Yolanda Mohalyi – nascida em Kororsvav, Hungria, hoje Cluj, cidade da România – no Brasil desde1931, artista abstrata clássica, está sendo apresentada 400 de suas obras, em ampla retrospectiva, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
A mostra dura até dia 31 próximo e no dia 14, o prof. Wolgang Pfeiffer fala no MAM sobre a importância da pintura de Yolanda Mohalyi na arte brasileira. Nesse dia encerra-se o leilão de parede de 2 obras de Yolanda no Museu: “Oposição”, óleo de 1975, e “Domínio do Espaço”, guache de 1970. São trabalhos compostos entre as décadas de 30 até 1976 (pintura, desenho, gravura, tapeçaria, projetos para vitrais), evidenciando o desenvolvimento da artista, de início figurativa, sua fase de transição e evolução para o abstracionismo. Organizada mesmo dentro do seu temperamento de artista, Yolanda Mohalyi conservou obras representativas de suas diversas fases, facilitando, assim, a compreensão total do evoluir de sua arte.
Yolanda Mohalyi, premiada 12 vezes, inclusive com o prêmio de “Melhor Pintor Nacional”, na VII Bienal de São Paulo, é artista muito conhecida no exterior, onde realizou inúmeras exposições. Está representada em museus como o Misholcz, na Hungria; Lodz, na Polônia; Museu da União Pan-americana, em Washington, EUA; em bancos, como o Chase Manhattam, de Nova York, o Bank of Boston, em Boston, Londres e Luxemburgo, e suas obras integram coleções na Alemanha, Estados Unidos, França, Grécia, Inglaterra, Japão, México.
Museus brasileiros, bancos, empresas particulares e mais de uma centena de colecionadores, de São Paulo e de outros Estados cederam obras para a retrospectiva. O catálogo da exposição tem apresentação de Paulo Mendes de Almeida.
Reservada, amável, simples, pintando sempre, atendendo ex-alunas, vivendo entre seus bichos e suas plantas em sua casa de 3 andares do Sumaré, Yolanda Mohalyi é uma conversa agradável com seu sorriso e pequeno sotaque. Ela deixou também as aulas na Fundação Armando Álvares Penteado para dedicar-se unicamente à sua paixão maior – a pintura. A pintura que executa lenta, segura e gestualmente, com maestria, no espaçoso e iluminado ateliê.
Quando Yolanda Mohalyi chegou ao Brasil no início dos anos 30 as galerias de arte (poucas) e os marchands vendiam e se interessavam apenas pela arte acadêmica, importada da Europa para as elites paulistanas. Entre os anos 34 a 40 participou do Grupo 7, para trocar idéias, ver trabalhos uns dos outros: Rino Levi, Elisabeth Nobiling, Victor Brecheret, Gomide, Regina e John Graz.
Sua influência maior foi quando tomou conhecimento da maestria técnica e do lirismo expressivo e humano da obra de Lasar Segall.
Esse impacto fortíssimo de afinidade com a obra segalliana na sua afirmação como artista e na busca de seu próprio caminho foi essencial para o seu próprio amadurecimento artístico. Do mestre só um conselho não pode seguir: ao visitá-lo em 1957, às vésperas de sua morte e antes da viagem à Europa Segall lhe pediu para não ir para o abstracionismo. “Mas eu tive de ir”.
O abstracionismo surgiu conscientemente, porém, devagar na obra de Mohalyi. O ano de 1957 foi decisivo nesta mudança quando, na Itália, frente aos afrescos de Piero dela Francesca, sentiu que não mais poderia pintar a figura humana. A perfeita coerência e unidade de serena dignidade humana expressa na monumental linguagem de forma, cor e luminosidade do mestre italiano, a convenceu dos abusos praticados na figura humana, seja dissecando-a e recompondo-a (cubismo), seja como pretexto pictórico ou mesmo dramatizando-a (expressionismo alemão). Isso lhe fez enveredar para o caminho não figurativo na busca de uma composição rítmica.
A pintura de Y. Mohalyi está em crescente síntese, expressando sempre a verdade de si mesma. Hoje – no dizer da artista – “sinto profundamente o meu relacionamento com o universo, o meu horizonte alargou-se, a minha pintura encontrou-se com o espaço cósmico, a cor g ganhou luz. A forma liberta que flutua na tela”.
A respeito de alguns aspectos da arte contemporânea e brasileira Yolanda Mohalyi acha “que há uma grande procura por jovens de água da sensibilidade, procurando captar um ambiente visual íntimo/mágico e há outra tendência, dos que querem alertar com todos os meios – linguagem plástica ou não – a coletividade humana dos perigos que o progresso técnico-econômico representa sem critério ético-moral. “Em meu entender, ambos são necessários e válidos”.
Folha de São Paulo
5 de setembro de 1976.
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