domingo, 22 de novembro de 2020

A orquestra arenista e desenvolvimentista

No berçário das Laranjeiras nasceram os três últimos governadores indicados pelo presidente, por sinal, todos eles oriundos do partido dos lenços brancos. Padilha, Rondon e Sátiro, neste ano de Copa ganha e terrorismo confinado, completam o quadro sucessório brasileiro. São 22 futuros governadores, todos escolhidos pessoalmente por Médici, após as triagens políticas, partidárias e da segurança. As orquestras estaduais foram afinadas com a sinfonia da Revolução para a arrancada do desenvolvimentismo da década de 70. Dez deles são políticos, que atende, contudo, às vertentes revolucionárias de cada Estado, e doze são eminentemente técnicos. O Norte e o Nordeste ganharam governadores exclusivamente técnicos, é a Transamazônica de Médici que sai, mesmo. Daqui para a frente, tudo vai ser diferente, como na canção de Roberto Carlos. Um só maestro, uma só partitura, um só poder central. Nenhum descompasso, nenhuma distorção regional, a Federação como um todo. Entretempo, dizem os futurólogos, cairá o AI-5, as eleições diretas voltarão, a plena democracia vingará nestes brasis. Música, maestro. 

Na grande área 
Pelé volta ao Santos e o alvinegro bate em no Palmeiras, com o crioulo, segundo os jornais, dominando o campo no pé e no berro. Depois o “Negrão” segura por milhares de dólares, em Londres, suas camisas e suas chuteiras imortais. E faz muito bem. Mas a foto do ano foi esta TRIBUNA que publicou. Na edição de domingo. Pelé vinha da Copa do Mundo enfeitado, consagrado e endeusado. Mas ali, na Vila, no Santos, com seus companheiros, em fila, treinava como um jogador qualquer. E na hora dura da ginástica do Mazzei. 

Na área do terror 
Massafumi Yoshinaga. Celso Lungarelli. Quem será o próximo? A advertência da proclamação deste último “Ao Mundo e aos jovens”: Tenho esperança de que os tombados até agora nesta guerra inútil... Reflitam... Pensem cada atitude, antes de se comprometerem em idêntico desatino”. - Que todos saibam que essas minorias totalitárias as quais pertenci, organizam-se como verdadeiras sociedades clandestinas de crime e de terror; que seu objetivo é matar e destruir; que sua intenção é envolver o país numa sangrenta guerra civil que só trará a anarquia e a morte ao solo brasileiro. 

Na área alada 
O gosto de Carlos Lacerda pelos pássaros não é recente. Certa vez trouxe o corvo “Vicente” de Portugal e desmoralizou os que o chamaram assim. Em 1962, governador, deu a Garrincha, campeão mundial, um célebre mainá. Agora ele está em S. Paulo, após incursão de 3 dias em Mato Grosso, onde foi reportar “in loco” as denúncias do estrangeiro sobre torturas em nossos índios. E, na capital paulista, aproveitou para renovar seu estoque, para o sítio em Petrópolis: 40 casais de pombos ornamentais. 6 tucanos, 8 araras, 30 pássaros exóticos, canários Roller, os belíssimos “Diamond Gould”... Estes são chamados de “Pucci” por Sodré, o governador, outro passarinheiro entusiasmado. 

TRIBUNA DE SANTOS, 12 de julho de 1.970.

Nenhum comentário:

Postar um comentário