segunda-feira, 6 de julho de 2015

Décio Pignatari - um memorial da cultura


O Centro de Pesquisas de Arte Brasileira se insere no campo pioneiro da preservação e análise da memória cultural - diz-nos Décio Pignatari, poeta, escritor, professor de Literatura, diretor do Centro de Pesquisas do IDART, da Prefeitura da Capital - que atua, diz, em nível mais modesto, ao lado de organismos congêneres, tais como o Centro Georges Pompidou, de Paris e o Centro Nacional de Referência Cultural, de Brasília. Contudo, enquanto entidade municipal, voltado principalmente para a realidade cultural do município de São Paulo e da Grande São Paulo, podemos dizer que não tem similar ou, pelo menos, não se tem conhecimento de Centros de Pesquisas semelhantes em outros países. 

“A pesquisa científica do objeto artístico e cultural ainda não possui parâmetros estratificados. Aqui, impõe-se a experimentação de métodos, o que confere ao Centro também características de núcleo modelar e formação e aperfeiçoamento de pesquisadores do objeto e do fato culturais. É por essa razão, antes de mais nada, que, embora em fase de implantação,, optou-se pela deflagração do processo de pesquisa, juntamente com a realização das tarefas de planejamento, seja das operações de pesquisa, seja do preparo do material resultante destinado à catalogação e à consulta pública, um módulo em fase de elaboração, e que nas condições presentes, deve ser estruturado de forma a permitir a ulterior implantação de um Banco de Dados Culturais, ou seja, um processo de informação.” 

“As pesquisas dirigidas e a cobertura de eventos culturais são processados segundo dois cortes: um sincrônico e outro diacrônico. Em corte sincrônico, pesquisam-se e registram-se dados atuais, de forma a facilitar o exame futuro das camadas cronológicas da cultura da cidade de São Paulo. Em corte diacrônico, pesquisam-se e registram-se manifestações e documentos das camadas culturais do passado”. 

“A Pesquisa Zero ou Pesquisa Piloto, estendeu-se por cerca de sete meses, de janeiro a julho de 1976, e se configurou, para todas as áreas, no âmbito de uma temática geral, eu foi a de “São Paulo Dentro e Fora do Sistema” ou “São Paulo Direito e Avesso” - ou seja, as pesquisas foram endereçadas no sentido de registro e análise não só de manifestações culturais marginalizadas,ou por serem nascentes ou por estarem afetadas por algum processo de extinção. As áreas não são estanques: buscam-se nelas aquelas interfaces que propiciam trabalhos de natureza interdisciplinar. 

“A massa de material coletado - chamado “pacote bruto” - passa por um processo de triagem e beneficiamento, do qual resulta o “pacote líquido”, um output final, que constitui a pesquisa propriamente dita. “No momento atual, outubro de 1976, procede-se à apresentação da pesquisa de cada área pra todas as demais áreas e setores, num trabalho de avaliação propriamente dita, e de classificação e ordenação do material do Arquivo Documental. Ao mesmo tempo, nevas pesquisas estão sendo realizadas em todas as áreas, segundo critérios de importância tempo e custo. 

“Em todas as áreas de pesquisas foram realizadas entrevistas gravadas, slides, fotos, filmes super 8, compra de cópias de filmes 16 e 36 mm e coleta de documentos inéditos. Recolheu-se, também, documentação relativa a atividades diversas de outros eventos artísticos. Editaremos vários tipos de publicações: “multimídias”, livros, boletins, áudios-visuais. 

“Nesses primeiros sete meses de funcionamento, em caráter ainda experimental, sem laboratórios próprios e em instalações precárias, os trabalhos de áudio recolhidos foram de 241 peças; visual, 12.860 peças; em objetos - matrizes e modelos - 54 peças; em pesquisas e reproduções - Xerox, ampliação, cópias heliográficas, etc. - 6.663 peças; papéis datilografados - memórias, correspondência e relatórios - 870 conjuntos; em papéis-desenho - plantas, mapas, “croquis” etc. - 155 unidades; e em papéis impressos - livros, programas, catálogos, cartazes - 840 peças.” 

N. da R.: esta é a segunda reportagem sobre o trabalho do IDART, da Prefeitura de São Paulo; a primeira, sob o título “A preservação documentada da memória cultural, foi publicada dia 1º/11/1976. FOLHA DE SÃO PAULO ARTES VISUAIS - L.E.K. 14/11/1976.

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