APRESENTAÇÃO
Conheci Luiz Ernesto Kawall no Palácio Bandeirantes, sede do governo paulista, durante o governo Abreu Sodré.
De há muito ouvi falar dele: seu brilhante curso na escola de jornalismo “Cásper Líbero”, a direção da sucursal da “Tribuna da Imprensa”, em São Paulo, onde montou excelente equipe realizando alguns feitos da nossa imprensa, suas atividades ao lado de Carlos Lacerda, durante cerca de 14 anos, que no jornal, quer no assessoramento de sua campanha para governador da Guanabara e ainda em sua atuação destacada na imprensa publicitária e em relações públicas.
Tenho a impressão de que, certa vez, o vi em Ubatuba, quando Francisco Matarazzo Sobrinho era prefeito e onde Luiz Ernesto possui uma famosa casa de sapé, repleta de esculturas e pinturas dos caiçaras e mantém ao fundo de seu terreno, debaixo de visto do chapéu-de-sol, um mini-circo para as crianças da cidade. Era uma espécie de assessor cultural de “Cicillo”, colaborando para a biblioteca recém-formada da cidade e a criação, com Wladimir Piza e Paulo Florençano, do Museu Histórico, Geográfico e Folclórico “Hans Staden”, hoje orgulho local. Ficamos amigos e ele me causou desde o primeiro instante, uma curiosa impressão: a de um homem em surdina, tímido e delicado ao excesso, mas dotado de uma capacidade de ação e de imaginação também intensas, não fora seu sangue germânico. Nunca vira reunidas, numa pessoa, disposições tão antípodas. Para Luiz Ernesto não existem obstáculos.
Tenho a impressão de que, certa vez, o vi em Ubatuba, quando Francisco Matarazzo Sobrinho era prefeito e onde Luiz Ernesto possui uma famosa casa de sapé, repleta de esculturas e pinturas dos caiçaras e mantém ao fundo de seu terreno, debaixo de visto do chapéu-de-sol, um mini-circo para as crianças da cidade. Era uma espécie de assessor cultural de “Cicillo”, colaborando para a biblioteca recém-formada da cidade e a criação, com Wladimir Piza e Paulo Florençano, do Museu Histórico, Geográfico e Folclórico “Hans Staden”, hoje orgulho local. Ficamos amigos e ele me causou desde o primeiro instante, uma curiosa impressão: a de um homem em surdina, tímido e delicado ao excesso, mas dotado de uma capacidade de ação e de imaginação também intensas, não fora seu sangue germânico. Nunca vira reunidas, numa pessoa, disposições tão antípodas. Para Luiz Ernesto não existem obstáculos.
Talvez a ele se aplicasse uma frase que vi num barzinho da Barra do Saí, onde Clóvis Graciano é rei: “O difícil fazemos logo, o impossível demora um pouco”.
Comunica-se diariamente, em São Paulo, com dezenas de pessoas, não só por telefone, o que seria normal, mas por meio de seus famosos bilhetes, alguns de numerosas páginas, escritos num cursivo claro e sereno e que chegam às mãos dos seus destinatários, até hoje não sei de que maneira, pois Luiz Ernesto é o seu próprio correio. Sei que em casa, no restaurante, num local que pensávamos ele ignorasse, estão lá os bilhetes nas esperando e dando conhecimento de tarefas feitas ou propondo novas tarefas. Seu fascínio é a comunicação escrita, diria que é a sua própria respiração. Mas ama o texto como elemento da vida de relação, o texto atuante, que une pessoas, sugere problemas, noticia muitos fatos. Não é a carta, é o recado veloz.
Se os nossos correios instituíssem o “pneumatic” parisiense, Luiz Ernesto, por certo, seria o principal usuário. Seus recados convocam-nos sempre para “conspirações” culturais e congraçam, no instante, sempre em dia, todas as pessoas que ela acredita adequadas para tal e qual missão. E não esquece ninguém e não erra nunca na eleição dos convocados. Por essa via imaginária e prática já fez por aprovar muitas sugestões valiosas, que propôs a muitos de nossos homens públicos. Sem alarde, sem nunca exaltar na fala, como se estivesse fazendo uma confissão íntima, dá-nos noticia de um bom plano que horas depois já está concretizado e gerando efeitos. A nossa primeira conspiração cultural foi o Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Quando me tocou no assunto, no primeiro ano do governo Sodré, a sua ideia já estava elaborada, o governador dando seu entusiasta assentimento e uma reunião com Cravo Albim, diretor do MIS do Rio, e Paulo Emílio Salles Gomes, Maurício Loureiro Gama e Rudá de Andrade, já marcada. Fui eu que o detive um pouco. Porque, como presidente da Cinemateca Brasileira, achava que era preciso conciliar as finalidades, bastante semelhantes, das duas entidades.
Mas o Kawall me falava do MIS com entidade cultural da maior importância, integrador da nossa cultura, e como, ainda, se dependesse de mim a iniciativa. Depois vi – e não mais me surpreendi – como nasceram as suas entrevistas na “A Tribuna”, de Santos, mais de 80 em menos de um ano e meio – e o entusiasmo incansável com que se entrega a essa tarefa, que hoje se evidencia como a maior importância; vi a sua atuação nos primeiros meses do MIS, colaborando na sua estruturação, ideando as primeiras gravações, hoje, já históricas, do Museu – Warchavchik, Volpi, Di Cavalcanti, Tarsila, Menotti, Piolim, Arrelia, Guiomar Novaes, Ermírio de Moraes e tantos outros – e concretizando-se em contatos e providências, sem nunca dar impressão de esforço; e, agora, a criação, nova ideia sua, do Centro de Artes Novo Mundo, do Banco Novo Mundo que, em menos de um ano de atividades, financiando o mercado artístico, editando catálogos de bom conteúdo, promovendo concursos culturais entre a juventude colegial e universitária, apoiando montagem de teatro, criando o Troféu Novo Mundo – o novo “Saci” das nossas artes.
Se os nossos correios instituíssem o “pneumatic” parisiense, Luiz Ernesto, por certo, seria o principal usuário. Seus recados convocam-nos sempre para “conspirações” culturais e congraçam, no instante, sempre em dia, todas as pessoas que ela acredita adequadas para tal e qual missão. E não esquece ninguém e não erra nunca na eleição dos convocados. Por essa via imaginária e prática já fez por aprovar muitas sugestões valiosas, que propôs a muitos de nossos homens públicos. Sem alarde, sem nunca exaltar na fala, como se estivesse fazendo uma confissão íntima, dá-nos noticia de um bom plano que horas depois já está concretizado e gerando efeitos. A nossa primeira conspiração cultural foi o Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Quando me tocou no assunto, no primeiro ano do governo Sodré, a sua ideia já estava elaborada, o governador dando seu entusiasta assentimento e uma reunião com Cravo Albim, diretor do MIS do Rio, e Paulo Emílio Salles Gomes, Maurício Loureiro Gama e Rudá de Andrade, já marcada. Fui eu que o detive um pouco. Porque, como presidente da Cinemateca Brasileira, achava que era preciso conciliar as finalidades, bastante semelhantes, das duas entidades.
Mas o Kawall me falava do MIS com entidade cultural da maior importância, integrador da nossa cultura, e como, ainda, se dependesse de mim a iniciativa. Depois vi – e não mais me surpreendi – como nasceram as suas entrevistas na “A Tribuna”, de Santos, mais de 80 em menos de um ano e meio – e o entusiasmo incansável com que se entrega a essa tarefa, que hoje se evidencia como a maior importância; vi a sua atuação nos primeiros meses do MIS, colaborando na sua estruturação, ideando as primeiras gravações, hoje, já históricas, do Museu – Warchavchik, Volpi, Di Cavalcanti, Tarsila, Menotti, Piolim, Arrelia, Guiomar Novaes, Ermírio de Moraes e tantos outros – e concretizando-se em contatos e providências, sem nunca dar impressão de esforço; e, agora, a criação, nova ideia sua, do Centro de Artes Novo Mundo, do Banco Novo Mundo que, em menos de um ano de atividades, financiando o mercado artístico, editando catálogos de bom conteúdo, promovendo concursos culturais entre a juventude colegial e universitária, apoiando montagem de teatro, criando o Troféu Novo Mundo – o novo “Saci” das nossas artes.
Aproveitando uma viagem do presidente Médici a São Paulo, recente, conseguiu que ele recebesse um seu plano de criação do “Fundo Nacional da Cultura”, a ser constituído com porcentagem das inesgotáveis fontes da Loteria Esportiva – um projeto pronto, objetivado, informado, para execução imediata em todos os rincões do país, beneficiando de imediato a cultura nacional em todos os níveis.
Sou culpado de ter retido, provisoriamente, a realização de um outro projeto de Kawall: a criação de um Clube de Amigos Primitivos e Ingênuos (CAPI) e já com uma Bienal Internacional do gênero concebida. Mas a coisa será feita.
Ama a arte popular brasileira e sua casa – com a doce complacência de Zilda e das filhas Márcia, Beatriz e Helena – é um pequeno-grande museu com mais de 200 quadros primitivos, uns 3 mil volumes sobre cultura popular, milhares de folhetos de literatura de cordel (sua coleção se rivaliza com a de Orígenes Lessa, a maior do país), centenas de ex-votos, que busca incessantemente em suas andanças na Bahia, Maranhão, Ceará e afins. E essa coleção ela a reúne, como tudo que faz, na discrição, na aparente ausência de empenho. Tem estudos sobre aspectos da sobrevivência do cordel nordestino, prevendo sua extinção nos próximos anos, o que dá um relevo original às suas pesquisas, incentivadas, aliás, por Câmara Cascudo. “Prefere ser útil, a ser feliz”, alguém disse dele. Mas Luiz Ernesto se realiza, feliz, na própria utilidade.
Considero estas reportagens-entrevistas, como iniciativa inédita e do maior interesse para a compreensão das raízes, pressupostos, influência e inclinações nas artes plásticas do Brasil de hoje. Futuras monografias, ensaios e mesmo histórias ambiciosas sobre os nossos artistas e nossa arte, não poderão dispensar estas sondagens que o Kawall faz na intimidade devida e obra dos nossos artistas, carregadas de conteúdo humano e objetividade informativa aparentemente contraditória, mas oferecendo um material precioso de esclarecimento, informação e sugestão crítica.
Francisco Luiz de Almeida Salles
Francisco Luiz de Almeida Salles
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