CARLOS LACERDA, JÂNIO QUADROS E A RENÚNCIA
Leio nos jornais que, morto Carlos Lacerda, Jânio Quadros lhe atribuiu à causa principal de sua renúncia, “Quis evitar o derramamento de sangue”, diz JQ, além de outras afirmações desse teor.
Quero prestar um pequeno depoimento pessoal, que vocês ajuizarão.
Em recente acontecimento social, nesta Capital, Jânio me disse que desejava falar com o Carlos. Quando ele viesse a S. Paulo, que fizesse o favor de telefonar a ele. Deu-me até o telefone de sua casa.
No Rio, há 15 dias, onde fui a serviço profissional, procurei, como sempre, Carlos Lacerda na Nova Fronteira. Levei algumas fotos antigas de S. Paulo, para um álbum que ele pretendia publicar ao final deste ano (cedidas pelo MIS e Serviço do Patrimônio da Prefeitura, além de pesquisas de D. Maria Morais Barros).
Após vários assuntos, dei o recado de Jânio. E o Carlos, de forma textual:
– Errar todos erramos, Luiz Ernesto. Eu principalmente errei e tenho errado muito. Mas trair é outra coisa.
E Jânio Quadros traiu, é um traidor, Nunca mais quero ter conversa com ele.
Não posso, nessa hora, ficar silencioso antes a frase e o fato, que julgo o definitivo juízo de Lacerda sobre Jânio Quadros frente à História.
É que lhe desejava transmitir, nesta hora, em que o Brasil perde seu maior vulto neste século, acordando emoções e consciências há tanto adormecidas.
Luiz Ernesto Kawall
SP – 24.5.77
Nenhum comentário:
Postar um comentário