sábado, 6 de junho de 2015

SZANIECKI ANO V: A MAIOR GALERIA DO PAÍS

Fachada de concreto aparente, vegetação ambiental à entrada, estruturas ao ar livre, amplo salão de exposições com duplo pé direito, iluminação zenital, teto de acrílico, vidros blindex separando as salas da direção e administrativas, aços cromados nas paredes lisas, móveis de vidro e acrílicos transparentes, painéis corrediços, trilhos especiais para mostragem das obras, dois painéis homenageando críticos e escribas - entre os quais Julio de Mesquita Neto, Otávio Frias de Oliveira, Mario Schemberg, José Geraldo Vieira, Olney Krusse, Ed Nam, Adolfo Block, Gilberto Adriem - essa é a nova A Galeria-72, sob a direção dum cabeludo baiano que, em 5 anos, ganhou vitoriosamente a praça do mercado de arte em São Paulo. Ao lado de sua mulher Belinha, Valdemar Szaniecki atende aos jornalistas, críticos, convidados especiais, o pessoal do Bancional, que o financia, o jovem engenheiro Adolfo Kracochanski, que ergueu ali no prédio n. 1.111 da Rua Haddock Lobo, a mais bela e moderna galeria do Brasil. Hoje é o dia da apresentação da galeria à imprensa, de homenagear um pintor do primeiro time e da primeira hora - Rebolo Gonsales - de anunciar a São Paulo que a Galeria inaugura oficialmente dia 21 próximo, com José Geraldo Vieira organizando ali a mostra retrospectiva dos 50 anos da arte brasileira - da Semana de 22, até nossos dias. 
Valdemar Szaniecki

O Rebolinho já está no terceiro uísque, bem controlado pelo genro Antonio Gonçalves. Jose Geraldo está dizendo que a arte de Rebolo se confunde com a arte brasileira. Noêmia. Maria Leontina, Dirce Pires, Valter Levy, o mameluco Aldemir, Wesley Duke Lee, Mabe, Caciporé Torres, Calabrone, Chico Diabo, Luiz Martins, Victor Civita, Napoleão de Carvalho e Carlos Coelho, todos andam e reandam pelas galerias modernas da galeria. Ela está repleta agora. Gentes que andam e transam, fotógrafos, garçons, nas paredes concretas as telas de Di, Volpi, Bonadei, Mabe, Guignard, Flávio, Mirabeau, Caribé, Janner, Tarsila, Teruz, Di Petre, Ismael Nery - telas, antigas e novas, dos maiores artistas do país, a mostra que Valdemar Szaniecki, mais que vender fácil, - sabe comprar bem.

Waldemar nos conta que tudo começou quando em março de 67 instalou “A Galeria” na Bela Cintra, 741, inaugurada na noite de 27 de junho daquele ano. “A Galeria” teve sua fundação numa época de plena afirmação do mercado nacional de arte. A rápida expansão desse mercado e o alto nível das artes plásticas brasileiras passou a exigir novos métodos de trabalho e apresentação das galerias com as novas solicitações do meio cultural e artístico... “No entendimento desse problema buscamos a execução de uma obra arquitetônica adequada às atividades específicas de uma galeria de arte”. 

O terreno da Rua Haddock Lobo, entre as Alamedas Franca e Tietê foi confiado ao arquiteto Maurício Kogan, que elaborou o projeto. Os artistas plásticos Caribé e Mário Cravo foram convocados para em conjunto com o arquiteto debaterem as diretrizes e filosofia que nortearam o projeto final. As obras foram executadas pelo engenheiro Adolfo Kracochansky que resultaram numa galeria de arte com instalações no melhor nível internacional. Com o fundo da fachada de concreto aparente e vegetações, as esculturas expostas de Mário Cravo, Caciporé, Calabrone, Cravo Neto valorizam a paisagem urbana local. 

O visitante ao entrar na Galeria tem seu caminho junto às esculturas, visualizando-as em vários ângulos sucessivos na sua caminhada. Os jardins foram projetados para propiciar condições ambientais às obras. O grande salão de exposições de pé direito duplo possui iluminação zenital natural por teto de acrílico. Deste salão divisam-se os três jardins de esculturas através de amplos vidros blindex, buscando-se a integração do verde e natureza do edifício. 

Todo o espaço interno é de uma arquitetura neutra. O branco e o concreto à vista e o aço cromado são as únicas cores existentes. Um espaço gerado para as obras de arte e que se completa com elas. O mobiliário é todo em vidro e acrílico transparente e de estrutura de aço cromado para evitar interferências visuais nas obras expostas. Um balcão no salão de exposições propicia visitação superior onde as obras podem ser observadas em novos ângulos. 

O acesso ao acervo é feito pelo 2º jardim de esculturas entre plantas e obras. O salão do acervo possui 50 painéis verticais brancos corrediços, onde as obras são penduradas. O deslocamento dos painéis dá condições de rápida classificação de 500 obras, permitindo facilidades de apresentação, inéditas ainda no Brasil. O setor administrativo com circulação própria independente possui sala administrativa de funcionários, sala de diretoria, sanitários, sala de imprensa, com equipamento de projeção de filmes, “slides” e arquivos. 

Com seus belos olhos pretos de romena, Rica Chiriac é a amável gerente da nova A Galeria. Ela atende aos convidados, uma dose mais de JB não faz mal a ninguém. Na secretaria envidraçada estão Daisy, Sônia e Helena, sempre dispostas a mil informes e ajudas. Edésio, auxiliar imediato, está vistoso no uniforme de gala. Waldemar tem o ar cansado e feliz, não quer mais posar para o veterano Jarbas Marcondes, afinal sua luta na doida Paulicéia, onde aportou há alguns anos, está ali vitoriosa, em concreto e aço - arte. Tribuna de Santos, 10 de setembro de 1972. 


SZANIECKI: A arte de vender arte 

É fácil vender arte brasileira na capital, dura, fria, desumana, apressada, poluída, urbe cosmopolita que mais cresce no mundo, na cidade gigantesca de 7 milhões de habitantes? 

Waldemar Szaniecki, baiano, advogado, compositor popular (parceiro de Tom Zé), dono de “A Galeria”, marchand de tableaux de grandes nomes de plásticos brasileiros: 

– Não. Tem seus truques, mas, com o desenvolvimento gradual do país, de uns anos para cá, o artista nacional passou a ser reconhecido, conquistou um mercado específico de arte, que, hoje, nós lutamos para defender e ampliar. 

Ele recebe uma esplendorosa série de nus de Genaro. A mostra será inaugurada dia 18, sob patrocínio de Sylvia de Assunção Sodré, e todas as telas estão vendidas. Waldemar considera a compra de obras de arte um bom investimento, nos tempos atuais. 

– A arte é uma forma inteligente de investir, a mais segura. Quem compra um quadro de nossos bons artistas, hoje, pode vendê-lo mais tarde, com lucros superiores a quaisquer outros tipos de investimentos. O mercado de arte, hoje em dia, supera mesmo os de ações ou de imóveis. E note, uma boa obra de arte, hoje em dia – seja ela pintura, escultura, desenho ou gravura – pode ser vendida a qualquer tempo, dentro mesmo de uma crise social ou financeira. 

A MULHER COMPRA 

– Quem compra a obra de arte, o homem ou a mulher? 

Waldemar explica que, tempos atrás, só os homens decidiam sobre as telas a comprar. Hoje é a mulher que, Na maioria das vezes influi decisivamente na compra, se ela mesma não comprar. 

– Muitas de nossas clientes compram pinturas com o dinheiro de suas mesadas. O marido só vê as obras quando ela está nas paredes de sua casa. Aliás, a maioria delas prefere ganhar um Mário Cravo ou um Lula Cardoso Ayres, ou um Jenner Augusto, que uma joia, cara ou rara. 

Segundo ele, a arte brasileira tomou conta definitivamente dos salões da sociedade, derrubando Picasso, Matisses, Braques e as gravurinhas inglesas tão a gosto dos esnobes das últimas décadas. 

Nesse ponto, Waldemar diz que inovou, criando um sistema de vendas a prestações, financiadas pelo Banco Nacional do Comércio de São Paulo. 

A ARTE DE VENDER 
Victor Civita, um dos melhores amigos (e compradores) de pintura brasileira, telefona. Quer lançar um pintor novo. Szanieck topa. Nasceu em Salvador, na rua da bengala está residindo em São Paulo, dos quais 4 foram passados entre a França, Europa e Bahia. Tem orgulho de ter sido aluno de Orlando Gomes, Josafá Marinho, Aliomar Baleeiro, Aloísio de Carvalho Filho e Jairo Simões. 

Na sua terra foi jornalista profissional (turismo). Numa de suas viagens a S. Paulo conheceu Belinha, sua mulher. Os dois filhos são paulistanos, “e adoram a Bahia”. Estudou na Faculdade de Direito de S. Paulo. 

– Devo o que sou a muitos amigos, aos meus incentivadores, Jorge Amado, Caribé, Fernando Coelho, Concessa Colaço, Darcy Penteado, Loty Oswald, entre outros tantos artistas, hoje todos exclusivos de minha galeria, aos quais sou imorredouramente grato. 

Szaniecki gosta de dizer que “A Galeria” é um consulado da Bahia em São Paulo. Seus 11 funcionários já se acostumaram ao trabalho com esse baiano palrador, amigo dos artistas, vendedor de pintura brasileira que, agora, na Paulicéia Desvairada, já estão lado dos maiores “marchands” de São Paulo: César Luís Pires de Mello, Sofia Tassinari, Biaggio Motta, Emy Bonfim. 

São 10 horas da noite. É uma cliente ao telefone: – Recebi uma talha de Zu Campos que ficará bem em sua casa... Seu marido?... Ele vai gostar. Se não, você devolve... Claro, faço em, 5 pagamentos suaves, minha filha. 

Um feliz cavalheiro

“A Galeria” apresenta uma coletiva de artistas baianos... O público paulista está alegre... Creio, porém, que o mais feliz com tido isso é um cavalheiro de nome Waldemar Szanieck – advogado, cronista, letrista de música popular. Sendo tanta coisa e fazendo bem cada uma delas, não se contentou com elas e estabeleceu-se em São Paulo. Podem pensar que ele o fez para ganhar dinheiro; mas creio eu que Waldemar criou uma galeria principalmente para expor os artistas baianos, pois ele próprio é um baiano lutando em São Paulo, mas vivendo na saudade da Bahia, criada por seus artistas; com que paixão organiza as mostras dos escultores, pintores, entalhadores da Bahia! 
(JORGE AMADO, apresentando o catálogo de ”Artista da Bahia”, mostra de “A Galeria”, 1969).

3 comentários:

  1. Arnaldo tudo bem ?
    Aqui Ronaldo Szaniecki, filho mais velho de Valdemar Szaniecki.
    Poderia me passar seu email ?
    Estou reativando a A Galeria e gostaria de falar ctgo.
    Obrigado,abs ...

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    1. Olá Ronaldo, tudo bem com você? Perdão pela demora. Segue o e-mail para contato: arnaldochieus@adv.oabsp.org.br
      Estou a disposição. Um abraço. Arnaldo.

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  2. Olá Ronaldo Szaniecki. Meu nome é Igor Freitas, baiano, Advogado tributarista. Tive a honra de conhecer seus pais no final da década de 90. Gostaria de conversar contigo (assuntos informais), ou com sua mãe Dona Belinha. Por favor, quando puder, mantenha contato. Grato! advigorfreitas@gmail.com

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