domingo, 22 de novembro de 2020

A Anchieta de todos nós

 Na Via Anchieta, as primeiras fábricas começaram a surgir para além da represa, a caminho da serra. No futuro, apenas a serra estará vazia de fábricas, mas repleta de cantinas e postos de gasolina cavados na rocha bruta. Simpático, inteligente, em rápida ascensão, Joelmir Betting é o futurólogo da imprensa paulistana. Os cariocas reclamam do “esvaziamento industrial” da Guanabara e os paulistas começaram a vociferar contra o “congestionamento industrial” da Grande São Paulo. Quem vai lucrar com isso, diz ele, a longo prazo, é o Interior. E ao invés de rodovia, a Anchieta se converterá na mais longa avenida do mundo, iluminada e congestionada pelo trafego denso de duzentos mil paulistanos e santistas que trabalharão nas fábricas da rodovia. A população paulistana sobe, por cegonha e adição, a uma taxa de 5,5% ao ano, prestando culto à aritmética dos coelhos. A indústria paulista caminha, sem “slogans” falsos, para o Oeste. Vem aí os distritos industriais de Campinas, São José do Rio Preto e Presidente Prudente. A Rodovia do Oeste é de integração populacional e econômica. A ligação São Paulo - Santos, a do lazer, está a cargo da Estrada dos Imigrantes, 180 milhões de dólares de asfalto bom e largo. E viva a Anchieta, pois. De todos nós. 

Os grandes ressurgem 
O secretário Zancaner mostra à imprensa a casa tombada de Portinari e o futuro Museu Portinari de Brodósqui. O Museu de Arte, pelas mãos de Bardi e Raquel Segall, prepara completa retrospectiva de Portinari. A Secretaria da Educação aciona a Programação Mário de Andrade, com simpósios, debates e exposições sobre o grande animador da cultura brasileira. Portinari e Mário de Andrade. Dois grandes. Ressurgem. 

São Paulo é imperialista?
Abreu Sodré diz que não é. Os depósitos arrecadados pelo Banco do Estado, nos Estados onde mantém agências, foram revertidos, nos mesmos Estados, à razão de 40% a mais do que o recebido. - Isto é muito importante quando se fala em política de desenvolvimento paulista, para se desmentir, de forma definitiva, que São Paulo deseja fazer, através de seu desenvolvimento, uma política de imperialismo brasileiro. Não temos a menor preocupação de fazermos uma política imperialista dentro do Brasil. O que desejamos é facilitar uma política de desenvolvimento em todo o País. 

A lição de Biafra Ele esteve lá. Carlos Lacerda. Biafra-70. “... é difícil haver união e paz construídas sobre o medo e o ódio. ...Esta é a primeira lição que o sacrifício de Biafra lega ao mundo de hoje... medo e ódio geram apenas ódio e medo.” 

TRIBUNA DE SANTOS 
18 de janeiro de 1.970.

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