quinta-feira, 2 de julho de 2015

FESTA DE CORES – 12 PRIMITIVOS BRASILEIROS NO MASP – BARDI EXPLICA

O Museu de Arte Assis Chateaubriand está apresentando uma exposição intitulada Festa de Cores, onde 12 artistas primitivos brasileiros mostram sua produção atual – telas ingênuas, populares, regionais – uma pintura bruta e lírica ao mesmo tempo, capaz de atrair a atenção de críticos e do público em geral. O professor Pietro Maria Bardi, que organizou a mostra com a ajuda do artista C. Morais, diz que essa história dos primitivos é um problema de semântica. Segundo ele, os autênticos, os “pintores de domingos”, inspirados e conscientes que fazem parte da crônica doméstica da própria casa, conquistando o respeito dos vizinhos, dos amigos do município em que moram são poucos e pertencem em geral às elites do artesanato, operando naquela áurea singular natural do espírito e da fantasia popular. 

Essa mostra dos 12 nomes do primitivismo nacional foi organizada por Crisaldo Morais com montagem de Paulo Wladimir e programação visual de Antônio Cláudio. Segundo o Prof. Bardi, o grupo que se apresenta me parece merecedor de atenção e até de crítica, como profissionais dedicados a uma comunicação para aficionados especializados, entre eles os polêmicos que se refugiam no que compreendem, conclamando que não entendem as desventuras que sucederam ao impressionismo. No mundo há lugar para todos, devemos nos acostumar à tolerância e à cordialidade. Assim, sejam bem-vindos ao Museu estes artífices namorados da arte, ficando a cargo do visitante atribuir seu “gosto, não gosto”, a cada uma das pinturas.

Forró - acrílico sobre tela (Ivonaldo)

Para um observador que já pilotou grande número de barcos através dos agitados mares do perder-ganhar-tempo que se acostuma apelidar e arte – como lazer, empenho moral, religioso, político, passatempo ocasional ou proposital, etc. – aquela atividade hoje se subdivide em t antas outras fatias. As fatias representam tendências, que por sua vez quase sempre partilhadas em mini tendências, pseudo tendências, propostas ingênuas, etc. 
Waldomiro de Deus

Sei que a tagarelice dos setores ars-republicanos vão comentar, ao saber que o Museu dedica uma exposição dos pintores brasileiros ditos primitivos. A classe conceitualista que se sucedeu gloriosamente às classes abstracionistas, popistas, poverista, minimista, etc., a classe que mantém nas mãos os Orcars que lhes foram atribuídos pelos sofisticados da penúltima e da última hora (esperando por um novo ismo que lhe chegue de Nova Iorque ou de outro centro qualquer, com autoridade de impor rumos estéticos atualizados), aquela classe detesta, sarcasticamente, como é notório, os produtores de telas pintadas à paisana. 

Obra de Crisaldo Moraes

Quando em 1966 o Itamarati me confiou a tarefa de escolher a representação brasileira à XXXIII Bienal de Veneza, recrutei cinco artistas: Arthur Piza, Sérgio Camargo, Wesley Duke Lee e os primitivos Agostinho Batista de Freitas e José Antonio da Silva. Sei que os três primeiros não gostaram, mas tratava-se de oferecer uma ideia da produção brasileira dentro da realidade, representando também os numerosos pintores de cunho popular que em todas as províncias se dedicam ao comentário da realidade em que vivem, os autodidatas que conseguem criar por instinto como nossos sambistas. 

LUTAS DE CADA ARTISTA 
ALEXANDRE FILHO - Bananeiras, Paraíba, 1932. Até os 17 anos trabalhou na lavoura, não chegou a concluir o curso primário. Trabalhou como servente, caixeiro de armazém e foi candango em Brasília. Dedica-se à pintura desde 1966. Viveu no Rio e, atualmente, mora em Guarabira, Paraíba. CRISALDO MORAIS – Recife. PE, 1932. Na sua infância sempre viajou para cidades do interior, até concluir o primário. Foi bancário, economista, aeroviário, tendo vivido 4 anos nos Estados Unidos. Desde 1970 viaja para a Europa expondo seus trabalhos em vários países. Dedica-se á pintura desde 1967 e mora em São Paulo.
ELZA O. S. – Recife, PE, 1928. Antes de se tornar pintora profissional foi bordadeira e integrou o além aquático do Copacabana Palace Hotel. Fez tentativas no teatro e canto lírico. Dedica-se à pintura desde 1964 recebendo orientação, no início de sua carreira, de Ivã Serpa, no MAM carioca. Reside no Rio de Janeiro. 
GÉRSON – Recife, PE, 1926. Em 1946 transferiu-se para o Rio de Janeiro, trabalhando dos Correios. Frequentou a Escolinha de Arte do Brasil, onde desenvolveu o estudo da gravura, entalhe sob a direção de Augusto Rodrigues. Dedica-se à pintura desde 1959. 
IAPONI – São Vicente, RN, 1942. Participou da formação do Museu de Arte Popular de Natal. Estudou desenho e pintura autodidaticamente. Em 1967 transferiu-se para o Rio de Janeiro. Viveu dois anos da Europa, principalmente em Londres. 
IVONALDO – Caruaru, PE, 1943. Em Caruaru foi vendedor ambulante na famosa feira da cidade e mais tarde transferiu-se para São Paulo., onde foi balconista de farmácia, bancário e concluiu o curso clássico. A partir de 1967 dedicou-se à pintura. Viveu dois anos em Paris e reside em São Paulo. MARIA AUXILIADORA SILVA – Campo Belo, MG, 1935. Transferiu-se para São Paulo tornando-se uma ativa artista de família radicada no Embu. Foi também doméstica, passadeira de roupa, bordadeira, concluindo o curso primário já adulta. A partir de 1967 dedicou-se profissionalmente à pintura. Faleceu prematuramente em 1974. 
NEUTON ANDRADE – Timburí, SP, 1938. Toda sua infância e juventude foi vivida no campo, colhendo café e algodão. Em São Paulo foi entregador de roupa, comerciário e bancário. Dedica-se à pintura como profissão desde 1959 e já expôs nos Estados Unidos. 
PAULO WLADIMIR – Currais Novos, RN, 1943. Até os 16 anos viveu no interior trabalhando no comércio, como balconista de loja e vendedor de minérios. Em Recife concluiu o curso científico e foi bancário. Em São Paulo chegou a ser aeroviário. Dedica-se à pintura desde 1967.
WALDOMIRO DE DEUS – Boa Nova, Bahia, 1944. Antes de se dedicar à pintura foi copeiro, ajudante de pedreiro e jardineiro. Foi descoberto desenhando sentado no Viaduto do Chá, pelo Prof. Bardi. Já foi chamado de “pintor maldito”. Viveu longas temporadas em Israel, Itália e França. Dedica-se à pintura desde 1962.

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