por
Arnaldo Chieus
Diálogos paralelos
Colagens do repertório crítico
Para Luiz Ernesto Kawall
Uma linha poligonal
Um arco verdadeiro
Na precisão dos vértices
Entre um cafezinho
E o indefectível
Cigarro de palha.
Na ereção de um símbolo
Absolutamente panteísta
A religiosidade genérica
Mergulhando no infinito
Na paz profunda de luz e sombra.
Um misto de formas tipográficas
fixando-se nas paredes etéreas
Pintura pura
Religiosidade cósmica.
No claro,
com luz natural
do dia –
Só assim enxergo o mundo:
Meu mundo de luz natural.
Um legítimo toscano
Um dia fui nascido
Sou, ainda, serei sempre.
Lucca, Modena, Veneza
Catalizador definitivo das imagens icônicas
Símbolo de um passado que não foi
Hoje, mestre solitário
A caminhar nas calçadas do Cambuci
ao largo de suas ruas tortuosas
na desolação de seus muros
Entre a forma primitiva
E a trama geométrica
A busca da realidade
Transcendente.
E na louca paulistânia
a inspiração matutina
à luz da primeira manhã
saindo, ousadamente
no seu rimado contraponto.
Ao abandono, gradual
Da pintura, ao natural
Longe, tão longe
Dos amigos, antigos do Santa Helena.
A maturidade a partir do rosto
Sem nome
Trabalhando suas construções imaginárias
exilado de suas feições.
São os amigos, novos,
que se fazem próximos
entre o que tinham em comum
e nas diferenças que os uniam.
“desde o trinta e seis”
um pintor a superar o tempo
– “Vocês andam à cata de gênios,
E não conhecem o Volpi, no Cambuci?
Vamos lá”!
Criador sempre
Além de tendência, corrente, e temáticas
Uma técnica instintiva
Pintando antes de conhecer Cezanne
e na afinidade próxima
dos pré-renascentistas.
Bruno Giorgi e Volpi,
uma velha amizade!
E foi na amizade de suas leituras
que nos desponta o camponês simples
na espontânea paciência de sua generosidade.
E daí à magia da trama
Na tela múltipla
Traço ágil em magistral equilíbrio
Maestria nas cores quentes e frias
Autêntico, sempre.
Metáforas, analogias
Figuras, composições, construções.
Geometria limpa
Amplos planos e majestosos espaços.
A forma
A linha
A cor
a compor e recompor poliedros
escavando a intuição
aproximando-se da genialidade!
E, em absoluta neutralidade,
compor – repor – recompor
na magistralmente religiosa composição
Ao aguçado olhar franco de Maria Eugênia!
E daí surgem as ogivas
Relação visual com o natural.
A partir daí ergue-se a Catedral
em áurea seta, fora do sonho,
na melodiosa linha de sua polifonia.
Muito além do céu tristonho
Em busca do edifício perfeito
Tão inteligível ao olho que examina a partitura
Quanto ao ouvido (treinado)
Que absorve a trama polifônica.
Na composição desse poema foram utilizados fragmentos
das seguintes obras:
A Catedral – poema de Alphonsus de Gumaraens
Dois Estudos sobre Volpi – Olívio Tavares de Araújo
Bruno Giorgi e Volpi, uma velha amizade – Luiz Ernesto Kawall
Este poema foi escrito em 15 de dezembro de 2023 em homenagem a Luiz Ernesto Machado Kawall
*11.06.1927
+13.08.2024
À sua memória, o Instituto Salerno-Chieus mantém, em Ubatuba, SP, o Núcleo de Documentação Luiz Ernesto Kawall (Doc-LEK).