Ante dois desenhos dos novos trajes (feitos especialmente para este jornal), inventados por ele, Flávio enumera as peças do que considera a “última evolução na arte (masculina) de vestir”: 
a) - o saiote, ou “short”, é de tecido grosso, não transparente, de linho grosso ou algodão;
b) - o blusão, tem como tecido exterior uma malha aberta ou armada, que não encosta na pele, e, por baixo, um tecido leve, organza ou outro, colorido, vivo, preso à malha; 
c) Duas malhas (é optativo) protegem as pernas; 
d) As sandálias nos pés podem ser usadas sem meias. 

Flávio informa que os tecidos do blusão ficam afastados do corpo por arandelas de arame, uma ao ombro e outra à cintura; esta é graduável, e regula a velocidade de entrada do ar entre o tecido e a pele. A “roupa” é, pois, ventilada, não gruda na pele, e é leve e simples. 

Evolução no vestir 

- “As vestes atuais não se adaptam mais ao meio de vida e novos conhecimentos do homem de hoje” - diz Flávio, defendendo a criação. Diz que os homens, hoje em dia, usam os mesmos tecidos, os mesmos tipos de roupa (com poucas variações), as mesmas cores da antiguidade. - “As roupas escuras, por exemplo, muito usadas pelos contemporâneos, são originárias duma imposição da nobreza à burguesia, no século XVII” - diz ele. 

Flávio acha um absurdo que, na época de hoje, toda a humanidade (masculina) não use roupas coloridas (exceção para o esporte), apenas por que os nobres franceses assim queriam se diferenciar dos burgueses. 
A roupa impingida à burguesia antiga, - calça, colete, paletó - deve também ser reformada no tipo, segundo Flávio. Por que não o saiote curto, estético, arejado? Por que não o blusão ventilado, colorido, simples? Por que não sandálias, em vez de horríveis sapatões? - pergunta ele. 

Revolução estética

Flávio lança o segundo argumento para defender suas ideias. Diz que este século reformou todos os conceitos, preceitos e coordenadas fundamentais de vários campos da arte, ciências, filosofia, religião e outros setores da atividade humana. Novas fórmulas, novas descobertas, revolucionam os princípios seculares de antes. 
- “O vestuário, contudo, não mudou, diz. Está inadaptado à vida dinâmica de hoje, é anti-funcional, antiestético, anti-humano mesmo” - diz, telúrico, suarento nos trajes comuns (que ainda veste). 

Primeiras demonstrações

As primeiras demonstrações com a nova roupa possivelmente serão dele, Flávio, com o Sr. Assis Chateaubriant (no Senado) e o maestro Eleazar de Carvalho. É provável um desfile no Museu de Arte, organizado por dona Lina Bo Bardi, arquiteta, mulher do diretor, prof. P. M. Bardi. 

O desfile com novos trajes masculinos será aberto por dois vagabundos de rua, com suas roupas em trapos. Eles recitarão monólogos (coletados por diretores dum hospital de loucos) sem qualquer sentido. Motivo e razão: Flávio quer demonstrar com os vagabundos que, sempre, desde a antiguidade, inconscientemente, as fases da moda provieram do povo. E sempre da mais baixa escala social. 

Logo depois, virá um grande desfile pelas ruas centrais da cidade. Já há mais de 200 inscrições. Puxarão o desfile: Flávio, Chateaubriant, Eleazar de Carvalho e o radialista Túlio de Lemos (um gigante, de dois metros de altura). 

- “Aos poucos - diz Flávio - o povo irá vendo que veste uma roupa imbecil, não de acordo com o desenvolvimento cerebral do homem moderno”. 

Informes finais 

 Flávio de Carvalho se entusiasma. Não tem medo de que sua ideia se vingue ou fracasse. Quando for produzida comercialmente (é ainda mais barata) milhares de cidadãos a usarão. A época que vivemos, da simplificação e da síntese, e do conforto utilitário, ajudará. 

- “A condenação reprobatória ou policial ou de entidades moralistas será a melhor propaganda para o lançamento da nova moda” - diz ele. 

Em São Paulo, segundo diz, já tem o apoio de muita gente. Entre outros: Ernesto Wolff (industrial), Helio Souto, Mauricio Loureiro Gama, Joaquim Pinto Nazário, Homem Silva (deputado), cônsul geral da Holanda, Clóvis Graciano, Fernando de Barros, Silvio de Campos Fº, Luís Martins, Sérgio Milliet, Mário Nême, Paulo Luís Lopes Coelho, Paulo Emílio Sales Gomes, Rudá de Andrade, Carlos Scliar, Arnaldo Pedroso d’Horta, etc. 

Do Rio, já recebeu adesões de Carlos Thiré, Sérgio Bernardes (arquiteto), Aldari Toledo, Rui Carvalho (industrial), pescador Cristiano Menezes, Aníbal Machado, Ruy Carvalho, Assis Chateaubriant e Eleazar de Carvalho.

Flávio informa também que muitas mulheres de sociedade paulista apóiam a idéia “e não se opõe a que seus maridos andem de saiote e blusões coloridos”. Entre elas, se destaca: Yolanda Penteado Matarazzo (mulher de Ciccillo), Bia Coutinho, Aurora Duarte, Márcia Thiré, Ivete Mariz, Nidia Licia (mulher de Sérgio Cardoso), Vida Alves, Antonieta Lex, Marieta Gouveia e Estela de Faria. 

Perguntamos se não teme o combate das fábricas de roupas feitas. Diz que não. O povo imporá a nova moda de vestir. Basta apenas propagá-la bem e ter coragem. - “No ridículo, quando vencermos, dentro de algum tempo, estarão aqueles que se vestem nos preceitos antigos, como hoje” - diz. 

TRIBUNA DA IMPRENSA 21 de maio de 1956

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

História mineira de um mineiro:

INSPIRADO NA VÍRGULA FEZ QUATRO SONETOS AMÉRICO 

Monteiro de Castro é o nome de um mineiro autêntico. Que nasceu em Tiradentes, estudou (direito) em Belo Horizonte e vive hoje em Ouro Preto. E com uma constante (tão mineira) na vida: jornalista, poeta, escritor. Pois Monteiro de Castro entra no jornal, hoje, porque virou notícia. E notícia boa. O nosso Américo é o autor de uma proeza única na língua portuguesa. Fez quatro sonetos diferentes (sic), com os mesmos versos! Apenas mudando a vírgula. 

(Os sonetos vão publicados ao pé da reportagem. Antes, temos de dizer ainda um pouco quem é Américo Monteiro de Castro, mineiro de Minas Gerais). 

Infância (estudos) 

Américo nasceu em 4 de janeiro de 1915, em Tiradentes. Na casa do padre Toledo, que é hoje a Prefeitura Municipal. É filho de Américo Olímpio de Castro (fiscal do consumo) e Estela Monteiro de Castro. Ambos falecidos. 

Estudou em Oliveira (curso primário) e em Belo Horizonte (curso secundário). Na capital, formou-se também em direito. E foi onde, também, foi picado por dois vírus. O literário e o gramatical. 

Literatura (e jornais) 

Traçando o perfil moral dos colegas, em Belo Horizonte, Américo Monteiro de Castro começou sua carreira nas letras. Eram publicações pequenas, nas revistas “Colégio Arnaldo” e “Montanhesa”. Depois passou a escrever sobre os estadistas da República. E fundou o Centro de Cultura “Justino Mendes”, a que serviu também como orador (duas vezes). 

Formado, veio a época das colaborações nos jornais mineiros. “Folha de Minas”, “O Diário” e a “Tribuna de Minas”, de Belo Horizonte. “Gazeta de Minas”, de Oliveira. “O Operário”, de Montes Claros. “O Norte de Minas’, de Teófilo Otoni. “Jornal do Povo”, de Ponte Nova. E, finalmente, “G. L. T. A.”, de Ouro Preto, onde se fixou. Fora da província, colaborou no “Correio da Manhã” (Rio). 

Fase de Ouro Preto 

Para Ouro Preto foi como funcionário federal. Na terra da Inconfidência, tinha de fundar a “Academia Ouropretana de Letras”. Mas não se sentou na cadeira número um. Preferiu a três. Tomás Antonio Gonzaga é seu patrono. Há pouco se elegeu secretário geral da Academia. 

Na “sua” Ouro Preto, começou a produzir. Exegeses didáticas e poemas em prosa. Estudos de sintaxe e versos líricos, ao estilo do patrono (Gonzaga). Por isso, agora, Américo Monteiro de Castro é uma figura conhecida na cidade. E na capital também. 

Obras (gramática) 

Américo tem uma gramática. Toda em versos. Chama-se “Pequena Gramática em Versos” e nela se destacam os sonetos: “Regência dos Verbos”, “Fundações do Quê”, “Verbos Defectivos”, “Infinito Pessoal”, “Sintaxe do Se”, “O jogo da vírgula”, “Dois Pontos”, “Metaplasmos”, “Figuras de Sintaxe”, “Tropos de um Coveiro” e “Vícios de Linguagem”. 

Os quatro últimos sonetos de sua gramática (em versos) foram tese de um concurso lítero-didático da Academia Ouropretana de Letras. 

Mas Américo não parou na gramática. Ele tem vibrações líricas. E históricas. Sua obra é também algumas vezes épica. Vamos acompanhá-la, pelos títulos dos seus poemas: 

“O Expedicionário”, “Vozes do Brasil”, “Esperança”, “Marília de Dirceu”, “O amor é a lei suprema”, “Filigrana”, “Invocações à Lua”, “Menino moço e homem”, “Bismarck e Darwin”, “8 de maio”, “Cérebro versus coração”, “Cidades de Minas”, “Estudante de Ouro Preto”, “Integridade de juiz”, “Por dentro de Georges Sand”, “O banquete de Van Der Helst”, “Símios” “Favos”. 

Referências e objetivos

Américo, o literato, tem preferências literárias. Ele mesmo vai enumerando. Os escritores preferidos são: Machado de Assis, Spinoza, Emerson, Buda, Afonso Arinos Dostoievsky e Balzac. Já os poemas de predileção são em menor número (e mais provincianos): Bilac, Cruz e Souza, Onestaldo Penaforte, Djalma Andrade e Tomás Gonzaga (sempre). 

Na “poesia da vida” Américo tem preferência pela sua mulher Maria Eugênia Lobato e Castro (também da Academia Ouropretana de Letras). Que lhe deu três filhos - a mais velha, Marília. 

Vejamos agora a proeza inédita (em língua portuguesa e no mundo) do mineiro de Ouro Preto, Américo Monteiro de Castro: os quatro sonetos iguais na forma e de sentido diferente. 

O JOGO DA VÍRGULA

EU AMO E ELA ODEIA!

Dentro de mim, meu Deus, que sensação
Tão boa, não é má, não tem a palma
Do amor, nunca está minhalma
No anônimo perfeito da afeição!

Se às vezes me estarrece a ingratidão,
Perdôo-lhe, jamais em mil se espalma
A víscera que amarga a doce calma
 Da maior doce calma a razão! 

De dentro dela, em que tu te enleias,
Tua alma, entretanto, má não duvido
 A cólera transborde-se nas veias...

Amor sentes jamais, eu esquecido, 
Pois dizes, sim, que me amas não, odeias 
Com esse coração mal escondido... 

II 
EU ODEIO E ELA AMA

Dentro de mim, meu Deus, que sensação
Tão boa não, é má, não tem a palma 
Do amor, nunca, está minhalma 
No anônimo perfeito da afeição! 

Se às vezes me estarrece a ingratidão 
Perdôo-lhe jamais, em mil se espalma 
A víscera que amarga a doce calma 
Da maior doce calma a razão! 

De dentro dela, em que tu te enleias, 
Tua alma, entretanto, má não, duvido
A cólera transborde-se nas veias... 

Amor sentes, jamais eu esquecido, 
Pois dizes, “sim”, que me amas, não odeias 
Com esse coração mal escondido... 

III 
EU AMO E ELA AMA!

Dentro de mim, meu Deus, que sensação 
Tão boa, não é má, não tem a palma 
Do amor, nunca está minhalma 
No anônimo perfeito da afeição 

Se às vezes me estarrece a ingratidão,
Perdôo-lhe, jamais em mim se espalma 
A víscera que amarga a doce calma 
Da maior doce calma a razão! 

De dentro dela, em que tu te enleias,
Tua alma, entretanto, má não, duvido 
A cólera transborde-se nas veias... 

Amor sentes, jamais eu esquecido, 
Pois dizes, “sim”, que me amas, não odeias
Com esse coração mal escondido... 

IV
EU ODEIO E ELA ODEIA! 

Dentro de mim, meu Deus, que sensação 
Tão boa não, é má, não tem a palma 
Do amor, nunca está minhalma
No anônimo perfeito da afeição!
 
Se às vezes me estarrece a ingratidão 
Perdôo-lhe jamais, em mim se espalma 
A víscera que amarga a doce calma 
Da maior doce calma a razão

De dentro dela, em que tu te enleias, 
Tua alma, entretanto, má, não duvido 
A cólera transborde-se nas veias...

Amor sentes jamais, eu esquecido, 
Pois dizes, sim, que me amas não, odeias
Com esse coração mal escondido...

TRIBUNA DA IMPRENSA, 8 de maio de 1956.

Cinco morros desabam em Santos: 39 mortos

Nova tempestade sobre o litoral paulista - Choveu 13 horas sem parar - A população nas ruas, à luz das velas, teme novos desabamentos 

SANTOS, 26 (por Luiz Ernesto, enviado especial, pelo telefone) 

-25 dias depois da tragédia do morro e Santa Terezinha, Santos está novamente abalada em consequência das chuvas torrenciais que fizeram desabar parcialmente cinco morros causando, até agora, 39 mortos e cerca de 50 feridos. 

A cidade está quase sem luz. O povo, nas ruas, com velas na mão. Os bares usam lampiões. Nos morros, centenas de casas estão abandonadas, pois se temem novos desabamentos. Na Central de Polícia, reúnem-se autoridades, repórteres e centenas de populares. A Sala de Imprensa, de onde falamos, é iluminada por um gerador a gasolina. 

Mais mortos 

Calcula-se que ainda existam mortos nos escombros dos morros que desabaram. Cinco deles estão situados propriamente em Santos, um em São Vicente e o outro em Guarujá. 

Nas três localidades, as famílias desabrigadas percorrem as ruas com aspecto triste. 

Duração da chuva 

As chuvas começaram a cair às 22,30 horas de sábado, prolongando-se até as 11 horas da manhã de ontem, quando cessaram, cedendo lugar à garoa.

As águas desceram dos morros e transbordaram pelas ruas centrais, já que os canais não deram vazão ao escoamento. 

Centenas de veículos ficaram encalhados. Na parte central da cidade, as águas não atingiram mais que quarenta centímetros. Na faixa do cais, porém, ultrapassaram um metro de altura. 

Presos no cinema 

As pessoas que foram à última sessão de cinema. Na noite de sábado, ficaram presas nas salas de projeção até domingo pela manhã, quando puderam sair. 

Até as dez horas da manhã de domingo a cidade esteve bloqueada, sem luz, sem telefone e sem condução. Devido ao bloqueio, a Central de Polícia não atendia a qualquer ocorrência. 

 As primeiras notícias de desmoronamento começaram a chegar pouco depois a meia-noite e todos os desmoronamentos foram confirmados mais tarde. 

Ruíram parcialmente os seguintes morros: Marapé (perto da praia), dos Ingleses (na saída para São Vicente), Santa Terezinha (o mesmo da tragédia anterior), Mont Serrat (no centro), Santa Maria (ruiu duas vezes), Sítio Grande (em Guarujá) e um junto a São Vicente.

Morro do Marapé 

Seu desabamento tragou perto de 100 residências, causando, até o momento, 19 mortos, na sua maioria crianças. 

Morro dos Ingleses

Morreram nove pessoas e quatro casas ficaram soterradas no seu desmoronamento. Espera-se encontrar mais vítimas. 

No morro de Santa Terezinha, o mesmo da tragédia anterior, sofreu pequeno desabamento, sem vítimas. 

Mont Serrat 

No Mont Serrat, no centro da cidade, o deslocamento de terra atingiu a estação de bondes, de um lado, e uma fábrica de gelo do outro. Também não existem vítimas a lamentar. 

O maior desabamento

O principal desabamento ocorreu no morro de Santa Maria, que desabou em parte. Ruiu por duas vezes, na parte da manhã e pela tarde, supondo-se que existam soterradas no local umas vinte pessoas Elas estavam no sopé do morro, numa parada de bondes, esperando condução e assistindo o desabamento lento do outro lado do morro. 

Num segundo desabou uma avalanche de terra, lama e pedras soterrando todos os que ali se encontravam. Populares acudiram e entre gritos lancinantes tiraram do monturo mortos e vivos. 

Até a tarde de ontem existiam 20 corpos empilhados ao lado dos escombros. Trinta e dois feridos foram socorridos no Hospital São José, em São Vicente. 

Guarujá e S. Vicente 

Em Guarujá, onde caiu o morro do Sítio Grande, haviam sido encontrados três cadáveres e o Pronto Socorro atendera a oito feridos. Faltam maiores detalhes da tragédia. 

Em São Vicente, junto a Santos, perto da Ponte Pênsil que existe ali, desabou o morro do Itararé ameaçando um conjunto de edifícios de apartamentos. Também a barreira do Matadouro desabou. 

No necrotério 

No necrotério de Santos entraram, até as 19 horas de ontem, 39 cadáveres, na sua maioria crianças. 

Os trabalhos de salvamento prosseguem e deverão continuar por 10 dias. Quem chefia esses trabalhos é o delegado auxiliar da cidade, Sr. Pinto de Castro, auxiliado por vários delegados de Santos e São Paulo. 

Jânio na cidade 

O Sr. Jânio Quadros, governador do Estado, esteve em Santos, comparecendo, de início, à Delegacia Auxiliar e percorrendo, depois, com o prefeito, os locais da tragédia. Negou-se a falar à imprensa.

O prefeito Antonio Feliciano quando se dirigia para um dos locais atingidos sofreu um acidente, pois seu carro caiu num buraco, tombando parcialmente. 

O prefeito ficou levemente machucado nos braços e recolheu-se à sua residência, procurando evitar contatos com os repórteres que o procuraram. 

Os socorros médicos 

No Pronto Socorro da cidade passaram, ontem, 50 feridos. Os casos de maior gravidade foram encaminhados à Santa Casa local, onde mais de vinte médicos se desdobram atendendo os feridos que chegam a todo instante. 

De São Paulo para Santos vieram várias ambulâncias e viaturas do Corpo de Bombeiros. Duas outras ambulâncias com médicos e enfermeiras chegaram de São Caetano. Mais de dez viaturas do Corpo de Bombeiros ajudam nos trabalhos de desentulho. 

A Via Anchieta, ontem, cedo, foi interditada para ônibus e carros, de modo a permitir que os carros de socorro tivessem sua ação facilitada. 

Cinco crianças 

Em São Vicente ocorreu talvez, o mais triste quadro de toda a tragédia. Um casal residente no sopé do morro de São João foi ao cinema, onde as chuvas o retiveram. Ao voltar para casa, encontrou-a soterrada e mortos os seus cinco filhos. 

Está havendo verdadeira romaria ao local, pois todos os populares desejam ver a casa sinistrada.

Os primeiros cadáveres conduzidos por bombeiros chegaram à Polícia Central, pois as águas não deixavam ir ao necrotério. Envoltos em lençóis, ficaram nos bancos da Central de Polícia. 

Duas causas são apontadas para a tragédia de Santos. A primeira é a incúria da Prefeitura e a segunda a maré alta. 

Quando de desabamento do morro de Santa Terezinha, a Prefeitura estava avisada de que o morro tinha rachaduras agravadas com os trabalhos de uma pedreira no seu sopé. Houve grande movimentação para que as autoridades estudassem a situação de todos os morros e tomassem medidas de proteção aos milhares de habitantes dos “chalés” (barracos). 

Ela se limitou a enviar engenheiros que apenas aconselharam que esses moradores deveriam procurar novas residências. 

A questão foi agitada na Câmara e pelos jornais, mas sem novas habitações os morros continuaram apinhados de gente. Agora, repete-se o fato com a morte de crianças, homens e mulheres, além do desabamento de centenas de casas. 

A maré alta não permitiu que as águas das chuvas torrenciais saíssem para o mar. O sistema de esgoto não pode dar vazão ao volume d’água e a cidade ficou inundada. 

Ruiu o prédio 

Um prédio de 8 andares, localizado à Rua Amador Bueno, ruiu. Felizmente, não houve vitimas, pois as autoridades, prevendo a ocorrência, providenciaram a evacuação do edifício.

 Afogados 

Falava-se, com insistência, que na cidade de São Vicente haviam perecido afogadas cinco pessoas nas ruas que se encontram completamente alagadas. 

O desabamento do Mont Serrat começou às 13 horas, com uma avalanche de lama e água descendo pela encosta, pondo em perigo o prédio da Santa Casa, em cujo interior se encontram internadas várias vítimas do aguaceiro. 

Reina verdadeiro pânico entre os moradores do centro da cidade, onde está localizado o moro. 

Outra parte do morro está ameaçada de ruir em face do aguaceiro caído essa madrugada. Por isso, as autoridades policiais providenciaram no sentido de que todos os moradores da Rua Regente Feijó e imediações do morro abandonem os seus domicílios. 

 Ônibus soterrado 
]
Embora sem confirmação, acredita-se que um ônibus lotado de passageiros esteja sob os escombros do Mont Serrat, na Rua Senador Feijó. 

Outro morro 

Ainda em consequência do temporal, o morro das Caneleiras começou também a desmoronar, cerca das 16 horas de ontem. 

Prevendo o desabamento, as autoridades fizeram evacuar todas as famílias residentes nas imediações, não se registrando, por isso, qualquer vítima. 

 Em perigo, a ponte 

A Ponte Pênsil que liga São Vicente à Praia Grande também está em perigo, em virtude dos fortes aguaceiros. 

Todos os esforços estão sendo feitos no sentido de preservá-la. Como medida preliminar foi interditado o trânsito entre São Vicente e Praia Grande. 

Restabelecida a energia 

Alguns cabos de energia elétrica foram estabelecidos. As linhas de São Jorge foram as mais atingidas, ficando completamente destruídas. 

Nessa localidade as águas subiram a cerca de dois metros. Os moradores se utilizaram de barcos para fugir do perigo do temporal. 

No Jardim Santamaría, cerca de 100 casas foram atingidas pelas águas, que causaram enormes prejuízos materiais. 

Os serviços telefônicos, em alguns lugares, estão restabelecidos, mas os diretores da Companhia Telefônica informam que ainda há perigo de novas rupturas nos cabos. 

Recomeçam as chuvas 

Às primeiras horas da noite de ontem recomeçou a chover, temendo a população que novos desabamentos venham a ocorrer. 

Durante a tarde, a chuva caiu fraca, sendo que à tardinha parou completamente, tendo saído um sol muito fraco, que logo se escondeu, dando lugar a nuvens negras e ameaçadoras. 

Identidade dos mortos É a seguinte a relação dos mortos: 

Odila Estefani Perali; Julio Perali; Oduvaldo Perali; Odete Perali; Odair Perali; Manoel Francisco; Dulcinéia Maria Torres; Leide Barnabé Marieto; Lourival Barnabé Marieto; Valdemar Perali. Iza Barnabé Silva; Alfredo Silva; Isabel Cristina Silva; Valfredo Silva; Adriano Almeida; Eliana Praides; João Tiburcio da Silva; Maria Aparecida Silva; Valdemiro de Jesus; André Trajano Lima; Gustavo Barbosa Candido; Ida Matos; Francisco Matos; Lidia Matos; Claudete Matos; Emanuel Matos; José Pedro da Silva; Valdemiro Amâncio e Jeovana Jesus Amâncio. 

TRIBUNA DA IMPRENSA 26 de março de 1.958.

Nas Arcadas:

Nas Arcadas: A turma de Ruy ouviu novamente a “oração aos moços” 

Com visível emoção, os bacharelandos de 1920 (turma de Ruy), das Arcadas, ouviram sábado passado, a gravação da “Oração aos Moços” na voz de Reinaldo Porchat. Muitos não escondiam as lágrimas, naquela sessão solene da Faculdade, onde confraternizavam antigos e os atuais alunos da academia do Largo de São Francisco. 

Foram solenes e concorridas as comemorações do 25º aniversário da “Oração aos Moços”: missa, sessão pública com transmissão da notável peça de Ruy e almoço de confraternização. 

Rememoração

O ponto alto das solenidades foi quando, na sessão solene, se fez ouvir a gravação da “Oração os Moços”. A voz de Porchat estava firme, austera, robusta como exigia peça de Ruy. Os bacharelandos de 1920, de quem Ruy fora paraninfo, e os acadêmicos de hoje, ouviram contritos e com enorme comoção as palavras do grande baiano. 

A gravação pertence ao Sr. Milcíades Porchat, filho do grande tribuno da Faculdade, professor da turma de 1920, e a quem coube ler a “Oração aos Moços” de Ruy (enfermo). O mesmo Reinaldo Porchat que saudara Ruy, à chegada de Haia (1908). 

Estremeceu 

O representante do Centro Acadêmico “XI de Agosto”, Eloy de Melo Prado, discorreu na sessão solene sobre a passagem de Ruy pela Faculdade, onde se formou em 1870. Numa turma onde pontificavam também Castro Alves, Joaquim Nabuco, Afonso Pena e Rodrigues Alves. 

Melo Prado deu a solenidade dos estudantes de hoje às comemorações. Quando terminou, disse: 

- “Pois foi nesta casa que Ruy obteve os conhecimentos como mais tarde iria estremecer a Pátria”. 

Um evangelho 

Depois de falar o representante dos antigos alunos, Astor Guimarães Dias, discorreu longamente dobre a história da “Oração dos Moços” o professor Soares de Melo. Foi ele o intermediário entre os jovens de 1920 e Ruy e a ele coube a glória também de trazer o original da peça de Petrópolis para São Paulo.

Seu discurso foi de sincera comoção. 

- “A “Oração aos Moços” mantém uma geração de brasileiros em pé, pois, guia da nacionalidade, é um evangelho de direito, sabedoria e bondade” - disse, terminando. 

Ruy, hoje

Dirigiu os trabalhos da sessão solene o prof. Cardoso de Melo Neto (hoje aposentado), único professor da turma de Ruy (1920) ainda vivo. Ele já foi presidente do Estado de São Paulo. Falando ainda com acentuada firmeza, recordou a noite belíssima, quando Porchat leu a “Oração aos Moços”. A emoção que a cidade sentiu, àquele dia. A certa altura, recebeu grandes aplausos, quando afirmou: 

- “Nunca o Brasil precisou tanto de Ruy quanto hoje!” 

A lição de Ruy 

A gravação da “Oração aos Moços” lida por Porchat, era claramente escutada. E todos pensaram na atualidade destas palavras de grande brasileiro: 

- “Não busquemos (o Brasil) o caminho de volta à situação colonial. Guardemo-nos das proteções internacionais. Acautelemo-nos das invasões econômicas. Vigiemo-nos das potencias absorventes e das raças expansionistas. Não nos temamos tanto dos impérios já saciados, quanto dos ansiosos por se fazerem tais à custa dos povos indefesos e mal governados. Tenhamos sentido nos ventos, que soprem de certos quadrantes do céu. O Brasil é a mais cobiçável das presas; e, oferecida, como está, incauta, ingênua, inerme, a todas as ambições, tem, de sobejo, com eu fartar duas ou três das mais formidáveis.

TRIBUNA DA IMPRENSA 7 de maio de 1.956. 



HÁ 35 ANOS, RUY BARBOSA COMBATIA AS OLIGARQUIAS

Hoje é dia de aniversário da “Oração aos Moços” 

São Paulo, 28 (Sucursal) - Mil novecentos e vinte. Ruy Barbosa reúne num livro seus artigos sobre a intervenção federal na Bahia. E faz, então, seu cinquentenário jurídico. Por isso é escolhido paraninfo dos estudantes de São Paulo. Mas havia uma dificuldade séria. Ruy não era professor na velha Faculdade paulista. E o regulamento da Congregação era taxativo. Os 80 rapazes que se formavam estavam aborrecidos... Como trazer Ruy? 

Dois deles foram mais persistentes. José Soares de Melo e Cristiano Altenfelder da Silva vão recorrer ao diretor da Faculdade. A casa de Herculano de Freitas era no Paraíso. Ambos se dirigem para lá. Mas havia mais uma dificuldade. Herculano era antigo adversário de Ruy. Ministro da Justiça de Hermes, fora duramente criticado pelo baiano. Rivalidade que continuou pela imprensa, pelas tribunas. Melo e Altenfelder tremiam. 

O velho Herculano os recebeu com poucas palavras. Escutou-os também quietos. Súbito levantou-se e ergueu a voz: 

- “Não! Para Ruy, nesta Faculdade de Direito de São Paulo, abrem-se todas as exceções. Ele será o vosso paraninfo!” 

Foi paraninfando essa turma que Ruy escreveu sua célebre “Oração aos Moços”. Hoje, 35 anos depois, os rapazes de 1920 homenageiam Ruy e a “Oração aos moços”. Mas nenhum deles é mais rapaz. Nem são mais 80. Vinte e cinco deles já morreram. 

RUY NÃO ACEITA 

Mas quase que a “Oração aos Moços” não é escrita. É que Ruy, primeiro, aceitou a honra acadêmica. Esse dia foi dia de festa na Faculdade quando os emissários voltaram do Rio. Mas dias depois chega carta do mestre para Soares de Melo. Os acadêmicos deveriam eleger outro padrinho. Com 70 anos, Ruy andava enfermo (dois anos depois, a moléstia o abateria fatalmente). E deprimido. Ferido por injustiças e preterições. Iria viajar à Europa para curar talvez mente e espírito. Reservara mesmo um camarote na Royal Mail. 

Os estudantes, contudo, não se conformam. Chega ao Brasil, nessa época, o rei Alberto da Bélgica. Rei, estudantes e povo querem Ruy na capital do país. Ele vem do interior de Minas, onde convalescia. Mais uma embaixada acadêmica está no Rio. 

Ele os recebe na biblioteca de sua casa, em São Clemente. É junho de 1920. 

O PRESIDENTE “DEPURADO”

Ali estão, com ele, os jovens Soares de Melo, Cristiano Altenfelder da Silva, Carlos Pinto Alves, Urbano Rezende da Costa, Antonio Cattapreta, Valentim Gentil, Antonio Queiróz Teles, Horácio Lafer e Edgar Batista Pereira. Todos da turma da Faculdade. Alguns amigos de Ruy comparecem. Entre eles, o velho Palma e Sá Viana, mestre de Direito. Dona Maria Augusta e as filhas estão também presentes. 

A rapaziada insiste. Lançam argumentos. Há cinquenta anos (1870), Ruy se formara pela mesma Faculdade! As festas, ficariam para mais tarde. Em 1921. Mas que Ruy escrevesse o discurso. Se não pudesse ir, seria lido. A pressão é grande. Ruy cede. E acaba paraninfo de verdade. 

Então, vem uma meia hora de boa conversa. Ruy está lúcido naquela tarde de junho. Rememora fatos. Dá testemunho. E, quando fala da sua turma de 1870, surpreende os rapazes. É quando diz: 

- “Minha turma deu três presidentes da República. Rodrigues Alves, Afonso Pena e um “depurado”...

No animado da conversa, Ruy soltava uma verdade. O “depurado” era ele. Dois anos antes (1918) o governo lhe roubara um título conquistado nas urnas. O de presidente da República. 

O ano se concluiu, mas a festa ao se faz. A rapaziada da academia espera Ruy para a solenidade em março de 1921. Mas um telegrama avisa. Ruy estava pior. Não poderia vir. Soares de Melo volta ao Rio. Sobe a Petrópolis. Ruy lhe entrega o discurso. Ele lê sofregamente as palavras do mestre na viagem pelo diurno da Central. Na estação da Luz está Batista Pereira (futuro biógrafo de Ruy). Todos correm para um solar dos campos Elíseos. Reinaldo Porchat, o grande orador de São Paulo, concorda em ler a peça ilustre. 

Véspera da formatura. Ruy, de repente, telegrafa. Diz que virá para a festa. Os estudantes vivem horas de vibração. Horas antes de embarcar, porém, seu médico, Miguel Couto, proíbe a viagem. Novo telegrama. A formatura já chegou. Ruy não vem, mesmo. Mas todos bebem suas palavras de gênio. Alguns choram. A faculdade vibra com Ruy na voz de Porchat. 

Noite ainda, estão na estação telegráfica, professores e alunos. E Porchat reluzente. São os telegramas para Ruy que ficara no Rio. A Congregação o chama de o “máximo dos brasileiros”. Porchat diz que o auditório “aclamou delirantemente as palavras do mestre”. 

E Soares de Melo, o mais de todos telegrafa assim: “Beijo as mão excelso mestre cujas sagradas palavras me guiarão toda a existência como imperecível lição evangélica patriotismo e direito”. 

A “ORAÇÃO AOS MOÇOS”

No dia seguinte, lá está o discurso de Ruy no “Estado de São Paulo”. Amadeu Amaral foi quem reviu original e composição. O original fora, antes, revisto e emendado por Ruy. Carlos Pinto Alves publica logo depois toda a obra revista “Dionisius”. Revista de estudante. Carlos, o diretor. Por isso o título sai assim: “Oração aos Moços”. O nome pegou e vive até hoje. 

Ele mesmo vai levar 50 exemplares para Ruy, no Rio. O mestre o recebe carinhosamente. Veste um imenso sobretudo. A cabeça alva e grande se destaca do quadro. Ruy é ainda loquaz. Fala muito da Bahia. E diz, a certa altura: 

- “... pois na Bahia os velhos senhores de engenho tinham direito até à virgindade das negras”. 

Foi o suficiente para sua mulher por a criançada (os netos de Ruy) para fora da sala. Disse rápido: 

- “Vão embora, vão embora, vovô está falando!” 

Ruy continua a conversa. Diz que gostou do título “Oração aos Moços”. Bem aplicado. 

Hoje a “Oração aos moços é conhecida em todo o país. Muitas editoras lançaram edições de milhões de exemplares. E há tradução dela em meia dúzia de línguas. Fora do país, foi mais vendida na Itália. Entre nós, tem sido catecismo cívico. De duas gerações. 

A “TURMA DE RUY” HOMENAGEIA

É hoje a homenagem que a “turma de Ruy” fará pelos trinta e cinco anos da “Oração aos Moços”. Homenagem na Faculdade, claro. Missa, sessão solene e almoço aos remanescentes da velha turma. José Soares de Melo agora é professor de Direito na velha Academia. Ele mesmo fará o discurso oficial, perante a estátua de Ruy, sob as Arcadas. 

E se encontrarão os velhos amigos. Agora, Carlos Pinto Alves tem cultura imensa e escreve muito. Cristiano Altenfelder faz política (ex-candidato a senador) e cultiva café. Horácio Lafer fez carreira política, passando pelos estudos de filosofia. Queiroz Telles preside entidade da classe rural. Há advogados. Professores. Deputados. Um secretário de Estado. Faltam vinte e cinco que faleceram. Valentim Gentil quando morreu era presidente da Assembleia Legislativa. 

Nenhum deles, hoje, esquecerá de Ruy Barbosa: 

“Ora, senhores bacharelandos, pesai bem que vos ides consagrar à “lei”, num país onde a lei absolutamente não exprime o consentimento “da maioria”, onde são as minorias, as oligarquias mais acanhadas, mais impopulares e menos respeitáveis, as que põem, e dispõem, as que mandam e desmandam em tudo; a saber: num país, onde, verdadeiramente, “não há lei”, não há, moral, política ou juridicamente falando”. 

O povo hoje deve lembrar-se muito do “depurado”. 

TRIBUNA DA IMPRENSA Rio de Janeiro, 28-29 de Abril de 1956.