segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

QUISSAK JR.

Quissak Jr. Está cansado, a um canto do Jequiti-Mar, no Guarujá. Suas 50 telas estão criteriosamente espalhadas na mansão da Praia de Pernambuco de Daisy e Jorge da Silva Prado. Quissak veio guiando seu carro pela manhã, desde Guaratinguetá, onde vive seu gênio de artista recluso e consciente, escultor e desenhista, pintor e professor. A bela gaúcha Wilma, sua mulher, veio junto. Ela não perde qualquer das mostras de Quissak, sejam em S. Paulo, na Chelsea Art Galeries; no rio, na Bonino; ou em Brasília, Santos ou Guarujá. Nem os filhos que, ao voltar da escola, vão desenhar e pintar junto ao pai, trocando tintas e estragando pincéis – Ernesto Neto, Wagner, Carla, Sérgio e Cláudio.

Quissak está de roupa esporte, apolíneo nos seus 36 anos, o rosto vincado è a sua obsessão pela arte, pela difusão da cultura, herdadas do pai, também esteta, professor, artista, conferencias e educador, Ernesto Quissak. Todos o escutam em suas crenças: 

– Creio no laboratório e na liberdade e creio no nosso tempo... Não quadriculo totalmente a criação furtando-lhe com preconceitos ou dogmas discutíveis sua beleza em trezentos e sessenta graus... Porém, sem fugir ao meu tempo do qual honra-me ser testemunha não abomino os outros tempos e a experiência sofridamente armazenada... Não creio em vanguarda tampouco retaguarda (em termos de Bem, Verdade e Beleza, a estratégia métrica torna-se ridícula)... Penso no sinal positivo e no reconhecimento do infinito... Não restrinjo, pois, a criação a considerações de posicionamento linear e horizontal... Vejo-as, isso sim, numa postura geométrica de absoluta verticalidade, positivamente definida mergulhando no mistério que linearmente desafia o gênero humano... Creio na objetividade das manifestações racionais, mas também creio na emoção, tortuosa, fasciculada, suava, morna ou desconcertante que veja – ambas compõe a “média e extrema razão” humana... Assim creio no moderno em termos de contemporâneo. 

Quissak Jr. explica sua arte. 

Maria de Lourdes Teixeira diz que muito breve ele será um dos mais famosos pintores do Brasil. Usa óleo, acrílico, guache holandês em suas telas. Gosta de desenhar a nanquim. Esculturas, madeira ou ferro. O atelier é amplo, comprou uma casa térrea antiga em Guará e etá reformando o velho prédio no estilo colonial. Pinta de manhã, à tarde e também à noite – às vezes passa mais de 24 horas trabalhando sem parar. Seus polípticos móveis da gênese do Pavilhão Nacional, composto de 5 óleos, a mais espetacular afirmação plástica e cívica do continente brasileiro na VIII Bienal segundo José Geraldo Vieira, está no Palácio dos Bandeirantes. Recentemente expôs em Chicago, Nova Iorque e através das Américas, mostra organizada pela Divisão Cultural do Ministério das Relações Exteriores. Arruma os cabelos bastos, fala: 

– Crendo no plástico, no aço inoxidável, na cinética e na eletrônica, não descreio do pigmento, da cor, do desenho, do papel, da tela e do pincel – velho e humilde herói que teimosamente continua cumprindo tal qual elétrodo a função de transladar e transmutar a energia armazenada em verdade visível e luz aprisionada... Crendo na indústria e na produção em série – contingencia natural do que se chama progresso – mantendo-me também crente no artesanato, ao humilde e antieconômico lavor, no qual a participação direta, táctil, sofrida e digital empresta o sentido de singular criação, pulando e respirando ao ritmo que é criada e não um produto industrial de largo e hipotético consumo... Creio na tecnologia e na sua colaboração às Artes, mas “apenas” tecnologia não produz Arte... Ao pretender “encampá-la” o resultado será uma obra de verdade científico-tecnológica, possivelmente colorida de beleza – e não uma obra estética tecnicamente bem realizada. 


 Quissak, que em sua casa come muito pouco, aceita um salgadinho. Em guará gosta de comida caseira, de uma boa costeleta de porco. Uísque, sempre, mas controlado. Quando não pinta é alegre, brincalhão, cordial, leva os filhos a passear. Não tem tido muito tempo, ultimamente, para as aulas de desenho e as conferências de divulgação da Arte. Sempre declara ter tido em seu pai seu único mestre e a sua influência romântica caracterizou-lhe a obra no início até os 12 anos de idade. 

Quissak, como o pai, é um profundo conhecedor desenho. Foi revelação nacional da VIII Bienal de São Paulo e ganhou um dos maiores prêmios na IX. 

Quissak Jr. expõe suas ideias de reumanização da arte, uma cruzada a que se dedica obstinadamente, pelejando qual D’Artagnan em sua trincheira de artista dialético e vivencial de Guaratinguetá. 

– Creio no consumo e na necessidade de comunicação... Porém não é a quantidade (programadamente produzida ou promocionalmente consumida) que levará a uma “maior” comunicação... Mergulhado ainda em seu mistério ainda indesvendável, caído do seu vôo breve, na sua real medida – o homem – ainda bípede racional e emocional estreante, continua cumprindo com suas funções fisiológicas, amando, rindo e chorando como há milênio – a ele o meu trabalho. 

Ernesto Sérgio Silva Quissak – Quissak Jr., nasceu em Guaratinguetá, a 18 de setembro de 1935. Filho de Elvira e Ernesto Quissak, educador e artista de projeção no Vale do Paraíba e em São Paulo nas primeiras décadas do século XX. Aprendeu desenho com seu pai e realizou seus estudos no Instituto de Educação Conselheiro Rodrigues Alves, formando-se professor em 1954 Iniciou-se no magistério no ano seguinte, efetivando-se em 1957 por concurso nas cátedras de Desenho Geral e Pedagógico. Pintor, desenhista, gravador, conferencista, artista da nova geração brasileira, rumo à consagração. 

OPINIÕES 

...Trata-se de um artista proustiano, no sentido da procura do tempo perdido – Harry Lauss. 

... Seus trabalhos são vanguaurdísticos, modernos, revolucionários. Só poderiam surgir das mãos de um artista com muita tarimba e isso mesmo em centros como Paris, Basiléia ou Nova Iorque – José Geraldo Vieira. 

... Quissak Jr. Retoma com todo peso e com invenção aquela tradição da vanguarda brasileira dos anos 20: a estupenda bandeira pau-brasil de Tarsila para o livro de Oswald, 1925 – Décio Pignatari. 

... Um artista jovem, rigorosamente caracterizado por uma tônica de Idéia e Confronto, cuja presença nestes últimos cinco anos fez-se polemicamente positiva nas bienais e salões – Jayme Maurício.

Um comentário:

  1. Olá tdo bem!!!
    Temos uma monotipia e uma xilogravura do saudoso e grande mestre, prof. Ernesto Quissak à venda.

    As duas obras p/a são assinadas e com dedicatórias de 1985.

    Obgd pela atenção
    José Ramos Neto
    Artesão de Guaratinguetá SP
    Tel zap 22 996046944

    ResponderExcluir