JQ – O senhor que escreveu aquela noticia no “Painel” na Folha?
LE – Eu não escrevi. Eu dei uma entrevista à Folha.
JQ – Você é um mentiroso!
LE – Não. Escutei aquilo do Carlos...
JQ – Você é um mentiroso!!!
LE – Mentiroso é o senhor!
JQ – Aquilo é uma infâmia, me atinge!
LE – Eu informei no jornal o que o Carlos me disse. Que nunca mais queira saber de Jânio Quadros. Que o senhor era um traidor!
JQ – Isto é uma infâmia!
LE – Na opinião do senhor...
JQ – Isto não vai ficar assim! Eu tenho provas...
LE – Eu também tenho, Presidente!
J.Q. –... E eu vou esmagá-lo!!!
LE – Pode fazer o que quiser, Presidente. Sou um jornalista modesto...
JQ –... Eu vou esmagá-lo!
LE – Pode fazer o que quiser. Não sou candidato a nada.
Diálogo ocorrido em A Galeria, em 24.8.77
Testemunhas: Paulo de Tarso dos Santos, Waldemar Szaniecki e outras pessoas. Houve avanços e recuos. Saí de A Galeria em seguida ao diálogo. Na rua, já na calçada, Szaniecki me seguiu e convidou-me a entrar de novo. Agradeci e disse que não o fazia, em homenagem a duas pessoas que muito prezava: Paulo de Tarso e ele, Waldemar. Tomei o carro e fui à casa do Flávio Pinho (aniv. Silvia), onde cheguei muito agitado. O bom ambiente, o bom vinho, as muitas conversas com amigos me acalmaram.
A respeito dessa passagem e para bem melhor compreendê-la, escreveu Gabriel Kwak em “O Trevo e a Vassoura”:
Jânio Quadros queria que Carlos Lacerda, o homem que havia precipitado o seu gesto ingênuo de renúncia, escrevesse um manifesto de homens públicos com direitos políticos cassados. O espevitado ex-presidente fez essa proposta ao veterano jornalista Luiz Ernesto Kawall muito ligado a Lacerda, na missa de sétimo dia do empresário Ciccillo Matarazzo.
Dias depois, Luiz Ernesto esteve com Lacerda no Rio de Janeiro, na Editora Nova Fronteira, de propriedade do ex-governador da Guanabara, e tocou no assunto. O Corvo cortou:
– Esse é um traidor da pátria. Eu nunca mais quero falar com esse f.d.p.!
Oito dias depois, Carlos Lacerda faleceu na Clínica São Vicente. Jânio, então, declarou à Folha de S. Paulo que o falecido tinha sido “o culpado da sua renúncia”. Luiz Ernesto contra-atacou, plantando na coluna “Painel” do mesmo jornal as declarações sobre Jânio que ouvira de Lacerda, dias antes.
Dias depois, Luiz Ernesto foi a um vernissage de Paulo de Tarso Santos em A Galeria, na Rua Haddock Lobo, nos Jardins, São Paulo. Lá encontrou Jânio Quadros, em companhia de Fernando Mauro Pires da Rocha e Roberto Cardoso Alves. Quando viu o jornalista, o ex-presidente teria perdido o fair play e saído em disparada em sua direção. Fora de si, chamou Luiz Ernesto às falas:
– Foi você que me chamou de traidor na “Folha”?
– Eu não. Foi o Lacerda.
Sacudindo o copo na direção de Luiz Ernesto. Jânio ameaçou:
– Mentira! Vou esmagá-lo!
Luiz Ernesto não se intimidou e ainda arremedou o homem da vassoura:
– Esmagá-lo-ei primeiro, presidente.
S
e não fosse a entrada em cena da “turma do deixa disso”, a noite acabaria em prejuízo para um dos dois galos de briga. Abreu Sodré, no entanto, queria que o episódio, verdadeira cena de ópera bufa, tivesse outro desfecho. O ex-governador disse a Luiz Ernesto:
– Você devia ter da do um tapa nesse canalha.
(O Trevo e a Vassoura - os destinos de Jânio Quadros e Adhemar de Barros - Ed. A Girafa, p. 178).
(O Trevo e a Vassoura - os destinos de Jânio Quadros e Adhemar de Barros - Ed. A Girafa, p. 178).
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