sábado, 15 de novembro de 2014

REVELAÇÕES DE SIRON FRANCO


Uma revelação definitiva, um jovem e vigoroso pintor, uma presença nova e marcante no panorama artístico brasileiro: a de Siron Franco, goiano, 26 anos, expondo na Galeria Cosme Velho. Depois de ter realizado curta e brilhante carreira, no Rio, Siron chega a São Paulo com um conjunto de 23 óleos, que receberam a admiração do público presente ao vernissage (que incluía o mestre Volpi). E que receberam também o aplauso da crítica paulista, como as exposições anteriores da crítica carioca. 

Siron nasceu em julho de 1946 em Goiás Velho, antiga capital do Estado. Foi um artista precoce, desenhando desde a infância e tornando-se aluno ouvinte da Escola de Belas Artes de Goiânia aos onze anos. Aos treze, profissionalizou-se, fazendo retratos de senhoras da sociedade. Obtinha, assim, dinheiro para comprar material e realizar sua pintura predileta: paisagens de clima meio fantástico. Mais tarde, as paisagens foram substituídas por figuras humanas, que se tornaram, desde então, seu tema essencial. 

CONTINGÊNCIAS DO HOMEM 
Siron não se limita, porém, a retratar o ser humano numa situação amena ou decorativa. Sua pintura é uma obra de denúncia, incômoda, quase violenta. O clima permanece fantástico, irreal - mas não surrealista, como acentua o próprio artista. Siron mistura seres humanos e animais, desfigura uns e outros, descarna certos personagens, fragmenta-os, ironiza o tempo todo, inclusive nos títulos dos quadros: “O Nobre”, “Divertimento do Rei”, “Outra Rainha”, “Fuga”, “Título Proibido”, “Veteranos de Guerra”. Sua pintura apresenta afinidades com a pintura do inglês Francis Bacon e com os desenhos do mexicano José Luis Cuevas. Como eles, Siron fala de uma humanidade “fisicamente decaída” segundo diz o crítico Otavio Tavares de Araújo na apresentação do catálogo da mostra. Essa decadência física, por sua vez, tem intenções simbólicas. Através dela, Siron procura apontar metaforicamente a dolorosa situação do homem contemporâneo, as contingências morais, político e espirituais a que chegou, nesta segunda metade do século XX. 

CARREIRA FULGURANTE 
Embora jovem Siron vem realizando uma carreira fulgurante e rápida. Sua primeira individual, no Rio de Janeiro, foi em 1972. De lá para cá, realizou duas outras individuais na mesma cidade, na Galeria Intercontinental e na Petit Galerie, esta última, em novembro de 1974, constituiu a maior revelação da temporada. Em 1973, no I Salão Global da Primavera, promovido pela Rede Globo em Brasília, obtendo o Prêmio de Viagem ao México, logo após o de Viagem à Europa, concedido ao consagrado Ruben Valentim. Em 1974, no Salão Nacional de Arte Moderna, recebeu o Certificado de Isenção de Júri. No mesmo ano, na Bienal Nacional, foi um dos onze escolhidos - o único pintor - para representar oficialmente o Brasil na Bienal Internacional. Há cerca de vinte dias, finalmente, conseguiu o Premio Viagem ao Exterior do Salão Nacional de Ate Moderna, o maior e mais importante dos existentes no país. Nada disso, contudo, modificou a simplicidade do artista. Logo após o encerramento dessa sua primeira individual em São Paulo, ele estará de volta a Goiânia, onde mora e possui atelier, para preparar exposição na Bienal Internacional. “Pretendo trabalhar seriamente e conseguir um conjunto ‘pra valer’, à altura da Bienal” - promete. 

OPINIÕES DE SIRON 

Sobre as origens de sua pintura: 
“Foi em Goiás Velho que eu tomei contato com o fantástico, através da própria cidade, muito estranha e de casos contados por minha mãe. À noite, em casa, eu costumava ilustrar as histórias ouvidas, e por volta de 1966 descobri que esses desenhos eram a coisa mais importante que eu já havia feito. Abandonei a paisagem e me voltei para o fantástico, que correspondia melhor às minhas necessidades de expressão.” 

Sobre seu trabalho
“Geralmente, quando surge, o trabalho já foi elaborado mentalmente, sem que eu o percebesse, a partir de algum acontecimento vivido, observado, ou do qual tomei conhecimento, por exemplo, em notícias de jornais. Costumo fazer certos esboços e parto sem premeditação para a tela. No início, o processo é espontâneo. Depois, o intelecto domina a emoção. Há problemas de cor, composição e clima que só podem ser resolvidos com a razão.” 

Sobre a função da arte
“A arte tem o dever de tentar dias melhores para o homem. Toda obra de arte tem que questionar. Com a minha, por exemplo, quero ver se consigo fazer os outros pensarem. Daí minhas personagens estarem em situações absurdas - mas não surrealistas, pois a meu ver sou um realista, pinto o que vejo, dou testemunho da minha época.”

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