domingo, 22 de novembro de 2020

Brasil lotérico: parar para pensar

Nunca tantos ganharam tão pouco. A manchete de “O Globo” é lapidar. A fila do Tostão (fila longa, à porta da loteria, e, entre os populares, Tostão aguarda a vez). O duplo sentido da legenda é genial. Além de tudo, essa loteria é um jogo desonesto. Esse é o título do editorial do “Jornal da Tarde”. Tudo e todos, agora, condenam a Loteria Esportiva, que, mais um pouco, vai ser culpada de todos os males nacionais. Joga o rico, joga o pobre, joga o velho, joga o jovem, o “office-boy”, a dona de casa, o ministro e o filho do presidente. O JT: O Governo estimula a batota. A Caixa Econômica Federal espicaça a cupidez. É o Brasil 70, depois da Copa do Mundo e da Transamazônica, abalado pela Loteria Esportiva. Nem o Plano de Integração Nacional (PIS) fez tremer tanto o gigante brasileiro. O Brasil de hoje é o Saci Pererê de Lobato e um pouco do Macunaíma, de Mário de Andrade. Todos querem progredir, a qualquer preço. A mulher do ferroviário bilionário deseja ser uma das “dez mais” do Ibraim, faz mil compras nas butiques de Copacabana. O próprio marechal, se não parara para pensar, pode cair no “gaulismo”. 

 Prove que você existe 
Vamos todos, civicamente, ao Censo nacional. Vamos saber, de uma vez, quantos somos, como vivemos, quanto ganhamos, onde habitamos. A melhor peça publicitária sobre o censo foi a CIN que fez para a VASP: “Se você vive neste imenso país chamado Brasil, prove que você existe”. 

D. Hélder tem “slogan” 
À porta da casa de D. Hélder, no Recife, aparece uma bandeira, com a frase nacional que Carlos Lacerda acha errada gramaticalmente: “Brasil - ame-o ou deixe-o”. Enquanto isso, Nélson Rodrigues clama e pergunta: Quem financia as seguidas viagens internacionais de D. Hélder? Batismo de Edson Jr. Sodré, bem informado, sabe logo da notícia do nascimento de Edson Jr. Logo, melhor assessorado, telegrafa ao Rei, afetuosamente, cumprimentando Rose e Pelé. E já batiza Edson Jr. De “Pelezinho”, para hoje e sempre. 

Faça amor e não guerra 
O juiz Isidoro de Aguiar apitou o jogo Lemense x Piracununguense. Ao final, leva uns tapas de jogadores que se julgam prejudicados. Em seu relatório à Federação Paulista de Futebol uma pregação: “Em termos de esporte, o melhor é fazer amor, não a guerra”. Como em todos. 

A TRIBUNA
30 de agosto de 1970.

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