domingo, 22 de novembro de 2020

Costa e Silva, Faria Lima e Pelé: o poder é triste

O senador Milton Campos cita a observação de Alberto Camus: no século vinte, o poder é triste. Antes de cair doente, segundo Carlos Castelo Branco, o marechal Costa e Silva sentiu as dificuldades das atitudes de compreensão que adotou diante dos fatos e acontecimentos do dia-a-dia. Frequentemente, quem mais pode é quem menos pode. Muitas vezes poder não é poder ou o disfarce do poder. Ainda no Rio, não chegado aos 60 anos, em pleno vigor e arrancando para a candidatura ao governo estadual, sucumbe Faria Lima. O carioca de Vila Isabel é transladado a São Paulo, que sacudiu como um terremoto na Prefeitura. Os discursos e as flores, a campa fria do cemitério, a legenda que se apaga. Para completar o quadro, tem Pelé, rei da bola, maior jogador do mundo, o Brasil a seus pés: confessa a nostalgia das concentrações, a dureza das viagens, a árdua luta da fama, do dinheiro e do sucesso. Costa e Silva numa cama, Faria Lima numa tumba e Pelé triste. Sic transit gloria mundi.

Perfil agudo do Dr. Júlio
Leo Gilson Ribeiro traça o perfil da “figura íntegra e temerária” de Júlio de Mesquita Filho, cujo livro póstumo, “Política e Cultura”, admirável testemunho contemporâneo, já está nas bancas: “Mas não é só como futurólogo que o combativo jornalista se distingue neste livro corajoso, franco, polêmico... É como defensor intransigente da independência nacional de tutelas estrangeiras. Ao contrário da imagem desvirtuada que muitos querem impor à sua atividade política, ele não combateu somente o Comunismo imperialista, o Nazismo que contagiara a ditadura de Getúlio Vargas, o Totalitarismo fascista de Portugal sob Salazar; os Estados Unidos são - frequentemente - alvo de sua indignação e de sua denúncia sem rodeios nas páginas retas e coerentes de seu livro”. 

De pizzarias e cozinha erótica
Carlos Lacerda escreve, e agora, protesta contra “a luz fria... esse ar cadavérico que as pizzarias de São Paulo deram de impor aos seus fregueses... a cor de necrotério que a luz fria dá a quem come e bebe o seu azulado palor...” E a revista “Veja”, completando um ano, e cada vez melhor, na corrida para se tornar a grande revista semanal brasileira de informação, dá receitas para o apetite sexual. “Pela manhã, um pouco de aveia... etc., etc., sem esquecer a Torta do Duque de Auvergne, que faz as mulheres não saberem depois “se foi um touro ou um homem apaixonado”. 

“Ciccillo” vem com Expo-72 
Francisco Matarazzo Sobrinho foi escolhido, pelo Itamarati, como coordenador da parte cultural da nossa gigantesca Expo-72, que será aberta dia 21 de abril de 1972, como parte das comemorações dos 150 anos da Independência do Brasil. A mostra funcionará na área de 600 mil metros quadrados, na Barra da Tijuca e deverá ser vista por aproximadamente 10 milhões de pessoas. - Será algo inédito e muito importante para o Brasil. A Expo-72 terá toda a vida artística, científica e cultural do nosso País. E vamos colocar nela folclore também. Das peças de barro à literatura de cordel. Rendas do Nordeste e artigos de couro. A cultura popular brasileira, norte a sul, leste a oeste, toda.

Pelé em Munich 
O assunto ainda é Pelé. Gravou discos com Elis Regina. Vai ganhar troféu de Abreu Sodré quando fizer seu mil gol. Fez um gol raríssimo, contra o Atlético: em completo “off-side”. É Pelé anunciando que, quando parar de jogar, vai morar na cidade que mais gosta: Munique. Não é à toa que, há pouco, Pelé disse ser alemão o melhor jogador do moderno futebol mundial: Beckenbauer. De Munique. 

Coluna Bandeirante - A Tribuna 
Santos 8 de setembro de 1969.

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