Eis os mestres da arte baiana: Carybé em sua maturidade gloriosa, pai e filho da Bahia; Jenner Augusto pintor máximo do nosso drama e da nossa paixão; mestre Calazans Neto cavando beleza na madeira, recriando a paisagem e o mar baianos; Floriano Teixeira, artista de personalidade tão original, criador feito de inteligência e sentimento; Zu Campos com seus entalhes esplendorosos; o tapeceiro Genaro de Carvalho cujo nome alcançou o máximo na sua arte; José Maria, um nome tradicional e consagrado; e por último Fernando Coelho que é hoje um dois primeiros nomes e dos mais sérios e verdadeiros da nossa arte. Com esses nomes, basta para que a Bahia se revele aos paulistas em toda a sua grandeza. (Essa a apresentação de Jorge Amado em recente catálogo de “A Galeria”, apresentando a mostra coletiva de artistas baianos).
Nem de propósito citou Fernando Coelho por último. Em 1965, quando Fernando surgia moço e imberbe, mas já com segurança e madureza interior que deram no pintor adulto de hoje, dizia Jorge Amado se esparramando:
Creio que a beleza expressa nesses óleos é de Fernando Coelho, arrancada de dentro de sua alegria de viver, de sua fome de criação, e é também da Bahia, cujo mistério o artista capta sutilmente, numa linha de emoção quase religiosa. Poucos tanto fizeram num tempo tão curto. Fernando Coelho cada vez que o encontro dá-me a impressão de nada ver senão pintura... Há um punhado de jovens artistas na Bahia que honram a grande geração anterior... Entre esses jovens, Fernando Coelho é uma realidade indiscutível.
O baiano cercado
Fernando deixa em Salvador a mulher Cyntia e os filhos Fernando, Paulo e Roberta e desce até São Paulo, com seu mundo pictórico debaixo do braço. Logo, chegam os amigos, do arquiteto Sérgio Taranto ao homem de negócios Jorge Moraes Dantas. De Otávio Bonoldi a Sérgio Carlos Lupatelli. De Isaac Carmona a Ivã Segurado Pinto. De Gilberto Adrien e a tantos outros que, reunidos em “A Galeria”, não se furtam em confirmar o gosto pela obra, o que vem confirmado pelas balizadas linhas de nosso Geraldo Ferraz:
– O deslocamento da colocação da paisagem no quadro é obtido mediante uma fresa aberta na claridade, como um rasgão por onde se visse o casario da cidade e do vilarejo, e então essa arquitetura se ostenta por dois aspectos amarfanhados, pelo tempo e pela distorção, que não chega a pretender um expressionismo. A pintura, também nota-se, é principalmente baseada em desenho e faz-se assim toda de risco negro bem colocado e da cor entremeando essas estruturações contorcidas, esborcinadas pelo tempo e pelo prisma. O colorido, porém, é muito sabiamente dosado, o que nos deixa numa insatisfação de não encontrar a marca jovem, pois Fernando Coelho é dos moços pintores da Bahia, mas sua pintura não.
A fala de Fernando Coelho
Waldemar Szaniicki e Izabel Assumpção providenciam a montagem das telas de Fernando Coelho, onde, conforme notou o crítico Carlos Eduardo Rocha, “a cor, a luz, a matéria são utilizadas como dinâmica conduzindo-o a vibrações e ritmos que emprestam às suas telas uma poderosa emoção de vida”.
Fernando, à nossa frente, depõe informal e descontraidamente:
– Já passou minha fase de procissões... Muitos acham que puxo algo para Pancetti e Jenner Augusto, dois mestres... Pra que sair da Bahia, lá é um privilégio morar... São Paulo assusta, como Recife também, mas no Rio talvez pudesse viver... Gosto do meu tipo atual de pintura; moro no mato, vou ao Ceará buscar ex-votos e o seu folclore... Acho que a técnica da pintura se pode ensinar, a criação não, nuca... Meus maiores amigos na Boa-Terra são Jenner Augusto, Floriano Teixeira, Jorge Amado e Genaro de Carvalho... Já fui decorador e publicitário, já vendi toalha plástica no interior de Sergipe... Sou figurativo sim, mas admiro e respeito a arte de vanguarda, tudo que seja contra a estagnação...
Fernando Coelho por Jorge Amado
Poucos fizeram tanto num tempo tão curto. A beleza expressa nesses óleos, arrancada de dentro de sua alegria de viver, de sua fome de criação, é também da Bahia, cujo mistério o artista capta sutilmente, numa linha de emoção quase religiosa.
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