terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O MAC POR ZANINI


Walter Zanini, diretor do MAC – USP, anuncia a Artes Visuais que, neste 1977, o Museu, apesar da falta de maiores verbas e do reduzido número de funcionários – 10 – continuará seu trabalho didático que iniciou desde que assumiu sua direção em 1963. No ano que passou o MAC fez um trabalho relevante, dentro do quadro dos museus de arte brasileiro, destacando-se a retrospectiva de Mario Zanini, quando apresentou mais de 200 obras selecionadas do artista do Grupo Santa Helena. Neste ano Zanini espera apresentar outras exposições de fôlego, também Retrospectiva – ou a de Anita Malfatti (pesquisa de Maria Rosseti) ou a de Joaquim Figueira (pesquisa de Harumi Yamagishi). O diretor do MAV destaca ainda outras importantes mostras em preparo: Multimídia IV (arte conceitual), Estados Unidos – Arte Sul (em cooperação com o Museu de Arte de Nova Orleans), Ângelo Aquino (artista conceitual dói Rio), Gravadores Gaúchos (de 1950 até hoje), Poéticas Visuais (trabalhos de vanguarda) e muitas outras. Zanini assinala que o MAC contou, em 1976 com um orçamento deficitário, como em 1975. A seu ver esse fato impediu o desenvolvimento necessário das diversas atividades. Mesmo assim o Museu procurou manter uma dinâmica de atuação válida no quadro cultural paulista e brasileiro. 

EXPOSIÇÕES NO EXTERIOR 
MAC organizou ou apresentou as seguintes exposições temporárias: Multimídia II, Serigrafias e Publicações de Dick Higgins, Projeto do edifício do MAC na Cidade Universitária, Pierre Soulages, Papel e Lápis, Multimídia III, Aquisições e Doações Recentes, Exposição de Obras e Eventos de Vacárcel Medina, Década de 70, No os e Novíssimos fotógrafos, Exposição Retrospectiva de Mário Zanini (1907/1971) e Di Cavalcanti: 100 obras do acervo. A Exposição “Multimídia II” será apresentada no Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas ainda este mês. 

BIBLIOTECA O acervo da Biblioteca do MAC enriqueceu-se através de aquisições de livros. Sobretudo é de mencionar-se o afluxo de catálogos originários de museus de várias partes do mundo, com os quais o MAC mantém intercâmbio de publicações. Nesta data, a Biblioteca conta com 10.912 unidades. 

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO Foram integrados ao Centro de Documentação do MAC valiosos documentos, a exemplo de fotografias, manuscritos, publicações, correspondências, etc., de Ernesto Fiori, Sanson Flexor, Hugo Adami e Yolanda Mohalyi. Vários registros sonoros foram efetuados. Foram classificados aproximadamente 50.350 recortes de jornal referentes às atividades artísticas dos anos 60. A coleção de diapositivos foi pouco acrescida, sendo que, de seus 12.000 exemplares, 7.678 foram tombados até o momento. 

CURSOS E CONFERÊNCIAS Walter Zanini assinalou por fim que o MAC proporcionou uma série de visitas de orientação ao acervo do Museu para estudantes de diferentes níveis. No setor de palestras, cursos e debates, o MAC promoveu: “Direções da Escultura contemporânea dos EUA”, por John Henry, “Situações da Arte na Colômbia”, por Jonier Marin; “Encontro de Vacárcel Medina com os artistas”; “Transformações no Ensino das Ciências Humanas”, por Vilém Flusser, “A Presença de Mário Zanini na Arte Brasileira”, por Annateresa Fabris e Walter Zanini; “Problemas do Centro Cultural de Arte Contemporânea Georges Pompidou”, por Serge Fauchereau e “Debate dobre a obra de Emiliano Di Cavalcanti”. O debate sobre a obra de Di, último do ano, despertou grande interesse e será continuado neste ano. 

UM DEBATE QUE CONTINUA NO MAC: DI 
Numa exposição abrangente e que documenta um longo percurso de 3 décadas, nas quais se inserem na opinião de Walter Zanini as melhores fases da atividade de Di Cavalcanti, o MAC-USP apresenta 100 obras do artista falecido a 26 de outubro último, nas quais, “seus objetivos se orientam para realizações reverberantes de aspectos da vida nacional, observda por um espírito efervescente e livre”. É a homenagem do Museu a Di, que, em 1952, doou 562 desenhos, aquarelas e guaches, realizados no período de 1921 a 1952, ao antigo e primeiro Museu de Arte Moderna de São Paulo.


Desde 1953 – explica Zanini – essas obras pertencem ao MAC, a exemplo de uma série de pinturas – incluindo “O Beijo” de 1923 e “Pescadores” de 1951 – são oriundas também do MAM assim como da coleção de Francisco Matarazzo Sobrinho. Segundo o diretor do MAC o desenho se presta a uma revelação íntima do artista ajustando os domínios da sensoriedade aos da imaginação. “Autodidata enganchado a ecléticos princípios do modernismo europeu, atraído especialmente por Picasso, embora suas influências venham – no dizer de Sergio Milliet – mais de escolas que de indivíduos, Di Cavalcanti estabeleceu uma posição relacional entre esses valores e o seu “desenho interno”, impetuoso e sensual”. 

As idéias de Zanini foram debatidas durante duas horas, no auditório do MAC, com a coordenação de Fábio Magalhães e a participação de Anésia Pacheco Chaves, Carlos von Schimidt, Pedro Manuel Gismondi, Lisetta Levi, Cacilda Teixeira da Costa e muitos outros. Fugiu-se da discussão do mito de Di, como também da temática das mulatas. Foram abordados os aspectos inusitados da obra do artista, como suas idéias sociais e discursos plásticos, sua postura cultural frente aos movimentos de 22, 30 e outros, suas influências – que sempre assimilou e ampliou, sem se fixar ou deter – do expressionismo, cubismo e surrealismo, a preferência pela pintura urbana (ele vai sempre da praia ao mangue, anotou Fabio Magalhães), a sensualidade “negra, de sexo, de prazer” em sua obra, e muitos outros aspectos. Um debate repleto de dados e formulações novos com a presença de estudantes e jovens pesquisadores. 

O diretor Walter Zanini, ao final, anunciou o prosseguimento do estudo da obra de Di, quando o MAC reabrir – depois das férias habituais, em 1977, em março ou abril próximo. Folha de São Paulo Artes Visuais, domingo, 9 de janeiro de 1977.

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