sábado, 13 de agosto de 2016

CORREIOS E TELÉGRAFOS

Os Correios e Telégrafos de São Paulo são uma certidão exatíssima de como nossa terra é tratada por parte do Governo da União. Descaso deprimente afrontando todos os dias o brio do paulistano. Repartição burocrática dentro do dinamismo da cidade. Capítulo triste de uma história nefasta de ridicularizantes serviços. Oito letras do vergão de uma chibatada nas costas do paulista: Vergonha! Sim, é vergonhoso o Correio de São Paulo! Instalações acanhadas, cortiços em forma de salas, sujeira pelos corredores, mal distribuídas as secções...

Os avisos ao público são feitos á mão, ao correr da pena, no apanhar de um papel; meles, as caligrafias cansadas dos humildes funcionários rabiscam, em generalizada confusão, dizeres e indicações. “Cartas expressa” é o fel amargo que bebemos todos os dias. Na secção do “Registro” é preciso ter-se à mão o imenso fio de Teseu, para que não nos percamos pelas indicações de numerosas flexas, que indicam sempre seja aquele próximo guichê, o problemático e futuroso “Registro”... As cartas aéreas devem ser colocadas em caixão bárbaro de tão rude, rabiscado, pequeno, receioso no seu cantinho quase invisível. Luta-se na epopeia da conquista de meia grama de cola para o envelope; nervoso é o amontoado das pessoas, o pincel é demagogia, imundíssimo é o mármore e a cola... 

As cartas de porte simples o Correio, em legislação única no mundo, pode enviá-las ou não; quanto às expressas e registradas, essas o Monstro se compromete levá-las ao seu destinatário; mas se elas se extraviarem, queixe-se a quem? 

São freqüentes as discussões na secção dos telegramas: “Não há troco” – “Passei esse telegrama há dez dias...” – “Em Vila Carrão não entregamos” – “Só passamos em português” – “Além dos 2,50 são 4,80 a mais” – “Desculpe: o expediente já fechou...” Alias, o casarão não é notívago: já às dez horas da noite, em fato virgem nas grandes Capitais, Morfeu deita em berço esplêndido,para seu descansar burocrático, o conspícuo e solene Instituto... 

Certa vez, o fato é verídico, aconteceu a um cidadão aqui da Capital colocar carta no Correio endereçada a um morador À Rua Rio de Janeiro, poucas quadras adiante donde residia. Carta expressa e registrada. Demorando a resposta dirige-se o infeliz à Secção de Reclamações do Grande Polvo: fazem-no lá saber que sua carta fora, por engano,enviada ao Estado do Rio de Janeiro..“Mas é muito simples: o sr. enche este requerimento, paga os selos devidos, e manda-a buscar. Si ainda não vier? Ao, faz-se outro , amigo, dirigido então ao Delegado Regional...” Pobre terra! Que o menor dos males seja mesmo a morte, selada, registrada e expressa (apesar de tudo)! 

Os funcionários são poucos e estão ma alojados para tanto serviço: por isso as filas imensas e a má vontade de muitos. Às vezes as discussões ecoam pelas penumbras pelas penumbras (o termo é real), tornam-se ásperos os vocábulos. Entretanto, já no topo dos guichês, os cidadãos são prevenidos, pela maneira mais anti-psicológica possível, de que “Pelo artigo ... da Constituição Federal,será punido, com pena de ]reclusão ou multa , todo aquele que desrespeitar o funcionamento em serviço”... 

Para mim a culpa disso tudo é do Jeca Tatu. Sim, pobre casarão dos Correios, infelizes funcionários, sofredor povo paulista. Vós sois somente vítimas do apalermado Jeca Tatu, que se acocorou desde 1930, no Catete, embasbacado pela Guanabara belíssima, e que se chama Governo da União... 

A IMPRENSA – Outubro-Novembro de 1949

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