terça-feira, 6 de janeiro de 2015

TARSILA e FRIDA

Tarsila do Amaral, Brasil: “Abaporu”, de 1928, que pertence à coleção de Eduardo Consentini, foi um quadro emblemático do Movimento Antropofágico que buscou radicalizar a relação entre a tradição cultural brasileira e o colonialismo cultural internacional, como o próprio título da obra explica: o abaporu, palavra e origem tupi guarani que significa “canibal”. 

Frida Kalo, México: “Auto-Retrato com Macaco e Louro”, de 1942, é uma obra difícil de rotular sem cometer simplificações grosseiras. Apesar de ser comum a utilização constante e intencional do Surrealismo para explicar a obra de Frida Kalo e justificar seus aparentes excessos em relação ao fantástico e ao absurdo, trata-se de um universo mítico, exemplarmente particular. 

O último quadro de sua vida, já em cadeira de rodas, Tarsila e este repórter foram muito amigos, principalmente m troca de telefonemas, visitas minhas ocasionais à pintora, em seu apartamento em Higienópolis, onde me recebia carinhosamente, ao lado de sua fiel escudeira e enfermeira, Dª. Anette. 

Num domingo pela manhã em que fui visita-la, telefonou-me Volpi, para comentar qualquer notícia. 
Eu disse que estava de saída, para visitar Tarsila. O Volpi, no seu linguajar peninsular afirmou que até aquele dia nunca tinha conhecido Tarsila do Amaral pessoalmente. Convidei-o para ir junto comigo e ele aceitou com a condição de que eu o fosse buscar na sua casa no Cambuci. Entrementes, avisei o Diário de São Paulo e a TV Globo que iam encontrar-se no apartamento de Tarsila pela primeira vez os dois artistas maiores da arte brasileira de todos os tempos: Tarsila do Amaral e Alfredo Volpi. Quando chegamos ao apartamento da modernista junto à imprensa avisada, Tarsila se surpreendeu – mas gostou. Recebeu afetuosamente seu colega de arte. Foi um encontro cordial, quase monossilábico, pois, como se sabe, o Volpi falava pouco e com expressões rude e alegres que surpreendem o interlocutor. 

Mas, enfim, houve uma conversa entre Tarsila e Volpi e, se bem me lembro, falaram sobre os modernistas de 22. Volpi contou que na abertura da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal, não fora convidado, mas teve a idéia de comparecer indo com amigos à Praça Ramos de Azevedo – onde acontecia a suntuosa abertura da Semana. Volpi contou que subiu a escadaria do Teatro em meio a fleches e filmagens, pois ali estavam os grã-finos e convidados, inclusive o governador do Estado e outras autoridades. Volpi disse que assustou-se com a barulheira de sons. Gritos e vaias que vinham de dentro do teatro e, sem maiores motivos, virou as costas e foi embora, não sem antes dar a volta ao teatro surpreendendo-se sempre como se poderia fazer arte com uma barulheira daquelas. Tarsila r ia e a conversa entre os dois mestre foi terminando após um agradável chá e quitutes servidos pela fiel Anette. As TVs e o Diário de São Paulo registraram o acontecimento. 

Tempos depois falecia a grande artista brasileira. Recebi em seguida, em minha casa, uma linda gravura de Tarsila do Amaral, a última feita em vida, representando flores enormes no jardim onírico. O quadro está em minha casa, no meu quarto e faz-me lembrar aquela figura mágica que foi Tarsila do Amaral. Atrás da gravura um bilhete amável de Dª Anette dizendo textualmente: “Luiz Ernesto. Dona Tarsila gostava muito do senhor e tinha reservado esta gravura para lhe oferecer. Mas, com o seu falecimento, remeto-lhe aqui esta obra, em nome dela”. a) Anete e data. Grudei o bilhete atrás da gravura, que surpreende pela magia do ambiente lírico criado pela dama modernista da arte brasileira. 

Semelhanças 

Na retrospectiva de Tarsila de Amaral, na Pinacoteca, no mostruário de livros e cartas há uma destas, assinada por Fida Kalo, em 1933, dizendo: 
1. Gosto muito da sua arte; 
2. Nossa arte tem semelhanças; 
3. Queria ir a Buenos Aires encontrar Tarsila num Congresso Latino Americano em Arte; 
4. Se eu não puder ir a Buenos Aires espero vê-la um dia e trocar ideias. 

É isso aí. 

A carta não foi divulgada até hoje; estaria no acervo da modernista e/ou com a Base 7 que organizou a retrospectiva. 

L. E. K.

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