segunda-feira, 10 de novembro de 2014

CHAROUX


CHAROUX E SUAS CRIAÇÕES

Rigorosamente artesanal” como quer o crítico e ex-diretor do MAC, Walter Zanini, o conhecido escultor Lothar Charoux, nascido em Viena, Áustria, e entre nós desde 1928, continua fiel à sua arte sensível e pessoal. Brasileiro naturalizado e casado com paulista de 400 anos (Ondina Ribeiro Bueno), pai de três filhos, ex-industriário, Charoux não para nunca, mantendo-se coerente e exigente em suas criações. Em 1939/40 terminou o curso de desenho arquitetônico no Liceu de Artes e Ofícios, onde foi aluno de Waldemar da Costa, e logo depois, ainda estudante não formado, substituiu-o na cadeira de Desenho. Era desenhista figurativo e seus desenhos exibidos no MAM de São Paulo e Rio de Janeiro em retrospectivas, estão cuidadosamente guardados no seu ateliê do Alto da Lapa. São desenhos lineares, de rigor cartesiano. Alguns deles eram quadrados, não estáticos, dando “movimentação” e efeitos dinâmicos a cada trabalho. Desenhando a figura – um figurativo formal, acadêmico, Charoux aprende pintura no ateliê de seu antigo mestre Waldemar da Costa, até 1944, já expondo no Rio e em S. Paulo. Data de então o início da abstratização de sua produção, embora participante assíduo de diversos salões e de coletivas de arte moderna. Em 1950/51 começa a expor seus desenhos geométricos em coletivas e faz parte do movimento “Ruptura”, com W. Cordeiro, Fiaminghi, Sacilotto, Volpi, Maurício Nogueira Lima e outros. Na exposição organizada por esses pioneiros, expõe um quadro totalmente geométrico.

Em 1956 e 1957 participa, no Rio e em São Paulo, do I Salão de Arte Concreta, entre outros desenhistas e pintores, salão que abrigou também os poetas concretistas Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos. De lá para cá, fiel e coerente consigo próprio, nunca abandonou o exercício criativo da arte geométrica, seja ela op, minimal, concretismo puro e/ou suas variações. Charoux é Charoux, sempre, em salões ou bienais, individuais ou coletivas. Ganha prêmios importantes e a Bienal não lhe faz justiça com um prêmio principal, embora na XII Bienal, ganhe o Prêmio Aquisição do Itamaraty, e, na XII e na XIII figure com salas especiais. Hoje o velho bonachão e sacudido artista – que não renega as reuniões sociais, as vernissages festivas e a participação ativa nos movimentos da classe artística – continua trabalhando com muito vigor, na mesma qualidade e pesquisa consciente de sempre. Nos últimos tempos, Charoux, com dois grossos rolos debaixo dos braços, pode ser visto entrando em museus, galerias, pinacotecas e indústrias, onde procura sempre expor e defender suas últimas criações, idéias que teve e pôs no papel, inventos de sua arte sensível e buliçosa, múltipla e variada. Uma arte múltipla em sua expressão e que pode ser democratizada como fim último/primeiro. Esse “velho” Charoux que vai expor em Milão, em maio, fará depois outra exposição em Brasília, no Centro Cultural do Distrito Federal, e, ainda, levará sua arte ao México. Além de coletivas aqui e ali, que Lothar Charoux não recusa convite. A partir de 1945, quando pintou o retrato de Marcelo Grassmann, passou pelo geometrismo a mão livre de 1950, pelo abstracionismo geométrico mais depurado e pela linha quase nua que atingiu em 1952.

Em suas últimas criações busca o que chama de quadro único multiplicado, que “permite ao possuidor uma disposição variada e múltipla, em diversas composições, em qualquer ambiente, à vontade do comprador”, explica o artista. Passou também a trabalhar com azulejos múltiplos combináveis que podem ser dispostos em diferentes posturas, desenhos e cores, também à vontade do comprador e utilizáveis em chãos, halls, paredes, escritórios, tetos, salões, murais e outras aplicações. Partindo do princípio de que o simples observador é também um participante da obra, e mesmo quando rejeitam o “feito” interagem no processo de forma negativa foi o que levou o artista a trabalhar quadros assimétricos, tornando-os “legíveis em qualquer posição, isto é, pelo menos em quatro posições”. Afirma que por ocasião da VI Bienal, apresentou dois painéis de azulejos de 20 por 20 e que possibilitaram expandir para fora do painel os nove azulejos. O que havia de original no desenho dos azulejos é que cada qual compunha o seu painel, diferente dos outros. Portanto havia e há uma participação direta do observador. O artista explica que daí partiu para quadros maiores, com variações sobre o mesmo tema e que funcionava bem em duas posições, vertical e horizontal, até o painel que funciona em quatro posições. Daí surgiu a idéia da exposição de “Um Quadro Só”.

CHAROUX PREMIADO: A ARTE DOS TRAÇOS

Paulo de Tarso e Charoux

Lothar Charoux é um papa-prêmios. Esse artista dos efeitos lineares como já o situou José Geraldo Vieira, acaba de ganhar o maior prêmio que se dá neste país a um artista: governador do Estado, conferido pelo V Salão Paulista de Arte Contemporânea. Desde 1949, quando começou a mostrar seus trabalhos, Charoux vem ganhando prêmios uns atrás de outro, numa sequência fora do comum. Quem teve a oportunidade de ver a retrospectiva de Charoux no Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro, ou privar com esse pintor desenhista, acompanhando sua evolução desde o período de aprendizado com Waldemar da Costa, vê com facilidade (já a partir de seu expressionismo até a op-arte de hoje ou op-Charoux, como disse Walter Zanini) uma coerência extraordinária. As linhas retas ou curvas, linhas despidas de artifícios, simplesmente linhas, sós, paralelas, concêntricas, cruzadas, horizontais ou verticais, são notadas desde os primeiros trabalhos e são cada vez mais nítidas e evidentes à medida que a mutação vai dissecando e despojando a obra de suas figuras. 

A partir de 1945, quando pintou o retrato de Marcelo Grassmann, passando pela “Fruteira” e “Abstração” de 1948, pelo geometrismo trabalhado a mão-livre de 1950, pelo abstracionismo geométrico mais depurado e pela linha quase nua que atingiu em 1952, ainda sem os recursos da régua e do tira-linhas - tudo é Charoux, tudo é unida e coerentemente fiel a seu traço à linha que amarra num só volume trinta anos de arte. O traço de Charoux pouco a pouco foi se soltando de sua roupagem. Como um esqueleto que se livra das carnes decompostas por inúteis, ficando a nu, mostrando por inteiro formas puras, sem artimanhas e artifícios, carnes que na obra de Charoux nada acrescentam e tudo prejudicam. Charoux é linha. Linha por ela mesma. Só, diz. 

EQUILÍBRIO 
Explica que começou como todo mundo começa: pelo figurativo e posteriormente fez tentativas nas áreas do expressionismo, do cubismo, do impressionismo e do surrealismo. A partir daí começou a abstratizar, derivando para o abstrato geométrico, até chegar ao concretismo, à op-arte ou arte-óptica e finalmente ao minimal-art, isto é, simples traços. E com visível satisfação que esse vienense caboclo que está entre nós desde 1928 afirma que “no dia em que bolei o traço na horizontal ou na vertical que restabelece o equilíbrio do quadro quando posto torto na parede, quase tive um chilique de contentamento. Puxa. Que coisa louca”. Charoux muda a posição de um quadro amarelo em fundo preto que tem pendurado em seu ateliê. O quadro está torto na parede, com a linha vertical; Veja, o quadro não acompanha as linhas da parece, mas o traço sim. Isso corrige tudo, restabelece o equilíbrio. 

POLIESTER 
Atualmente, Charoux está com trabalhos expostos na “Panorama” do MAM, neste ano dedicado ao desenho e a gravura; no IX Salão de Campinas (onde expõe tripticos); na mostra de gravuras junto à Bienal Nacional, e dentro de dias no V Salão Paulista de Arte Contemporânea, que lhe valeu o prêmio Governador do Estado. _ O que achada Bienal, Charoux? _ Não sou contra. Não posso ser contra qualquer coisa só porque a coisa está mal orientada. A Bienal em si é válida, o que precisa é mudar os critérios, os termos em que se baseia. Charoux mostra um objeto de poliester: _ É um objeto que pode fazer o papel de luminária. É uma experiência que estou fazendo. Dentro do poliester tem um tudo de vidro com éter colorido. Este objeto colocado sobre uma fonte de luz dá um brilho bonito, além de o calor da lâmpada fazer o éter movimentar dentro do tubo, borbulhando como água fervendo. Isto ainda está ma experiência.

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